O ROMANCE DE UM
ARQUITETO DAS PALAVRAS
Perdição
Luiz Vilela
Ed. Record, 2011
400 p.
Perdição
é o mais recente romance de Luiz Vilela. Os diálogos densos e a descrição viva de
fatos, lugares, lendas e acontecimentos de uma pequena cidade do interior de
Minas Gerais provam, mais uma vez, ser Luiz Vilela um mestre na arte da escrita
e da construção de uma narrativa ficcional. A personalidade das personagens só
se apresenta ao leitor através de suas falas, entremeio silêncios, pistas
falsas e elipses.
Com a habilidade peculiar que tem para colocar suas personagens em cenas
dialogadas, Luiz Vilela dá voz ao narrador Ramon, que conta a historia de
Leonardo, seu amigo de infância, e entrelaça vidas e personagens em uma trama
que, a princípio, parece ser comum e corriqueira, mas cujo desenrolar ocorre
entre mistérios e versões contraditórias que envolvem a mais de meia centena de personagens
do romance.
Ramon é jornalista e relata as histórias
que lhe contam. Ele participa da vida da cidade e, sem influenciar as demais
personagens, faz com que elas exponham suas idéias, preconceitos e sonhos. E
assim, à semelhança de um guia satírico de olhar irônico-compassivo, discute
tabus religiosos, preconceito de raça, cor, posição social, sexismo, cuja crítica
está no próprio ato de reproduzir o diálogos.
Muitas das personagens desse Perdição
têm atitudes machistas e mostram racismo. Acreditam em Deus, mas são
intolerantes. São perspicazes, apesar de humildes e sem formação escolar. Mergulham
nos abismos da loucura, mas discutem o sentido ontológico da existência humana.
Ramon tem existência solitária, mas não se abala quando a linda e desejável ex-mulher
de seu melhor amigo se insinua para ele.
Perdição
é daqueles livros aos quais não podemos deixar de ler, pois é mais um
magnífico edifício ficcional erguido pelo arquiteto das palavras que é Luiz Vilela.
Raquel Celita Penhalves dos Reis
Mestranda em Letras, UFMS – Campus de Três Lagoas
e integrante do GPLV – Grupo de Pesquisa Luiz Vilela
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