Membros
do GPLV participaram do CIELLI – 3º Colóquio
Internacional de Estudos Linguísticos e Literários. O evento ocorreu na UEM –
Universidade Estadual de Maringá –, nos dias 27, 28 e 29 de agosto, reunindo
pesquisadores e estudiosos de todo o país. Os trabalhos do grupo foram
apresentados no Simpósio O CÍRCULO DE BAKHTIN: PROSA/POESIA, coordenado pelo líder
do GPLV, Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS), e pela Prof. Dra. Grenissa
Bonvino Stafuzza (UFG). No segundo dia do evento, Eunice Prudenciano de Souza e
Ângela Nubiato Lopes apresentaram a comunicação O MUNDO CARNAVALIZADO EM CONTOS
DE LUIZ VILELA, e Lígia Ribeiro de Souza Zotesso apresentou A “CONFISSÃO”
POLIFÔNICA DE LUIZ VILELA. No último dia, Rauer Ribeiro Rodrigues e Karina
Torres Machado apresentaram CARNAVALIZAÇÃO E GROTESCO EM DOIS CONTOS DE LUIZ
VILELA. Os trabalhos apresentados geraram discussão e debates. Seguem, abaixo,
os resumos das comunicações:
O MUNDO CARNAVALIZADO EM CONTOS DE LUIZ VILELA
Eunice
Prudenciano de Souza/Ângela Nubiato Lopes
Resumo: Analisamos
a solidão e o desajuste do ser humano na sociedade contemporânea em dois contos
de Luiz Vilela: “No bar”, de No bar (1968), e “O buraco”, de Tremor
de terra (1967). A partir dos conceitos de carnavalização e grotesco
romântico, verificamos como o autor aborda o mote nesses contos e como se dá a
relação mundo exterior e interioridade em suas personagens. Para Bakhtin, “o
grotesco romântico é um grotesco de câmara, uma espécie de carnaval que o
indivíduo representa na solidão, com a consciência aguda de seu isolamento.”
Consciente de sua condição, o ser transgride os limites da racionalidade,
havendo a dessacralização do lado oficial da vida, com suas normas, regras e
condutas estabelecidas, e, em decorrência, os limites todos se relativizam. No
conto “No bar”, a personagem Lúcio, consciente da incomunicabilidade de todos
os seres, sofre pelo imenso contraste entre a vida idealizada e o meio que o
circunda. Diante de seu descompasso, a loucura é a forma encontrada para sobreviver
em meio à realidade dilacerante. O conto “O buraco” gira em torno dos conflitos
do narrador-personagem Zé que, em crise existencial, cava um buraco e, aos
poucos, vai se afastando do mundo exterior, metamorfoseando-se em tatu. Em decorrência
da eterna inadaptação humana, a transgressão e o mascaramento são recorrentes
na obra de Vilela, pois, ao despir o ser de sua real identidade, relativiza a verdade,
celebrando a mudança e a renovação do mundo, inverte e transveste, opondo-se a
todas as hierarquias e imutabilidades sociais.
A “CONFISSÃO” POLIFÔNICA DE LUIZ VILELA
Lígia
Ribeiro de Souza Zotesso
Resumo: Em Problemas
da Poética de Dostoievski (2002), Mikhail Bakhtin descreve a polifonia
como uma estrutura dialógica em que várias vozes equipolentes se manifestam em
um único texto. Dessa forma, o discurso se constitui a partir de outros
discursos, ambos relacionados ao caráter ideológico representado pelos sujeitos
em interação. A partir da polifonia, nos termos conceituais propostos por
Bakhtin, empreendemos análise acerca do processo polifônico presente no conto
”Confissão”, do livro Tremor de Terra (1967), de Luiz
Vilela. Assim, as informações implícitas em um texto, são como dispositivos que
proporcionam ao leitor possibilidades de conexões e de hipóteses a respeito do
objeto intencionado. No conto "Confissão", as vozes são representadas
e demarcadas ideologicamente através da perspectiva do leitor e designadas como
tema central: a confissão. Com isso, nossa proposta visa identificar, também,
como a polifonia se instaura diante da recepção estética do conto em questão.
Nossa fundamentação teórica, além do conceito de polifonia (BAKHTIN, 2002), se
volta para as Teorias da Recepção, em especial para a Estética da Recepção (JAUSS,
1994) e a Teoria do Efeito Estético (ISER, 1996; 1999a; 1999b).
CARNAVALIZAÇÃO E GROTESCO EM DOIS CONTOS DE LUIZ
VILELA
Rauer
Ribeiro Rodrigues/Karina Torres Machado
Resumo: O
escritor mineiro Luiz Vilela, em diferentes momentos de sua trajetória de
ficcionista, abordou temas religiosos sob a ótica satírica, seja em novelas
como O
Choro no Travesseiro (1979) ou Bóris e Dóris (2006), seja em
romances como Graça (1989) ou Perdição (2011), seja em contos como
“Espetáculo de fé”, da coletânea Tremor de Terra (1967), ou “Freiras
em férias”, de A Cabeça (2002). Neste trabalho, voltamo-nos para o contista,
para verificar, nos dois contos elencados, ainda que com menções a outras
narrativas de Vilela, os conceitos do Círculo de Bakhtin relacionados à
carnavalização e ao realismo grotesco, para verificar os efeitos construídos
pelos contos e, a partir da ideologia subjacente a eles, indiciar aspectos da
cosmovisão autoral. A nosso ver, a dessacralização do religioso, a invocação de
elementos do baixo ventre e as muitas cenas que descrevem um mundo que parece
às avessas indicam, pelo riso literário, crítica de costumes, crítica às
instituições religiosas e efeito derrisório que visa o cerne do humano, em suas
contradições como sujeito e na sua instável identidade social.
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