sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

JORNAL DE ITUIUTABA DESTACA ATUAÇÃO DO GPLV

Seminário do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela é realizado em Ituiutaba

30 de Janeiro de 2015


Ocorreu, em Ituiutaba, o 3º Seminário do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela (GPLV), que contou com a presença do escritor. O seminário iniciou na quarta-feira, 28, às 13h30, no Líder Hotel, encerrando na quinta-feira, 29, às 8h, no salão de eventos da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Ituiutaba, contando com a presença de professores, pós-graduandos, mestrandos e doutorandos.
O coordenador do seminário, Rauer Ribeiro Rodrigues, disse que o Grupo de Pesquisa Luiz Vilela existe formalmente desde 2011, mas que iniciou orientações sobre a obra de Luiz Vilela no ano de 2007, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O Grupo tem por objetivo estudar a obra do escritor e propor ações para que essa obra seja divulgada.
O 3º seminário, segundo Rauer, é ocasião para que membros do grupo apresentem resultados de suas pesquisas e debatam publicamente o resultado delas, contando com professores convidados, como a professora Wania Majadas, que veio de Goiânia, e a professora Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha, de Uberlândia.
Os dois primeiros seminários foram realizados na sede do GPLV, na cidade de Três Lagoas, MS, e este último ocorreu em Ituiutaba, para aproveitar a oportunidade de um convívio com o próprio escritor, Luiz Vilela, lembrando que a fundação do grupo aconteceu durante a realização da 4ª Semana Luiz Vilela, realizada em 2011 em Ituiutaba.

http://www.jornaldopontal.com.br/index.php?ac=news&id=12644


Fotos: José Filho/Jornal do Pontal  . 
O escritor Luiz Vilela participou de todas as atividades do 3º Seminário de Pesquisa do GPLV

Integrantes do GPLV e outros interessados assistem palestra durante o Seminário

Professora Sonia Maciel (UEMG) atua como mediadora na comunicação da pesquisadora Dra. Eunice Prudenciano de Souza

Membros do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela com o escritor; sentados: Angela Nubiato, Karina Gomes, Prof. Rauer, Profa. Kelcilene; em pé: Elenice Oliveira, Maria do Socorro, Natália Tano, Rodrigo Andrade Pereira, 
Eunice Prudenciano de Souza, Luiz Vilela e Pauliane Amaral



Grupo de Pesquisa Luiz Vilela realiza o 3º Seminário do GPLV 

27 de Janeiro de 2015

Luiz Vilela, em foto de Pauliane Amaral / GPLV
O Grupo de Pesquisa Luiz Vilela realizará na quarta-feira, 28, e na quinta-feira, 29, o 3º Seminário do GPLV, contando com a presença do escritor que acompanhará todo o seminário.
O seminário contará com a seguinte programação: dia 28 - 13h30, no Líder Hotel – credenciamento; 14h – Abertura: Professor Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS): Um balanço das atividades do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela (GPLV) – 2011-2015; 14h30 - palestra da professora Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha (UFU) - Acervos Literários e a Pesquisa em Pós-Graduação na Área de Literatura - mediador: Professora Kelcilene Grácia Rodrigues (UFMS); 16h às 18h – bate-papo com o escritor Luiz Vilela. Dia 29 - 8h - no Auditório da Superintendência Regional de Ensino, apresentação e debate de Pesquisas - mediador: Professora Sonia Maria Pereira Maciel (UEMG/Ituiutaba); Professora Angela Nubiato Lopes (UFMS) - Luiz Vilela no Ensino Fundamental II: Alternativas Metodológicas; doutoranda Elcione Ferreira da Silva (UFMS) – O sagrado e o profano nos romances Graça e Perdição, de Luiz Vilela; Professora Eunice Prudenciano de Souza (em pós-doc – UFMS) – A metacrítica da recepção à obra de Luiz Vilela – primeiros apontamentos; 10h15 - palestra: Você Verá: Registro Interminável de Propriedade, pela Professora Wania Majadas (UNICAMPS – Goiânia), Mediador: Professora Ione Marta Franco Pereira (SRE/Ituiutaba); 14h - apresentação e debate de Projetos de Pesquisa, Mediador: Professor Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS), doutorando Rodrigo Andrade Pereira (UFMS) – Acervo Luiz Vilela: a poética do escritor em depoimentos e entrevistas; doutoranda Pauliane Amaral (UFMS) – Luiz Vilela: Documentário Biográfico, Acervo e Ensino; doutoranda Karina Fátima Gomes (UFMS) – Do Acervo literário à Fortuna Crítica: princípios metodológicos para estudo de autor contemporâneo; 16h30 - palestra de encerramento - A construção do tempo no romance Graça, de Luiz Vilela, pela Professora Kelcilene Grácia Rodrigues (UFMS), mediador: Professora Wania Majadas (UNICAMPS/Goiânia); às 20h - jantar, por adesão, com a presença do escritor Luiz Vilela. Haverá certificado de participação de 12 horas. A inscrição é gratuita.
< http://www.jornaldopontal.com.br/index.php?ac=news&id=12614 >

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Uma palavrinha com Marcelino Freire

Marcelino lê, compenetrado
Conhecido escritor e agitador cultural, Marcelino Freire esteve em Campo Grande nos dias 22, 23 e 24 de janeiro para ministrar uma Oficina de criação literária que faz parte do Projeto Quebras. A ideia do projeto, segundo o escritor, é percorrer capitais fora do eixo Rio-São Paulo, oferecendo a oficina e promovendo uma troca de ideias entre aqueles que escrevem ou que pretendem escrever. Na capital sul-mato-grossense, a oficina aconteceu na Casa de Ensaio, um espaço dedicado à promoção de arte e cultura para crianças e jovens através de cursos de teatro, pintura, música e literatura.

Pauliane Amaral, integrante do GPLV, foi conferir a oficina e aproveitou para trocar uma palavrinha com Marcelino Freire sobre o cenário da literatura brasileira contemporânea, o renascimento do gênero conto e, é claro, Luiz Vilela. Confira os melhores momentos dessa conversa:


Marcelino freestyle especial para o GPLV
Pauliane: Qual foi seu primeiro contato com a obra de Luiz Vilela?

Marcelino: O primeiro livro foi Tremor de terra (1967), que li faz tempo e depois lembro que li A cabeça (2002), que tem esse conto que dá título ao livro e que é extraordinário. Aquela cabeça rodeada pela multidão. Uma história construída com muito humor e muita verdade. Eu acho esse conto genial. Depois Bóris e Dóris (2006), romance em que prevalece o diálogo. E agora, no meu último encontro com o Luiz Vilela no Festival Literário de Araxá (MG), ele leu um capítulo da novela que ele está escrevendo sobre um suposto filho de Machado de Assis. Logo do Machado de Assis, que disse que não queria deixar o seu legado da miséria pra ninguém.

Pauliane: Fale um pouco de sua relação pessoal com Luiz Vilela.

Marcelino: Como fiz com outros escritores, procurei o Vilela por telefone e trocamos ideias por um período, depois ele foi a um evento que organizo em São Paulo, a Balada Literária. E agora, por último, nos encontramos no FLIARAXÁ.

Pauliane: Como você vê a obra de Luiz Vilela no cenário da literatura contemporânea?

Marcelino: A gente, que se interessa por literatura, sempre acaba lendo algo de Luiz Vilela, admirando seus contos e os diálogos entre as personagens. Luiz Viela, Sérgio Sant´Anna e Dalton Trevisan são autores em que a gente sempre está de olho, porque lendo os livros deles a gente aprende muito sobre concisão, composição de personagem e percebe o quanto eles continuam atuais. A gente também vê como eles estão conversando com uma nova linguagem, a linguagem desse mundo em que a gente vive. Às vezes, quando leio Dalton Trevisan, por exemplo, eu consigo ver como ele incorpora sons e ciscos do nosso tempo, como seu texto pode parecer com um rap.

Pauliane: Como você vê o renascimento do conto, não só na literatura brasileira como na mundial, a partir da metade dos anos 90, após um período de eclipse?

Marcelino: Creio eu que o sucesso da antologia Os cem melhores contos brasileiros do século (2000), do Ìtalo Moriconi, que reunia contos de Machado de Assis até Fernando Bonassi, ajudou não só os escritores, mas também as editoras, a valorizar mais o gênero conto. Logo depois da publicação dessa antologia, o Nelson de Oliveira lançou uma antologia complementar, Geração 90: manuscritos de computador (2001), e depois Geração 90: os transgressores (2003). A partir daí vemos a publicação de outras antologias, como Os melhores contos de loucura, de humor, contos policiais, e muitas outras que ajudaram a alavancar a publicação de contos. Nesse momento, eu noto que há uma predileção maior para o romance como gênero protagonista na literatura.

Pauliane: Tenho a impressão de que os autores contemporâneos, quando perguntados sobre quais seriam suas influências, citam quase que exclusivamente seus pares (outros autores brasileiros contemporâneos), os canônicos, como Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, e escritores estrangeiros, deixando um pouco de lado a geração precedente, dos autores que publicaram entre os anos 1960 e 1980. Quais são as suas influências?

Marcelino: Eu posso dizer que Graciliano Ramos, com sua escrita concisa e até mesmo por ser nordestino como eu, me influenciou muito. Outras influências para mim foram Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Antônio. Mas esses são os principais. Com outros escritores, como o Luiz Vilela, aprendi muito sobre a articulação de diálogos. Com Lygia Fagundes Telles, outra grande contista, aprendo muito sobre a composição da personagem, e fico admirado como ela consegue mudar o tempo da narrativa em uma só frase. Um contemporâneo do qual me sinto par é o André Sant´Anna. Outro escritor de que gosto muito, mineiro como o Luiz Vilela, é Campos de Carvalho.
Eu, como nordestino, tive o primeiro contato com a literatura brasileira lendo Graciliano, Raquel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto, que eram escritores que estavam mais ao nosso alcance. Além desses escritores, gosto muito do que é produzido na América Latina, como, por exemplo, Júlio Cortázar e o escritor chileno Pedro Lemebel, que escreveu apenas um poema que foi o mais famoso de sua geração. Da língua inglesa, Hemingway.

Pauliane: Para finalizar, gostaria que você fizesse uma pergunta a Luiz Vilela.

Marcelino: Vou primeiro fazer um depoimento e depois uma pergunta.
Queria dizer que o Luiz Vilela, como escritor, é um exemplo de como alguém escolhe, respeita e se entrega ao seu ofício. Ele pensa literatura o tempo inteiro, com todo seu corpo e mente, com todos os sentidos. É um escritor em pleno exercício de sua criação.
A pergunta é....



.... surpresa e será entregue pessoalmente ao Luiz Vilela durante o 3ª seminário do GPLV, que acontece nos dias 28 e 29 de janeiro em Ituiutaba (MG).


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Mais informações sobre o 3ª seminário do GPLV clique aqui.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Vilela é, desde a estreia, um dos nossos maiores escritores

Raimundo Carrero

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A simplicidade da escrita na obra de Vilela


Escrito por Raimundo Carrero
  
Seg, 05 de Janeiro de 2015 00:00
DivulgaçãoDivulgação

A simplicidade é um dos maiores desafios do ficcionista. Alguns autores fingem uma sofisticação vaidosa que não é outra coisa senão a máscara da incompetência. Existem aqueles que não sabem sequer contar uma história, por mais singela que seja. No entanto, simplicidade não significa mediocridade, linearidade ou pressa de relatório. Até porque há quem confunda narrativa com alinhamento de fatos e de informações.

Por isso percebe-se, com a maior clareza, que os narradores contemporâneos procuram escrever boas frases que resultam em bons textos, em até ótimos textos, mas esquecendo que a ficção lida com o humano, com o questionamento humano e não somente com boas palavras, o que exige maior atenção com o personagem. A pulsação narrativa começa com o personagem e não somente com a palavra, com a frase, com o parágrafo.

O mineiro Luiz Vilela é um dos raros brasileiros que consegue conciliar a qualidade do texto com o caráter do personagem, o que resulta na simplicidade com sofisticação. Aí está a questão. Sofisticar não significa apenas criar situações esquisitas, que foram chamadas de vanguarda, de forma a entortar a cabeça do leitor ou a ferir os olhos.

A sofisticação — assunto que tratei no meu livro A formação do escritor, Editora Iluminuras, São Paulo, 2010 — surge desta aproximação do texto com o espírito do personagem, que leva ao tempo psicológico do leitor. Podemos observar, por exemplo, este breve texto do conto “A feijoada”, que dá título ao livro — Sesi-SP Editora — 2014:

“Ao acabar, limpou, com o resto da cerveja, o gosto da boca. Encostou-se então à cadeira e respirou fundo: sentia-se cheio, quase empanzinado. Comera demais. Se desse um arroto; um arrotozinho só... E então sentiu que ele vinha, ia chegando: Oohhhh...., arrotou com vontade.”

Narrativa precisa, correta, justa, com uma boa sequencia de frases na variedade da pontuação — pontos, dois pontos, reticência, em que se verifica o ritmo interior do personagem — que aliás, nem tem nome —, de forma a se integrar no tempo psicológico do leitor, ele próprio já agora na expectativa do texto.

A onomatopeia, finalmente, faz o leitor viver com o personagem. Daí a eficiência da narrativa construída na simplicidade com sofisticação. Esta é a razão por que Luiz Vilela é, desde a sua estreia, um dos nossos narradores mais eficientes. E por isso mesmo, um dos nossos maiores escritores.

Além do mais, destaque-se que há , hoje, sobretudo no Brasil, a instalação do que costumamos chamar de estética individual – ou seja, a estética ficcionista que reduz o texto a um único personagem, ou, quando muito, a dois ou três personagens, o que faz com que críticos e até leitores chamem a literatura ficcional de decadente. Absoluta falta de compreensão do fenômeno literário. Não há aí nenhuma decadência, mas uma mudança sistemática de foco narrativo.

A literatura ficcional começa, por exemplo, com a epopeia e chega ao momento supremo com o romance do século 19, o conhecido século de ouro da ficção com russos, franceses e ingleses disputando a sua melhor qualidade com Dostoiévski, Tolstoi, Vitor Hugo, Zola, Dickens e outros devastando as almas dos personagens e dando sobretudo ao romance a totalidade do ser. A partir de Flaubert a ficção passa a ser mais artística, mais elaborada, mais próxima da poesia. Escritores do porte de Flaubert, Maupassant e Techov transformam pequenas histórias em enredos notáveis, com personagens particularizando o texto ficcional, concentrando em si mesmos a densidade da história. Tudo de acordo com a ciência nova e decisiva — a psicologia. Os grandes romances, então, foram perdendo a importância e a totalidade do ser concentrou-se em poucos personagens e, portanto, reduzindo a importância do enredo mirabolante e com um tempo enorme.

Foi sem dúvida um grande susto e chegou-se a proclamar o fim do romance. Os equívocos foram pouco a pouco desfeitos até que chegamos ao romance absolutamente técnico ou de vanguarda como se convencionou chamar. Vindo ainda à ficção episódica — isto é, reduzida a um ou dois episódios, quase sem enredo, quase sem intriga, mas agora mostrando-se inteira no ser, contando até com a influência decisiva da tragédia grega ou do teatro de Shakesperare, com longos monólogos e solilóquios. Assim o conto ganhou força e foi transformado em poema. É o que acontece, hoje, no Brasil, sobretudo com autores do nível e do porte de Luiz Vilela.

sábado, 10 de janeiro de 2015

“Contos eróticos”, primor de obra de um dos maiores contistas brasileiros


       Marinaldo Custódio, no caderno "DC Ilustrado" do Diário de Cuiabá deste sábado, no artigo "Pornografia é que vende", cita os Contos Eróticos, de Luiz Vilela, como "um primor de obra", mas que se livrou do livro, após lê-lo, porque "depois do desfrute tenho que me livrar rapidinho" do que vicia, e sexo e pornografia, segundo o articulista, viciam. Reproduzimos, logo abaixo, os três parágrafos que mencionam Luiz Vilela e, em seguida, todo o artigo de Marinaldo Custódio

       Tenho uma natural atração pela literatura e as demais artes eróticas (como todos os seres humanos, suponho), mas também tenho com elas uma relação bastante problemática. Por isso, certa vez, quando contava a um amigo que havia colocado internet em casa e ele me veio sugerindo uns bons sites e canais eróticos, logo descartei: não quero nem saber desses endereços; não posso, não quero, tenho medo, muito medo. Até cito como exemplo disso o livro “Contos eróticos”, de Luiz Vilela, um primor de obra, da pena de um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos. Comprei-o e o li inteirinho, alguns contos mais de uma vez, como aquele, incestuoso, da sobrinha que vai visitar o tio no hospital. Mas logo depois dei um jeito de me livrar dele. Botei na Banca do Sodré (oh saudades de um tempo bom!) pra vender, ou o troquei no Bazar do Livro. A exemplo de outras obras (livros e filmes, sobretudo), depois do desfrute tenho de me livrar rapidinho delas. Senão vira vício, e ser viciado em sexo não é bom. Em pornografia, pior ainda. 

      Por outro lado, porém, nada tenho contra obras com boas pitadas de erotismo desde que elas não sejam feitas só disso, ou seja, que não tenham sido feitas por autores/autoras que, ao fazê-las, o fizeram pensando só naquilo. Também, em caso contrário, impossível ter em casa obras geniais como “As mil e uma noites” ou “Decameron”, de Giovanni Boccaccio, por exemplo, pois, afinal, as expressões eróticas, e mesmo um pouco de pornografia, fazem parte da vida, inseparáveis que são da existência humana. Fora isso, esporadicamente até andei me permitindo curtir clássicos do erotismo puro como “A filosofia na alcova”, do Marquês de Sade e “A Vida Sexual de Catherine Millet”, de autoria da própria, e a safadeza entre brejeira e escrachada de um Charles Bukowski, em “Mulheres”, por exemplo. Mas, tirando este último que continua em minha biblioteca, meio que escondidinho, os outros tiveram o mesmo destino que o referido livro do Vilela.

     Decididamente, prefiro continuar viciado em programas culturais mais inofensivos como reler mil vezes “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, “O Alienista”, de Machado de Assis, “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto, “Tarde da noite” ou “Luz sob a porta”, de Luiz Vilela. É só pintar na minha frente que começo e leio tudo de novo! Não tem nem choro!  


Leia agora, reproduzido do Diário de Cuiabá de hoje, o artigo em sua íntegra:

Pornografia é que vende

Literatura erótica hoje consumida largamente no mundo transita muitas vezes de livro para filme ou vice-versa

MARINALDO CUSTÓDIO
Da Redação
 
    A frase-título não é minha. Eu a ouvi em recente conversa com o amigo Marínio, da Livraria Janina, quando com ele conversava a propósito de umas resenhas de livros que pretendo escrever para o jornal, nesta nova fase que iniciamos em 2015. Citei alguns títulos e autores de cabeça, falei de leituras recentes minhas de grandes escritores, como o “Alabardas, Alabardas (Espingardas, Espingardas)”, de José Saramago, e o sensacional “A festa da insignificância”, de Milan Kundera. Ele apenas balançou a cabeça, piscando os olhos espertos, num muxoxo. Falei, então, desses escritores que arrebentam a boca do balão, mundialmente, escrevendo livros depois adaptados para filmes e séries de televisão ou, no caminho inverso, de roteiros de cinema e TV que depois se transformam em livros de astronômico sucesso em todo o mundo. Até citei o caso de escritoras de grande sucesso atual como Cassandra Clare, Judith Rumelt e Kiera Cass, referidas na matéria “Quem disse que jovem não lê?”, da Folha de S.Paulo, como exemplos de autoras que vendem muito (muito!) e que são recebidas em grandes cidades do mundo como São Paulo e Rio de Janeiro na condição de celebridades de altíssimo porte, a exemplo de estrelas de cinema como Angelina Jolie, ou do rock, como um Bono Vox, por exemplo. 


    Foi aí, então, que ele disparou: “Está certo, isso aí vende bem, sim. Mas se você quer saber, mesmo, o que vende hoje, eu te digo logo: o que vende (mais) hoje em dia é pornografia!”. 

    Fiquei pensando então nessa trilha aberta (?!) por essas Brunas Surfistinhas da vida, esses “Cinquenta tons de cinza”, de E.L. James, esses “Beber, jogar, f@#er”, de Andrew Gottlieb, que, aliás, não li. Ou melhor: quase não li, pois no da Bruna Surfistinha dei uma boa olhada, li uns trechos, quando o comprei para minha sobrinha Renata, juntamente com “Anjos e demônios”, de Dan Brown. 

    Lembre-se, a propósito, que dentre os livros que fazem grande sucesso mundial e depois viram filme, vem aí mais um lançamento de impacto: o blockbuster “Cinquenta tons de cinza”, dirigido por Sam Taylor-Johnson, com Jamie Dornan, Dakota Johnson e Jennifer Ehle, entre outros, com lançamento previsto para 12 de fevereiro de 2015. Ao que tudo indica, pra arrebentar agora também na telona. 

    Tenho uma natural atração pela literatura e as demais artes eróticas (como todos os seres humanos, suponho), mas também tenho com elas uma relação bastante problemática. Por isso, certa vez, quando contava a um amigo que havia colocado internet em casa e ele me veio sugerindo uns bons sites e canais eróticos, logo descartei: não quero nem saber desses endereços; não posso, não quero, tenho medo, muito medo. Até cito como exemplo disso o livro “Contos eróticos”, de Luiz Vilela, um primor de obra, da pena de um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos. Comprei-o e o li inteirinho, alguns contos mais de uma vez, como aquele, incestuoso, da sobrinha que vai visitar o tio no hospital. Mas logo depois dei um jeito de me livrar dele. Botei na Banca do Sodré (oh saudades de um tempo bom!) pra vender, ou o troquei no Bazar do Livro. A exemplo de outras obras (livros e filmes, sobretudo), depois do desfrute tenho de me livrar rapidinho delas. Senão vira vício, e ser viciado em sexo não é bom. Em pornografia, pior ainda. 

    Por outro lado, porém, nada tenho contra obras com boas pitadas de erotismo desde que elas não sejam feitas só disso, ou seja, que não tenham sido feitas por autores/autoras que, ao fazê-las, o fizeram pensando só naquilo. Também, em caso contrário, impossível ter em casa obras geniais como “As mil e uma noites” ou “Decameron”, de Giovanni Boccaccio, por exemplo, pois, afinal, as expressões eróticas, e mesmo um pouco de pornografia, fazem parte da vida, inseparáveis que são da existência humana. Fora isso, esporadicamente até andei me permitindo curtir clássicos do erotismo puro como “A filosofia na alcova”, do Marquês de Sade e “A Vida Sexual de Catherine Millet”, de autoria da própria, e a safadeza entre brejeira e escrachada de um Charles Bukowski, em “Mulheres”, por exemplo. Mas, tirando este último que continua em minha biblioteca, meio que escondidinho, os outros tiveram o mesmo destino que o referido livro do Vilela. 

    Decididamente, prefiro continuar viciado em programas culturais mais inofensivos como reler mil vezes “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, “O Alienista”, de Machado de Assis, “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto, “Tarde da noite” ou “Luz sob a porta”, de Luiz Vilela. É só pintar na minha frente que começo e leio tudo de novo! Não tem nem choro! O mesmo vale para programas televisivos como “Profissão Repórter”, de Caco Barcelos: se começo a ver, vou até o fim. Ou ouvir “Lágrima de amor” ou “Só primavera”, de Beto Guedes, vezes sem conta. 

      Assim, neste início de ano, sugiro, sim, a leitura de um livro “que vende pouco”, o já citado “A festa da insignificância”, do tcheco Milan Kundera. E vejam que curioso: seu primeiro tópico (ou capítulo) fala precisamente de uma certa parte do corpo feminino que vive a atrair nossos olhares e outras gulas nossas pelos séculos dos séculos: não entrepernas de mulher, mas a sedução feminina concentrada no meio do corpo: no umbigo. 

   Alain pensa sobre o umbigo (A festa da insignificância, de Milan Kundera) 

      Era o mês de junho, o sol da manhã surgia das nuvens e Alain caminhava lentamente por uma rua parisiense. Ele observava as moças que, todas, mostravam o umbigo entre a calça de cintura muito baixa e a camiseta cortada muito curta. Estava encantado, encantado e até mesmo perplexo: como se o poder de sedução delas não se concentrasse mais nas coxas, nem na bunda, nem nos seios, mas naquele pequeno buraco redondo situado no meio do corpo: o umbigo. 

     Isso o incitou a refletir: se um homem (ou uma época) vê o centro da sedução feminina nas coxas, como descrever e definir a particularidade dessa orientação erótica? Improvisou uma resposta: o comprimento das coxas é a imagem metafórica do caminho, longo e fascinante (é por isso que as coxas devem ser longas), que leva à realização erótica; de fato, pensou Alain, mesmo no meio do coito, o comprimento das coxas empresta à mulher a magia romântica do inacessível. 

     Se um homem (ou uma época) vê o centro da sedução feminina na bunda, como descrever e definir a particularidade dessa orientação erótica? Improvisou uma resposta: brutalidade; alegria; o caminho mais curto em direção ao objetivo; objetivo ainda mais excitante porque duplo. 

     Isso o incitou a refletir: se um homem (ou uma época) vê o centro da sedução feminina nos seios, como descrever e definir a particularidade dessa orientação erótica? Improvisou uma resposta: santificação da mulher; a Virgem Maria amamentando Jesus; o sexo masculino ajoelhado diante da nobre missão do sexo feminino. 

      Mas como definir o erotismo de um homem (ou de uma época) que vê a sedução feminina concentrada no meio do corpo: no umbigo? 

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

3º Seminário do GPLV acontece em Ituiutaba, MG

3º SEMINÁRIO DO GPLV - PROGRAMAÇÃO
O escritor Luiz Vilela acompanhará o Seminário

Dia 28 Jan. 2015

13h30 – Credenciamento
Local: Líder Hotel, em Ituiutaba – MG

14h00 – Abertura: Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS): Um balanço das atividades do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela (GPLV) – 2011-2015

14h30 - Palestra da Professora Dra. Betina Ribeiro Rodrigues da
Cunha (UFU) - Acervos Literários e a Pesquisa em
Pós-Graduação na Área de Literatura
Mediador: Profa. Dra. Kelcilene Grácia Rodrigues (UFMS)

16h-18h – Bate-Papo com o escritor Luiz Vilela


Dia 29 Jan. 2015, 8h00
Apresentação e debate de Pesquisas
Mediador: Profa. Me. Sonia Maria Pereira Maciel (UEMG / Ituiutaba)
Local: Superintendência Regional de Ensino de Ituiutaba – MG
   
Profa. Mestranda Angela Nubiato Lopes (UFMS) Luiz Vilela no Ensino Fundamental II: Alternativas Metodológicas
Doutoranda Elcione Ferreira da Silva (UFMS)O sagrado e o profano nos romances Graça e Perdição, de Luiz Vilela
Profa. Dra. Eunice Prudenciano de Souza (em pós-doc / UFMS)A metacrítica da recepção à obra de Luiz Vilela – primeiros apontamentos

10h15 – Palestra: Você Verá: Registro Interminável de Propriedade, pela
Profa. Dra. Wania Majadas (UNICAMPS – Goiânia)
Mediador: Profa. Ione Marta Franco Pereira (SRE-MG / Ituiutaba)

14h - Apresentação e debate de Projetos de Pesquisa
Mediador: Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS)
​​
Doutorando Rodrigo Andrade Pereira (UFMS)Acervo Luiz Vilela: a poética do escritor em depoimentos e entrevistas
Doutoranda Pauliane Amaral (UFMS) Luiz Vilela: Documentário Biográfico, Acervo e Ensino
Doutoranda Karina Fátima Gomes (UFMS) Do Acervo literário à Fortuna Crítica: princípios metodológicos para estudo de autor contemporâneo

16h30 - Palestra de encerramento
A construção do tempo no romance Graça, de Luiz Vilela, pela
Profa. Dra. Kelcilene Grácia Rodrigues (UFMS)
Mediador: Profa. Dra. Wania Majadas (UNICAMPS / Goiânia)

20h - Jantar, por adesão, com a presença do escritor Luiz Vilela



Haverá certificado de participação de 12 horas. A inscrição é gratuita.