Janaína, Rauer e Fabrina |
Nos dias 23, 24 e 25 de novembro, o Prof. Rauer e as mestrandas Fabrina Martinez e Janaína Torraca da Silva, integrantes do GPLV, participaram do SILEL (XIII Simpósio Nacional de Letras e Linguística e III Simpósio Internacional de Letras e Linguística), promovido pelo Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia/MG.
No grupo temático Literatura: entre o público e o privado, que teve como mediadores os professores Fernando de Souza Rocha (que está em primeiro plano nas fotos abaixo) e Luiz Carlos Santos Simon, Fabrina Martinez apresentou a comunicação "Fronteiras entre público e privado na literatura da primeira década do século XXI", e Janaína Torraca e Rauer apresentaram a comunicação "A repressão sexual como história submersa no conto 'Meus anjos', de Luiz Vilela".
FRONTEIRAS ENTRE PÚBLICO E PRIVADO NA LITERATURA
DA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI
DA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI
FABRINA MARTINEZ DE SOUZA
Nossa proposta é discutir como a exposição de informações íntimas dos autores influencia a leitura do microconto sem título de Daniel Galera (1979) e “Feijoada” de Ivana Arruda Leite (1951), publicados na antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, organizada por Marcelino Freire em 2004. Galera publica na internet desde 1996, atualmente mantém um site pessoal e diversas redes sociais. Para este artigo, elegemos as cartas que o autor trocou com o editor André Conti a pedido do Instituto Moreira Salles. A correspondência foi escrita entre os meses de janeiro e abril deste ano. A publicação aconteceu simultaneamente. Leite mantém um blog desde 2007, onde divulga suas obras, expõe relações com a literatura, com a família, amigos, leitores, colegas de trabalho e compartilha elementos cotidianos como viagens e receitas culinárias. Beatriz Resende, em Contemporâneos: expressões da literatura brasileira no século XXI, de 2008, afirma que “os diversos usos da internet rapidamente influenciarão a escrita em suas formas mais antigas: a carta será substituída pelo e-mail; o diário íntimo, pelo blog, que torna público, em maior ou menor escala – conforme o gosto do autor –, o registro da vida privada”. Nossa hipótese é de que Galera e Leite modificaram as fronteiras entre o público e o privado na literatura ao exporem informações íntimas simultaneamente à construção de sua obra, além de permitirem que o leitor não apenas assista, mas comente o que está em construção. Há de se considerar que essa ambivalência interfira na leitura de um texto literário, principalmente se considerarmos a concisão extrema do microconto. Entretanto, essa farta quantidade de informações pessoais não muda o conceito apresentado por Antonio Candido em Literatura e Sociedade. Candido afirma que autor, obra e público são os três elementos fundamentais da comunicação artística e que somente quando os três se relacionam é que a literatura completa sua função. A função permanece a mesma, contudo essas novas fronteiras entre público e privado ampliaram o conceito de relacionamento e interferem na leitura. No caso do microconto, um subgênero cuja maior característica é a concisão extrema, a disponibilidade de informações privadas enriquece a leitura e desafia o leitor a entender os limites possíveis entre o escritor e sua obra, bem como, os elementos lingüísticos que constituem o enunciado da narrativa.
A REPRESSÃO SEXUAL COMO HISTÓRIA SUBMERSA
NO CONTO "MEUS ANJOS", DE LUIZ VILELA
NO CONTO "MEUS ANJOS", DE LUIZ VILELA
JANAÍNA PAULA MALVEZZI TORRACA DA SILVA
RAUER RIBEIRO RODRIGUES
RAUER RIBEIRO RODRIGUES
O artigo tem por objetivo analisar um conto do escritor Luiz Vilela, com enfoque no erotismo e por recorte o tema da repressão sexual. Entre os contos que poderíamos ter por corpus, voltamo-nos para “Meus anjos”, de "O fim de tudo" (1973). Essa escolha se deve ao caráter quase didático ao demonstrar os efeitos da internalização do mecanismo repressor. Utilizamos a obra "Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida" (1984), de Marilena Chauí, para o enquadramento descritivo da repressão sexual. Nosso referencial de análise se vale da proposição teórica de Ricardo Píglia, em “Teses sobre o conto”, de que todo conto conta duas histórias. Em “Meus anjos”, uma professora, Dona Carmem, presencia o ato sexual entre dois de seus alunos num terreno vazio, na escola, sob um monte de folhas secas; a furtiva visão dos corpos infantis na vivência amorosa transforma, em sanção disfórica, a vida da professora. Ela tem sonhos avassaladores, sexuais, que a impelem a deixar de ir à escola. Essa é a história aparente. A segunda história é a do erotismo reprimido, que decorre da sociedade, da religião e da família, que coíbem a sexualidade, o que fica submerso no conto, mas é rastreável por diversos indícios. Para trazer à tona essa história submersa, além da teoria de Piglia, também temos por base a teoria do iceberg, de Hemingway. Essa história submersa faz uma representação questionadora que dessacraliza o religioso a partir de uma experiência epifânica. A teoria da epifania, de James Joyce, casa-se com a descoberta de que os alunos, tão docemente chamados de “anjos” pela professora, na verdade não o são. O problema sobre o qual nos detemos pode assim ser expresso: qual o efeito de sentido que o escritor constrói a partir do encontro da primeira com a segunda história? Nossa proposição é de que Vilela, em “Meus anjos”, denuncia o aparato civilizatório que promove a repressão sexual e infelicita as pessoas. O encontro entre a primeira e a segunda história desvela que a fortaleza pública da professora Carmem, elogiada por todos na escola em que atua, desmorona em decorrência dos seus fantasmas privados, interiores. A diretora não esperava que a professora se licenciasse, pois não conhecia os limites e a interioridade de sua subordinada.
As discussões no âmbito do grupo temático e todo o evento foram estimulantes e enriquecedoras, abrindo horizontes às pesquisas do grupo.
Eis dois momentos de nossa participação no Simpósio:
Fabrina apresenta sua comunicação |
Janaína apresenta sua comunicação |
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