quarta-feira, 3 de setembro de 2014

MEMBROS DO GPLV APRESENTAM TRABALHOS NO CIELLI


Membros do GPLV participaram do CIELLI – 3º Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários. O evento ocorreu na UEM – Universidade Estadual de Maringá –, nos dias 27, 28 e 29 de agosto, reunindo pesquisadores e estudiosos de todo o país. Os trabalhos do grupo foram apresentados no Simpósio O CÍRCULO DE BAKHTIN: PROSA/POESIA, coordenado pelo líder do GPLV, Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS), e pela Prof. Dra. Grenissa Bonvino Stafuzza (UFG). No segundo dia do evento, Eunice Prudenciano de Souza e Ângela Nubiato Lopes apresentaram a comunicação O MUNDO CARNAVALIZADO EM CONTOS DE LUIZ VILELA, e Lígia Ribeiro de Souza Zotesso apresentou A “CONFISSÃO” POLIFÔNICA DE LUIZ VILELA. No último dia, Rauer Ribeiro Rodrigues e Karina Torres Machado apresentaram CARNAVALIZAÇÃO E GROTESCO EM DOIS CONTOS DE LUIZ VILELA. Os trabalhos apresentados geraram discussão e debates. Seguem, abaixo, os resumos das comunicações:


O MUNDO CARNAVALIZADO EM CONTOS DE LUIZ VILELA
Eunice Prudenciano de Souza/Ângela Nubiato Lopes

Resumo: Analisamos a solidão e o desajuste do ser humano na sociedade contemporânea em dois contos de Luiz Vilela: “No bar”, de No bar (1968), e “O buraco”, de Tremor de terra (1967). A partir dos conceitos de carnavalização e grotesco romântico, verificamos como o autor aborda o mote nesses contos e como se dá a relação mundo exterior e interioridade em suas personagens. Para Bakhtin, “o grotesco romântico é um grotesco de câmara, uma espécie de carnaval que o indivíduo representa na solidão, com a consciência aguda de seu isolamento.” Consciente de sua condição, o ser transgride os limites da racionalidade, havendo a dessacralização do lado oficial da vida, com suas normas, regras e condutas estabelecidas, e, em decorrência, os limites todos se relativizam. No conto “No bar”, a personagem Lúcio, consciente da incomunicabilidade de todos os seres, sofre pelo imenso contraste entre a vida idealizada e o meio que o circunda. Diante de seu descompasso, a loucura é a forma encontrada para sobreviver em meio à realidade dilacerante. O conto “O buraco” gira em torno dos conflitos do narrador-personagem Zé que, em crise existencial, cava um buraco e, aos poucos, vai se afastando do mundo exterior, metamorfoseando-se em tatu. Em decorrência da eterna inadaptação humana, a transgressão e o mascaramento são recorrentes na obra de Vilela, pois, ao despir o ser de sua real identidade, relativiza a verdade, celebrando a mudança e a renovação do mundo, inverte e transveste, opondo-se a todas as hierarquias e imutabilidades sociais.

A “CONFISSÃO” POLIFÔNICA DE LUIZ VILELA
Lígia Ribeiro de Souza Zotesso

Resumo: Em Problemas da Poética de Dostoievski (2002), Mikhail Bakhtin descreve a polifonia como uma estrutura dialógica em que várias vozes equipolentes se manifestam em um único texto. Dessa forma, o discurso se constitui a partir de outros discursos, ambos relacionados ao caráter ideológico representado pelos sujeitos em interação. A partir da polifonia, nos termos conceituais propostos por Bakhtin, empreendemos análise acerca do processo polifônico presente no conto ”Confissão”, do livro Tremor de Terra (1967), de Luiz Vilela. Assim, as informações implícitas em um texto, são como dispositivos que proporcionam ao leitor possibilidades de conexões e de hipóteses a respeito do objeto intencionado. No conto "Confissão", as vozes são representadas e demarcadas ideologicamente através da perspectiva do leitor e designadas como tema central: a confissão. Com isso, nossa proposta visa identificar, também, como a polifonia se instaura diante da recepção estética do conto em questão. Nossa fundamentação teórica, além do conceito de polifonia (BAKHTIN, 2002), se volta para as Teorias da Recepção, em especial para a Estética da Recepção (JAUSS, 1994) e a Teoria do Efeito Estético (ISER, 1996; 1999a; 1999b).

CARNAVALIZAÇÃO E GROTESCO EM DOIS CONTOS DE LUIZ VILELA
Rauer Ribeiro Rodrigues/Karina Torres Machado

Resumo: O escritor mineiro Luiz Vilela, em diferentes momentos de sua trajetória de ficcionista, abordou temas religiosos sob a ótica satírica, seja em novelas como O Choro no Travesseiro (1979) ou Bóris e Dóris (2006), seja em romances como Graça (1989) ou Perdição (2011), seja em contos como “Espetáculo de fé”, da coletânea Tremor de Terra (1967), ou “Freiras em férias”, de A Cabeça (2002). Neste trabalho, voltamo-nos para o contista, para verificar, nos dois contos elencados, ainda que com menções a outras narrativas de Vilela, os conceitos do Círculo de Bakhtin relacionados à carnavalização e ao realismo grotesco, para verificar os efeitos construídos pelos contos e, a partir da ideologia subjacente a eles, indiciar aspectos da cosmovisão autoral. A nosso ver, a dessacralização do religioso, a invocação de elementos do baixo ventre e as muitas cenas que descrevem um mundo que parece às avessas indicam, pelo riso literário, crítica de costumes, crítica às instituições religiosas e efeito derrisório que visa o cerne do humano, em suas contradições como sujeito e na sua instável identidade social.

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