O artigo "Três momentos do roman à clef na literatura brasileira: uma leitura a partir do cronotopo bakhtiniano", da doutoranda em Letras na UFMS/Três Lagoas e integrante do GPLV Pauliane Amaral, analisa os romances Recordações do escrivão Isaias Caminha (1909), O inferno é aqui mesmo (1979), e Chá das cinco com o vampiro (2010), para esboçar um percurso do roman à clef na literatura brasileira desde o início do século XX. O trabalho resulta de uma comunicação feita no 63º Seminário do GEL, realizado em Campinas/SP, de 7 de Julho a 9 de Julho de 2015.
Definido com um gênero romanesco cujas bases foram lançadas ainda no século XVII por Madeleine de Scudéry, o roman à clef é um tipo de romance em que pessoas e eventos reais aparecem sob nomes fictícios. A análise tem como suporte teórico o conceito de cronotopo, apresentado por Mikhail Bakhtin no ensaio “Formas de tempo e de cronotopo no romance. Ensaios de poética histórica” (1937-1938), publicado no Brasil no livro Questões de literatura e estética: a teoria do romance (2014). O cronotopo é “a interligação fundamental das relações temporais e espaciais, artisticamente assimiladas em literatura” (BAKHTIN, 2014, p. 211).
Em uma das conclusões do artigo, a autora aponta que o roman à clef joga com a oposição entre o espaço público e o privado quando
expõe a verdadeira face escondida por trás da máscara social que cada personagem
carrega (com exceção do narrador que, com o olhar distanciado no tempo, se encontra
apto a julgar a si mesmo e a outras personagens). Outra conclusão é de que a posição de demiurgo, compartilhada pelos protagonistas dos três romances, é reforçada
pela posição privilegiada de narrador autodiegético.
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