Marcelino lê, compenetrado |
Conhecido escritor e agitador cultural, Marcelino Freire
esteve em Campo Grande nos dias 22, 23 e 24 de janeiro para ministrar uma Oficina de
criação literária que faz parte do Projeto Quebras. A ideia do projeto,
segundo o escritor, é percorrer capitais fora do eixo Rio-São Paulo, oferecendo
a oficina e promovendo uma troca de ideias entre aqueles que escrevem ou que
pretendem escrever. Na capital sul-mato-grossense, a oficina aconteceu na Casa
de Ensaio, um espaço dedicado à promoção de arte e cultura para crianças e jovens
através de cursos de teatro, pintura, música e literatura.
Pauliane Amaral, integrante do GPLV, foi conferir a oficina e aproveitou para trocar uma palavrinha com Marcelino Freire sobre o cenário da literatura brasileira contemporânea, o renascimento do gênero conto e, é claro, Luiz Vilela. Confira os melhores momentos dessa conversa:
Marcelino freestyle especial para o GPLV |
Pauliane: Qual
foi seu primeiro contato com a obra de Luiz Vilela?
Marcelino: O
primeiro livro foi Tremor de terra
(1967), que li faz tempo e depois lembro que li A cabeça (2002), que tem esse conto que dá título ao livro e que é
extraordinário. Aquela cabeça rodeada pela multidão. Uma história construída
com muito humor e muita verdade. Eu acho esse conto genial. Depois Bóris e Dóris (2006), romance em que
prevalece o diálogo. E agora, no meu último encontro com o Luiz Vilela no Festival Literário de Araxá (MG), ele leu um capítulo da novela que ele está escrevendo
sobre um suposto filho de Machado de Assis. Logo do Machado de Assis, que disse
que não queria deixar o seu legado da miséria pra ninguém.
Pauliane: Fale um
pouco de sua relação pessoal com Luiz Vilela.
Marcelino: Como
fiz com outros escritores, procurei o Vilela por telefone e trocamos ideias por
um período, depois ele foi a um evento que organizo em São Paulo, a Balada
Literária. E agora, por último, nos encontramos no FLIARAXÁ.
Pauliane: Como
você vê a obra de Luiz Vilela no cenário da literatura contemporânea?
Marcelino: A
gente, que se interessa por literatura, sempre acaba lendo algo de Luiz Vilela,
admirando seus contos e os diálogos entre as personagens. Luiz Viela, Sérgio
Sant´Anna e Dalton Trevisan são autores em que a gente sempre está de olho,
porque lendo os livros deles a gente aprende muito sobre concisão, composição
de personagem e percebe o quanto eles continuam atuais. A gente também vê como
eles estão conversando com uma nova linguagem, a linguagem desse mundo em que a
gente vive. Às vezes, quando leio Dalton Trevisan, por exemplo, eu consigo ver
como ele incorpora sons e ciscos do nosso tempo, como seu texto pode parecer
com um rap.
Pauliane: Como
você vê o renascimento do conto, não só na literatura brasileira como na
mundial, a partir da metade dos anos 90, após um período de eclipse?
Marcelino: Creio
eu que o sucesso da antologia Os cem
melhores contos brasileiros do século (2000), do Ìtalo Moriconi, que reunia contos de Machado de Assis até Fernando Bonassi, ajudou não só os
escritores, mas também as editoras, a valorizar mais o gênero conto. Logo depois
da publicação dessa antologia, o Nelson de Oliveira lançou uma antologia
complementar, Geração 90: manuscritos de
computador (2001), e depois Geração
90: os transgressores (2003). A partir daí vemos a publicação de outras antologias,
como Os melhores contos de loucura, de humor, contos policiais, e muitas outras que ajudaram a alavancar a
publicação de contos. Nesse momento, eu noto que há uma predileção maior para o
romance como gênero protagonista na literatura.
Pauliane: Tenho a impressão de que os autores contemporâneos, quando perguntados sobre quais
seriam suas influências, citam quase que exclusivamente seus pares (outros
autores brasileiros contemporâneos), os canônicos, como Machado de Assis,
Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, e escritores estrangeiros, deixando um pouco
de lado a geração precedente, dos autores que publicaram entre os anos 1960 e
1980. Quais são as suas influências?
Marcelino: Eu
posso dizer que Graciliano Ramos, com sua escrita concisa e até mesmo por ser nordestino
como eu, me influenciou muito. Outras influências para mim foram Guimarães
Rosa, Clarice Lispector e João Antônio. Mas esses são os principais. Com outros
escritores, como o Luiz Vilela, aprendi muito sobre a articulação de diálogos. Com
Lygia Fagundes Telles, outra grande contista, aprendo muito sobre a composição
da personagem, e fico admirado como ela consegue mudar o tempo da narrativa em
uma só frase. Um contemporâneo do qual me sinto par é o André Sant´Anna. Outro
escritor de que gosto muito, mineiro como o Luiz Vilela, é Campos de
Carvalho.
Eu, como nordestino, tive o primeiro contato com a literatura
brasileira lendo Graciliano, Raquel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto, que
eram escritores que estavam mais ao nosso alcance. Além desses escritores,
gosto muito do que é produzido na América Latina, como, por exemplo, Júlio
Cortázar e o escritor chileno Pedro Lemebel, que escreveu apenas um poema que
foi o mais famoso de sua geração. Da língua inglesa, Hemingway.
Pauliane: Para
finalizar, gostaria que você fizesse uma pergunta a Luiz Vilela.
Marcelino: Vou
primeiro fazer um depoimento e depois uma pergunta.
Queria dizer que o Luiz Vilela, como escritor, é um exemplo
de como alguém escolhe, respeita e se entrega ao seu ofício. Ele pensa
literatura o tempo inteiro, com todo seu corpo e mente, com todos os sentidos.
É um escritor em pleno exercício de sua criação.
A pergunta é....
.... surpresa e será entregue pessoalmente ao Luiz Vilela
durante o 3ª seminário do GPLV, que acontece nos dias 28 e 29 de janeiro em
Ituiutaba (MG).
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