terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Filho de Machado de Assis - 12


Ao leitor, as batatas. À academia, nada.


                                                                                         Ronaldo Vinagre Franjotti


O Filho de Machado de Assis
Luiz Vilela – Ed. Record
2016, 128 p.

          Em sua mais recente novela, o mineiro Luiz Vilela mantém as marcas que o fizeram famoso mundo afora: diálogos incômodos e língua afiada. Seu principal alvo dessa vez é a academia literária e seu ranço idólatra. Nosso país, aliás, sempre sofreu por conta do culto à personalidade, a faceta moderna do famoso Sebastianismo português. Se o papel do escritor é iluminar o caminho escuro em épocas de adversidade, como afirma Érico Veríssimo em suas memórias, dir-se-ia que Vilela continua desempenhando de modo primoroso seu compromisso como ficcionista.
         A narrativa é montada, quase que exclusivamente, a partir de diálogos, outra marca da prosa do escritor e muito comum em outras novelas suas, como Bóris  e Dóris (2006). Aliás, em várias obras os diálogos de Vilela tematizam um duplo paradoxal. Em Bóris e Dóris, assim como no romance Graça (1989), o duplo é um casal incompatível. Nessa nova obra, o paradoxo é apresentado no choque de gerações: o velho e o novo, o professor e o aluno, o sábio e o tolo. Essa dualidade reflete, no fundo, a grande dicotomia da academia: Machado e seu leitor moderno.
         Os protagonistas da novela são o professor Simão – uma clara alusão à obra de Machado, visto que o nome da personagem e seu aspecto mentalmente doentio remetem diretamente ao protagonista homônimo da novela O Alienista (1881) – e Telêmaco, cujo nome remete ao filho mitológico de Ulisses que, na ausência do pai após a guerra de tróia, cresce carente de uma figura paterna. A relação dos protagonistas poderia ser assim resumida: um velho meio louco e um garoto ansioso por um pai.
         Não julgue o leitor que essa definição é demasiado agressiva ou grosseira.
        Outra marca da escrita de Vilela também muito presente nesse texto é o ataque frontal ao politicamente correto e às idealizações de qualquer espécie. Os diálogos não procuram mostrar apenas um par coeso numa perfeita relação paternal. Verdade que se percebe em Simão um ancião orgulhoso de seu prodígio que, por sua vez, sabe reconhecer o papel de educador e condutor do outro. Mas as falas dos dois expõem claramente também que essa relação é de desconfiança e subserviência. Simão é um velho professor amargo pela idade – “velho só serve para fazer chacota” (p. 18) – e pelas mazelas da vida acadêmica, repleta de inveja, mesquinharia e ingratidão. Mac, o pupilo narrador, é um admirador que, apesar do carinho quase filial – “Eu sou muito grato ao senhor por tudo que o senhor fez por mim” (p. 13) – se ressente de sua subserviência para com o antigo mestre – “Francamente: tinha hora que eu tinha vontade de mandar o professor àquilo...” (p. 10).
         Além de toda a problemática personalidade dos protagonistas, a novela traz como cereja do bolo uma revelação explosiva acerca do ídolo maior da ABL, uma grande descoberta que revolucionaria os centros acadêmicos e grupos de pesquisa: o bruxo do Cosme Velho tivera um filho às escondidas. O mote do filho bastardo serve a um duplo objetivo: estabelece a denúncia ao culto da personalidade machadiana – que o professor chama de “machadolatria” – e dá o tom niilista que perpassa os diálogos.
         Machado de Assis foi um dos fundadores da ABL e é, até hoje, um dos membros mais festejados. Preto e pobre, cresceu em graça e sabedoria para se tornar um dos maiores críticos, e retratadores, da elite carioca do fim do século XIX. Sua vasta obra é repleta de personagens icônicos que são retomados nessa “homenagem” de Vilela. Após promover uma busca por esses Easter Eggs, encontramos:
·             Brás Cubas – o defunto pessimista  de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) é o primeiro a ser lembrado, assim como sua negativa mor: “Não tive filhos, não transmiti a  nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.
·        Rubião – a figura do enfermeiro de Quincas Borba (1891) é apresentada aqui na persona da empregada Maria, a preciosa Rubiácea, que serve a Simão. 
·     Esaú e Jacó (1904) – nesse romance, Machado apresenta dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, que digladiam. Na novela, eles são representados por Simão e seu irmão Judete. 
·        O Alinenista – Como já mencionado, o protagonista Simão retoma essa novela machadiana, não apenas nas peculiaridades da personalidade de seu homônimo, mas também na ânsia de curar nossa gente. Se o herói de Machado quer a cura da loucura, o de Vilela quer a de nossa cegueira moral.
A desconstrução de mitos não para no escritor homenageado, ela prossegue numa ânsia niilista de exterminar qualquer valor, seja histórico (como Tiradentes) ou social (como o feminismo e o politicamente correto). Há também, sempre através dos diálogos, o aniquilamento de estereótipos como o do professor dedicado – que se revela um educador desiludido – e o do aluno admirador – que é, na verdade, um vassalo ressentido. 
Vale ressaltar que, acima de tudo, é o humor o veículo para todas essas críticas e reflexões, o que dá ao texto, mais uma vez, um caráter dúbio: cômico e reflexivo, leve mas profundo. 
Essa mistura continua fazendo da leitura das obras desse mineiro um deleite, ainda que também o faça um tormento. Seus textos unem o paradoxo da oratória assinalado pelo Pe. Antônio Vieira no Sermão da Sexagéxima, promovem tanto o prazer de ouvir um bom discurso quanto a reflexão necessária que deve advir de tal ato. Vilela quer nos encantar com sua narrativa dialógica sim, mas também quer que nos perguntemos sobre nossos valores e reflitamos sobre a ditadura do politicamente correto e sobre a idolatria dos grandes vultos. E esse questionamento deve durar até que nada reste. Por isso, aliás, o encerramento do livro – o último diálogo do narrador com sua namorada – é tão  sublime, epifânico até, eu diria:
“Bem”, eu disse, “o Machado teve um filho.”     
“Quem?”      
“O Machado de Assis.”      
“E daí?”, ela perguntou.      
“Daí”, eu respondi. “Daí nada.”  (p. 105).

sábado, 17 de dezembro de 2016

Sugestões de presentes de Natal


Livros

Livros são boas pedidas para qualquer Natal. Para os mais jovens, uma opção interessante é “O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares”(Intrínseca, R$ 45), de Ramsom Riggs, o primeiro título da trilogia que este ano foi levada aos cinemas por Tim Burton. As três obras da série já podem ser encontradas nas livrarias. 
Outra dica interessante para jovens é “Frida Kahlo” (Nemo, R$ 40), uma linda graphic novel de Jean-Luc Cornette com a história da artista mexicana. “Caviar É uma Ova” (Companhia das Letras, R$ 21), o novo livro de crônicas de Gregório Duvivier, tende a agradar os mais engajados. 


Para os mais intelectuais, há dois novos livros de grandes escritores mineiros dedicados à figura de Machado de Assis. Silviano Santiago lançou “Machado” (Companhia das Letras, R$ 59), em que narra os últimos dias do romancista, enquanto Luiz Vilela escreveu a ficção “O Filho de Machado de Assis” (Record, R$ 29) – por sinal, este ano saiu a segunda edição de “Três Histórias Fantásticas” (Sesi-SP Editora, R$39), também de Vilela.

Se você estiver em busca de um presentão, uma sugestão é fazer uma assinatura para alguém do clube de leitura TAG (taglivros.com). São R$ 69,90 mensais. 
Mesmo que o seu presenteado não seja um super amante da leitura, ainda assim é possível encontrar opções nas livrarias. Para pessoas que estão em busca de uma vida saudável, por exemplo, vale a pena ficar de olho nos lançamentos da Editora Alaúde. “De Olho na Saúde – Ciência e Tradições Milenares para uma Vida Mais Saudável” (R$ 25), de Heloisa Bernardes, e “Spa em Casa – Saúde pela Alimentação” (R$ 30), de Márcia Regina Dal Medico, são algumas opções.

                                                                                                                                                   
                                                                                                                                                 by Cinthya Oliveira

Confira outras sugestões de presentes:
http://hojeemdia.com.br/almanaque/para-todos-confira-as-nossas-sugest%C3%B5es-de-presentes-de-natal-1.434759



sábado, 10 de dezembro de 2016

O Filho de Machado de Assis - 11

http://oglobo.globo.com/cultura/livros/critica-luiz-vilela-em-um-dialogo-bem-humorado-cheio-de-nuances-20618941#ixzz4STeQI6m0 

Crítica: Luiz Vilela em um diálogo bem-humorado e cheio de nuances

Novela ‘O filho de Machado de Assis’ traz a história do professor Simão e seu aluno Mac



POR 





O escritor Luiz Vilela por Cássio Loredano - Loredano

RIO - O mineiro Luiz Vilela é uma das raras unanimidades na literatura brasileira: agrada tanto aos eruditos como ao grande público, aquele que muitas vezes busca na literatura um entretenimento, algo que o faça esquecer por algum tempo a monotonia do cotidiano.

Ele consegue tal façanha graças a uma preciosa junção de escrever bem, produzindo textos fluidos e diálogos primorosos, com um mergulho na condição humana em suas múltiplas facetas. Desde o seu livro de estreia, “Tremor de Terra”, publicado aos 24 anos, Vilela não parou mais de escrever e foi aos poucos apurando sua maneira peculiar de observar e transmitir suas impressões sobre o mundo.

A novela “O filho de Machado de Assis” é um diálogo bem-humorado e cheio de nuances entre o velho professor Simão e seu ex-aluno Mac. O professor afirma, com certeza categórica, mas sem revelar suas fontes, que Machado, que não deixou descendentes conhecidos, teve um filho. E chega a fantasiar que encontrou por acaso um motorista de táxi parecidíssimo com o escritor e que seria um de seus bisnetos ou tataranetos. Na realidade, o filho do escritor funciona nesta novela principalmente como um pretexto para discutir temas como a força da palavra, as muitas faces daquilo que é estabelecido como verdadeiro, a idolatria aos autores consagrados e também as fantasias que se escondem dentro da cabeça de cada um de nós, como um trem de ferro que acelera continuamente e não nos deixa em paz. O mofo dos velhos livros e manuscritos da Biblioteca Nacional, que tanto incomoda o aluno alérgico, é visto pelo professor como o cheiro da alma dos autores mortos.

O professor se esmera em contestar e ataca a chamada verdade histórica, que nos faz aceitar como verdadeira ao longo do tempo uma versão que, de repente, é contestada, desestruturando boa parte das bases do nosso conhecimento. O velho Simão vai fundo neste caminho e isto permite ao autor brincar com as palavras tendo como base, entre outros, personagens históricos como Tiradentes, que talvez nem tenha morrido na forca. Aqui nada é o que parece e tudo é um pretexto para duvidar e debochar de tudo e de todos. A moça que fala errado e diz “bissolutamente” em vez de “absolutamente” é um exemplo sintomático de como as palavras podem ser traiçoeiras e nos pegar pelo pé.

O professor Simão e seu aluno Mac são personagens consistentes, verossímeis em suas obsessões, entre as quais algumas das mais expressivas são as tentativas de brincar de desmontar significados e também a crítica corrosiva aos termos politicamente corretos.

Os mais rigorosos poderão dizer que “O filho de Machado de Assis” não acrescenta muito à obra consolidada de Luiz Vilela. E quem espera achar nesta novela profundas reflexões sobre a vida e os relacionamentos humanos talvez se decepcione. Mas é possível encontrar e apreciar nela uma linguagem bem cuidada e precisa e momentos inspirados de humor e sarcasmo, como a afirmação de que a cultura não confere caráter a ninguém, assim como a batina e o hábito não significam necessariamente santidade. Mais adiante o alvo passa a ser o universo do saber estabelecido. “O mundo acadêmico é isto”, afirma o professor, “sob as luvas de pelica, as garras da fera; por trás dos sorrisos, as presas, prontas para morder”.

*Elias Fajardo é escritor e jornalista, autor do romance “Belo como um abismo”, finalista do prêmio Jabuti 2015

“O filho de Machado de assis”
Autor: Luiz Vilela
Editora: Record
Páginas: 128
Preço: R$ 39,90
Cotação: Bom

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O Filho de Machado de Assis - 10

https://anovacritica.wordpress.com/2016/10/22/a-literatura-enquanto-teste-de-dna/


A LITERATURA ENQUANTO TESTE DE DNA
Foi um professor quem descobriu, há cerca de um mês, que a antologia poética Crisálidas não seria a estreia literária de Machado de Assis. Investigando jornais da segunda metade dos anos 1800, o docente da Universidade Federal de São Carlos topou com anúncios que antecipavam o lançamento de Livro dos vinte anos, uma “coleção de versos” de um “moço de talento viçoso e original”, que “enceta apenas a carreira das letras”. Sem precedente em biografias do escritor, o fato gerou discussões no meio literário.

Ocorre que agora um fato ainda mais escandaloso, relacionado ao passado do bruxo do Cosme Velho, acaba de vir à luz. A descoberta também foi feita por um professor, e, da mesma forma, ao investigar papéis antigos numa pesquisa de biblioteca. De repente, estava ali, numa passagem. A notícia das notícias: Machado de Assis tivera um filho!
“Um filho? Machado?”“Sim, senhor: Machado de Assis.”“Mesmo, professor?”“Mesmo; mesmíssimo.”“Não é aquela história dele com a mulher de José de Alencar…”“Não, não; aquilo é fofoca, isso aqui é real, é fato.”“Caraca!…”“É espantoso, não é?”“Espantosíssimo!”
A revelação é o mote da divertida novela O filho de Machado de Assis, do mineiro Luiz Vilela. O premiado escritor dá voz ao professor Simão Serapião, um octogenário amalucado, ressabiado e um tanto neurastênico, que, ao tomar conhecimento de que “o nosso Joaquim Maria teve um Joaquinzinho”, telefona para o aluno Telêmaco (procure, leitor, referência na mitologia grega), o Mac, no momento em que este se prepara para ir à praia com a namorada. A exaltação do professor, no entanto, retarda o programa (a muito contragosto de Luana, a namorada), arrastando-o até o apartamento do velho, onde se desenrola a narrativa, constituída, basicamente, por diálogos.
“O mundo acadêmico: gente que escreveu livros inteiros explicando a obra do Bruxo pela ausência de filhos… E agora, com que cara eles vão ficar?”
A contraprova é a frase final de Memórias póstumas de Brás Cuba: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”, entendida, durante um século, como uma confissão do autor para não ter deixado herdeiro. A mentira leva, então, a uma longa conversa em que se discute a vida de Machado, seus relacionamentos, as puladas de cerca e, até mesmo, sua sexualidade. As hipóteses vão se acumulando sem empreender resposta, muito porque o professor, confiando ao mesmo tempo que desconfiando do aluno, não revela a origem da prova, em qual “papelada antiga” encontra-se a certeza da paternidade.
“Me desculpe, meu caro: apesar de toda a minha confiança em você, confiança que ainda há pouco acabei de reiterar, eu não vou dar os detalhes do que eu quero lhe contar. Para lembrar outra expressão popular, eu vou contar o milagre; o santo fica para depois…”
Ainda que dito e repetido, nunca é demais enaltecer a fluência dos diálogos de Vilela. O escritor reúne todas as qualidades que o colóquio entre personagens deve apresentar: dinâmica, leveza, expressividade e, acima de tudo, convencimento (n. do resenhista: morro de inveja do conto “Suzy”). Seu texto parece ser resultado de algumas horas, diante de tamanha simplicidade e magnetismo, mas a maestria está justamente na perícia em fazer o simples e, do simples, gerar o magnético.
Desse modo (vide o conto “A cabeça”), a potência não está no começo ou no fim, mas na extensão que completa esses dois pontos (n. do resenhista 2: os diálogos finais são de um esvaziamento brilhante). Outra marca da ficção de Vilela são os subtextos incorporados às suas histórias. Aqui, o escritor mineiro trata das contrariedades contemporâneas. O interesse sórdido pela vida alheia acomodado à patrulha do politicamente correto; a sociedade que se refestela em polêmicas, sem se ater à veracidade do fato; as intermináveis discussões rasas que não levam a lugar algum. Tudo temperado com uma ironia refinada e um humor zombeteiro.
“Não se iluda, meu caro, não se iluda: cultura não confere caráter a ninguém, da mesma forma que batina e hábito a ninguém confere santidade.”
“A cultura às vezes até refina e amplia o que há de pior numa pessoa.”
Aliás, quem se importa qual foi o primeiro livro escrito por Machado?
***
Livro: O filho de Machado de Assis
Editora: Record
Avaliação: Muito Bom

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O Filho de Machado de Assis - 9

São Paulo Review



Literatura - Ensaios - Livros


SINOPSES

_luizvilela
Oprofessor Simão tem uma emergência para tratar com um de seus ex-alunos, a quem liga no meio de um feriadão e convoca para ir até a sua casa. Mac abdica da praia num dia de sol e atende ao pedido do professor, contrariando sua namorada. A urgência é literária: Simão descobriu, numa de suas inúmeras visitas à biblioteca pública da cidade, que Machado de Assis, ao contrário do que diz suas biografias e negando a última frase de “Memórias póstumas de Brás Cubas” (“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”), teve um filho sim, provavelmente antes do casamento com Carolina.
O filho de Machado de Assis, de Luiz Vilela (Record, 127 págs.)

domingo, 4 de dezembro de 2016

JOÃO ANTÔNIO E LUIZ VILELA

Há 20 anos morria João Antônio, o autor de Malagueta, Perus e Bacanaço, Leão-de-Chácara e Abraçado ao Meu Rancor, além de outros livros. Natural de São Paulo, o escritor morava havia muitos anos no Rio e foi encontrado morto em seu apartamento no dia 31 de outubro de 1996.

João Antônio e Luiz Vilela se conheceram em 1968, em São Paulo, quando Vilela trabalhava no Jornal da Tarde. Ficaram então amigos, amizade que perdurou até a morte do escritor.

Em  1977, por indicação de Vilela, João Antônio foi a Ituiutaba, para participar de uma feira de livro. Dela também participaram  Ary Quintella, do Rio, e Wander Piroli, de Belo Horizonte. A foto abaixo registra um momento da feira em que os quatro escritores aparecem, reunidos: da esquerda para a direita, Quintella, João Antônio, Vilela e Piroli.

           Algum tempo depois dessa visita, João Antônio escreveu a Vilela uma carta, que, além de um bilhete, a seguir reproduzimos em memória dos 20 anos.



 
 

sábado, 3 de dezembro de 2016

Trabalho analisa romances de Luiz Vilela, Lima Barreto e Miguel Sanches Neto

O artigo "Três momentos do roman à clef na literatura brasileira: uma leitura a partir do cronotopo bakhtiniano", da doutoranda em Letras na UFMS/Três Lagoas e integrante do GPLV Pauliane Amaral, analisa os romances Recordações do escrivão Isaias Caminha (1909), O inferno é aqui mesmo (1979), e Chá das cinco com o vampiro (2010), para esboçar um percurso do roman à clef na literatura brasileira desde o início do século XX. O trabalho resulta de uma comunicação feita no 63º Seminário do GEL, realizado em Campinas/SP, de 7 de Julho a 9 de Julho de 2015.

Definido com um gênero romanesco cujas bases foram lançadas ainda no século XVII por Madeleine de Scudéry, o roman à clef é um tipo de romance em que pessoas e eventos reais aparecem sob nomes fictícios. A análise tem como suporte teórico o conceito de cronotopo, apresentado por Mikhail Bakhtin no ensaio “Formas de tempo e de cronotopo no romance. Ensaios de poética histórica” (1937-1938), publicado no Brasil no livro Questões de literatura e estética: a teoria do romance (2014). O cronotopo é “a interligação fundamental das relações temporais e espaciais, artisticamente assimiladas em literatura” (BAKHTIN, 2014, p. 211).


Em uma das conclusões do artigo, a autora aponta que o roman à clef joga com a oposição entre o espaço público e o privado quando expõe a verdadeira face escondida por trás da máscara social que cada personagem carrega (com exceção do narrador que, com o olhar distanciado no tempo, se encontra apto a julgar a si mesmo e a outras personagens). Outra conclusão é de que a posição de demiurgo, compartilhada pelos protagonistas dos três romances, é reforçada pela posição privilegiada de narrador autodiegético.

Para ler o artigo completo clique aqui.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

I Congresso do GPLV - Convocação

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE REUNIÃO DO GPLV

CONVOCAÇÃO

Ficam convocados os integrantes do GPLV - Grupo de Pesquisa Luiz Vilela​, e convidados os demais interessados,​ para o

​I CONGRESSO DO GPLV,


​que ocorrerá ​no dia 12 de dezembro, segunda-feira, ​na ​Sala do 4º ano, no Câmpus 1 da UFMS de Três Lagoas, às 13h, para discutir e deliberar sobre a proposta de atualização do Projeto de Pesquisa e nomenclatura do GPLV de Grupo de Pesquisa Luiz Vilela para GPLV - Grupo de Pesquisa Literatura e Vida

​.​

Três Lagoas, ​2 de dezembro de 2016.
Rauer Ribeiro Rodrigues/​Líder do GPLV
Eunice Prudenciano de Souza/Co-​Líder do GPLV

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O Filho de Machado de Assis - 8


Entretenimento

Escritor mineiro cria herdeiro imaginário de Machado de Assis

O escritor mineiro Luiz Vilela está entre os maiores contistas e romancistas brasileiros
O escritor mineiro Luiz Vilela lançou, recentemente, o livro “O filho de Machado de Assis” (Ed. Record; 128 páginas; R$ 37,50). Essa é a 32ª obra do autor, que possui vasta produção de romances e livros de contos.
No novo trabalho ficcional de Vilela, o enredo é desenvolvido entre os pressupostos levantados pelo Professor Simão e seu aluno Mac sobre a possibilidade de que existe um herdeiro de Machado de Assis, na contramão do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, do próprio Machado de Assis, que finalizava a obra afirmando: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.
A narrativa seca e direta e diálogos marcantes são características do trabalho de Vilela. Aos 73 anos, o autor reside atualmente em Ituiutaba, sua cidade natal, onde se dedica à produção literária. Em 2014, ele foi o autor homenageado na 3ª edição do Festival Literário de Araxá (Fliaraxá), por ser um dos maiores contistas e romancistas do País.
Na ocasião, comentou com a reportagem do CORREIO de Uberlândia sobre seu processo de criação. “Nunca tirei férias da literatura, a inspiração vem a qualquer hora. Escrevo tudo à mão, depois datilografo e só depois passo para a máquina de escrever”, disse ele ao repórter Pablo Pacheco.
http://www.correiodeuberlandia.com.br/entretenimento/escrito-mineiro-cria-herdeiro-imaginario-de-machado-de-assis/

sábado, 26 de novembro de 2016

Artigo aborda aspectos zooliterários em Manuel Bandeira e Luiz Vilela


     Partindo do pressuposto de que, em textos literários, “os animais, os objetos e os conceitos que nele desempenhem funções de agentes se encontram inevitavelmente antropomorfizados, mesmo que só implicitamente, porque o homem projeta neles os seus valores ou exprime através deles os seus valores (que podem ser os valores de um anti-humanismo)” (Vitor Manuel Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, 8ª ed., 2007, p. 694), as autoras do artigo “O animal como figura representativa do descompasso amoroso e da solidão humana” abordam a relação entre homem e animal na literatura brasileira através da análise do poema “Porquinho-da-índia”, de Manuel Bandeira, e do conto “Zoiuda”, de Luiz Vilela.

  O trabalho, publicado na revista Estação Literária, é de autoria de Eunice Prudenciano de Souza e Pauliane Amaral, integrantes de GPLV, e apresenta a proposição de que tanto o porquinho-da-índia do poema de Bandeira quanto a lagartixa do conto de Vilela apresentam qualidades que revelam a necessidade de afeto gerada pela incomunicabilidade e solidão; esses aspectos marcam tanto a enunciação do sujeito lírico do poema quanto a psicologia da personagem do conto. Antropomorfizados na figura de uma mulher, a quem imaginariamente substituem, esses animais desvelam o descompasso amoroso que marca a trajetória dos sujeitos do poema de Bandeira e do conto de Vilela.  

     Para conferir o artigo completo clique aqui.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Integrantes do GPLV participam do Encontro de Iniciação Científica da UFMS

Igor Iuri Dimitri Nakamura e Mateus Antenor Gomes, orientandos da Prof.ª Dr.ª Kelcilene Grácia-Rodrigues e integrantes do GPLV, apresentaram seus trabalhos de PIBIC no Encontro de Iniciação Científica da UFMS, na manhã de ontem, 23 de novembro, no Câmpus 1 da UFMS de Três Lagoas. Igor falou sobre “A Fortuna Crítica da coletânea Tremor de terra, de Luiz Vilela” e Mateus sobre “A Fortuna Crítica do romance Os novos, de Luiz Vilela”.
Abaixo, registros de suas apresentações:
Igor Iuri Dimitri Nakamura

Mateus Antenor Gomes

domingo, 20 de novembro de 2016

O filho de Machado de Assis - 7

"E daí?" − Daí nada.


Luiz Vilela
Rio de Janeiro: 
Ed. Record, 2016


Tamas Ribeiro Coelho de Souza *


Conheço pouco, ou quase nada, do autor, Luiz Vilela. Lembro vagamente do nome, talvez por causa daquela coleção paradidática tão famosa na minha adolescência, "Para Gostar de Ler", que reunia contos de diversos autores brasileiros. Esta ignorância tanto pode ser uma vantagem ─ evita pré-julgamentos ─ quanto desvantagem ─ cria expectativas distorcidas ou exageradas.
No caso, foi um pouco dos dois. Influenciado pelo título do livro, esperava algo como um romance histórico, cheio de referências a um Rio de Janeiro da época de Machado, talvez uma trama meio detetivesca, envolvendo segredos e intrigas, conduzida por um investigador diferente, um professor, um bibliotecário.
Não errei de todo, embora o livro esteja longe de qualquer uma das duas coisas. Através do ponto de vista de Mac, um jovem formado em Letras, ficamos sabendo da descoberta da existência de um filho de Machado de Assis pelo professor Simão, espécie de tutor de Mac. A história é narrada quase que de uma tomada só, através de um extenso diálogo entre os dois.
O que poderia ser um problema ─ minhas expectativas foram quebradas ─ transforma-se em uma prazerosa leitura. A história é narrada em ritmo bastante ágil: diálogos precisos e curtos, parágrafos pequenos, descrições breves. Difícil encontrar qualquer informação ou dado inútil; tudo parece se encaixar. Mesmo dados históricos, não raro cansativos em romances, no geral meras desculpas para exibição de conhecimento, aqui cumprem uma função: ajudam a ambientar o leitor, talvez não tão conhecedor de literatura, a entender a relevância da descoberta. Não tem somente esta função: o diálogo se dá entre dois profissionais de Letras e o assunto é literatura, logo é razoável que haja menções e referências à área.   
O fato de ser um diálogo quase ininterrupto também não cansa. Há digressões de Mac, o aluno, que tanto contribuem para conhecer melhor a personagem quanto ajudam no ritmo da história. Do mesmo modo, a conversa entre professor e pupilo flui de forma natural: há piadas bobas, ironias, trocadilhos toscos, apelidos, mudanças de assunto. Enfim, tudo que faz parte de um bate-papo entre amigos.
É através desse diálogo que conhecemos melhor os dois: Mac, o aluno, e o professor Simão. O primeiro é jovem, bem-humorado, parece não estar tão interessado na descoberta do professor, talvez suspeitando que haja ali delírios ou exageros do velho. Compreende bem o mestre, ouve-o com paciência, faz diversas perguntas, e abusa das brincadeiras para descontrair. Simão é quase o oposto: sisudo, bem idoso, leva bastante a sério sua descoberta e pesquisa. Esforça-se o tempo todo para evitar revelações sobre sua descoberta, o que acaba virando uma espécie de piada interna entre ambos.
Há outros detalhes que ajudam a conhecer melhor as personagens; o professor, às vezes um pouco estereotipado, usa palavras antiquadas: "erada", "sodalício", "rubinácea". No entanto, o que mais chama a atenção é a total ausência de uma linguagem politicamente correta, o que causa uma espécie de apreensão em Mac, que a todo momento tenta corrigi-lo. O professor abusa de palavras e comentários que hoje em dia soam preconceituosos.
Nada disso é gratuito, nem o professor é um velho racista ou homofóbico, como uma leitura enviesada e burra poderia achar. Na verdade, é só um traço comum de sua avançada idade. O diálogo ─ com seus muitos  comentários filosóficos sobre a vida, casos sobre outras pessoas, digressões do professor que acabam por irritar Mac ─ constroem um personagem idoso verossímil, com manias, cacoetes e rabugices próprios dos octogenários.
 Também vamos conhecendo melhor Mac, a princípio irônico e condescendente com um velho professor, e que demonstra carinho real pelo mestre. Seus comentários ao longo da narrativa, quase como que seus pensamentos expostos em simultaneidade à cena, evitam o cansaço de um diálogo quase que ininterrupto e nos ajudam a entender o protagonista.  
Assim, entre piadas, comentários literários e a descrição da descoberta do professor, o enredo se desdobra sem desgastar o leitor e vai se encaminhando para um final que, bem diferente das minhas expectativas iniciais, se mostra quase que inevitável pelo andar da narrativa. E aí fica um porém: a resolução do drama, até por certo inexorável pela trama que o autor escolheu, se mostra um pouco forçada  introduzida quase que no final, prejudica o desfecho, não pelo anticlímax, mas pela previsibilidade.
Tal aspecto, porém, nem de longe invalida a leitura da novela, que, partindo de uma premissa muito interessante, chama certamente a atenção de qualquer leitor, conhecedor de Vilela ou não. Acaba sendo uma aula de como contar uma história de maneira eficaz, prazerosa, sem pretensões exageradas, sejam de caráter histórico, filosófico ou moral. Luiz Vilela parece simplesmente querer reproduzir o diálogo entre dois amigos, entre um aluno e seu mestre, da forma mais natural possível, o que faz com maestria. Para os que encontram nisto um demérito, talvez como Luana, a namorada de Mac, que ao ser informada da descoberta do professor reage com um sonoro "E daí?", deixo a mesma resposta de Mac: "Daí nada".

* Tamas Ribeiro Coelho de Souza,
Especialista em Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa pela UFF, professor de inglês na empresa Cultura Inglesa- RJ, tamasrj@gmail.com