Mostrando postagens com marcador Perdição. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Perdição. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Registro da entrega do Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2012


VENCEDORES DO PRÊMIO LITERÁRIO NACIONAL PEN CLUBE DO BRASIL 2012

As três categorias de premiações (Poesia, Ensaio e Narrativa) foram vencidas, respectivamente, por Ferreira Gullar, que recebeu prêmio das mãos da editora Maria Amélia, pelo livro "Em alguma parte alguma", publicado pela José Olympio Editora; Mary del Priore, que recebeu das mãos do historiador Arno Wehling, presidente do IHGB, pelo livro "Histórias Íntimas: Sexualidade e Erotismo na História do Brasil", publicado pela Editora Planeta; e, Luiz Vilela, pelo romance "Perdição", no ato representado pela editora-responsável do Grupo Record, Guiomar de Grammont.
As premiações consistiram na entrega de troféu “PEN”, originalmente concebido pelo escultor pernambucano Cavani Rosas, valor em dinheiro e certificado de participação. Criado em 1938, o prestigioso Prêmio do PEN Clube, considerado um dos mais antigos certames literários brasileiros, ao longo das décadas já foi conquistado pelos mais importantes escritores brasileiros. Restaurado e reestruturado no ano passado, as inscrições são abertas anualmente durante o período de maio a outubro por meio de edital amplamente divulgado. Poderão inscrever-se escritores brasileiros, inclusive por iniciativa de suas respectivas editoras, que tenham publicado livro nos últimos dois anos, sempre excluído o da realização do certame.
Informação publicada em <http://www.penclubedobrasil.org.br/  >,
referente a evento ocorrido no Rio de Janeiro
em 10 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

LUIZ VILELA AOS 70 ANOS

O escritor Luiz Vilela nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais, em 31 de dezembro de 1942. Completa hoje, portanto, 70 anos. Publicou, até o momento, seis coletâneas de contos, três novelas e cinco romances. Para 2013, programa uma nova coletânea de contos. Seu livro mais recente, o romance Perdição, saiu em dezembro de 2011. Acaba de receber, como melhor narrativa publicada no Brasil naquele ano, o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2012, honraria que já premiou autores dos mais importantes de literatura brasileira em todos os tempos. Marcando as sete décadas de vida do escritor e o primeiro ano do romance, o Grupo de Pesquisa Luiz Vilela publica resenha sobre o Perdição.

A resenha é do coordenador do GPLV, Rauer Ribeiro Rodrigues, que - em 4 de dezembro de 2011 - publicou a primeira resenha sobre o romance, "A divina Perdição - o épico bíblico de Luiz Vilela", que pode ser lida aqui. A seguir, um resumo da resenha. Na sequência, uma foto do escritor, o novo artigo de Rauer sobre o romance, e um pequeno trecho do Perdição.

Resumo: O escritor Luiz Vilela, que nasceu em Ituiutaba, MG, em 1942, lançou, em 2011, seu quinto romance, Perdição. Em quase quatrocentas páginas, Ramon, o narrador, relata a vida de Leonardo, um pescador conhecido como Leo, seu amigo de infância. Leo aceita convite para ingressar em uma nova religião, muda-se para o Rio de Janeiro e se torna o Pastor Pedro. Tendo sucesso na atividade, ganha dinheiro e impressiona a todos quanto retorna à pequena Flor do Campo, dirigindo seu carro e trajando terno e gravata. Após muitas informações não comprovadas e versões as mais desencontradas sobre as atividades do Pastor Pedro no Rio, inclusive algumas que garantem que ele foi para o exterior, Leo, em estado de penúria, retorna para sua cidade natal. Qualificado por Luiz Vilela como "épico de inspiração bíblica", em Perdição a pequena Flor do Campo é metonímia do Brasil. Romance polifônico, em que as personagens são desnudadas pelo narrador iluminista e cético, as páginas de Perdição destilam desencanto no laivo amargo de um tempo em que nem a esperança faz mais sentido. 
Palavras-Chave: Ficção e História; Literatura Brasileira; Polifonia.


  GPLV / Pauliane Amaral – maio 2011
O escritor Luiz Vilela, durante a 4ª Semana Luiz Vilela, em Ituiutaba, MG






DE LUIZ VILELA, PERDIÇÃO, METONÍMIA DE BRASIL


Rauer Ribeiro Rodrigues *




Há um ano saiu, pela Editora Record, o romance Perdição, de Luiz Vilela, que acaba de receber o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2012 de melhor narrativa de 2011. No romance, o ficcional tem por referência a história de nosso tempo, das tramoias nos gabinetes palacianos de prefeitos desajeitados e sem prumo às angústias, frustrações e alegrias cotidianas das pessoas comuns.
Luiz Vilela disse, certa vez, apreciar Heráclito, em virtude de o filósofo pré-socrático afirmar que o ouro está nas profundezas. Vilela entende que, diante de um texto literário, o leitor deve cavar sempre, pois assim sairá gratificado da leitura. Os livros do escritor evidenciam tal concepção, muito embora, em Luiz Vilela, a profundidade seja construída com a capa de uma simplicidade enganosa. 
O escritor — que nasceu em Ituiutaba, MG, em 1942 — despontou em 1967, ao ganhar, em Brasília, o Prêmio Nacional de Ficção. Daí para cá, recebeu diversos outros prêmios, foi adotado em vestibulares, traduzido em diversos países e adaptado para teatro, cinema e TV. A crítica elogia a concisão, o coloquialismo, a maestria do diálogo e o vigor da linguagem, o que é alcançado sem pirotecnias ou truques.
Perdição, lançado no final de 2011, é o quinto romance do escritor. Vilela é também autor de seis coletâneas de contos e três novelas. Publicou quase duas dezenas de antologias. Trabalhou, em seu último romance, mais de uma década. Resultou, desse lapidar incessante, amplificar ao limite os recursos linguísticos e narrativos de seu repertório, para — com ainda menos — expressar mais.
Mas, ao contrário da exigência de cavar sempre, o leitor sai gratificado tanto da leitura despretensiosa quanto do estudo compenetrado. Isso porque, como em toda a sua obra, Vilela opta por palavras do dia-a-dia, por diálogos corriqueiros, por questões cotidianas. As soluções empreendidas não deixam à mostra os andaimes, o leitor mergulha na obra, vivencia as pequenas dores, vitórias e dramas das personagens.
Contracenam, em Perdição, mandatários políticos e populares anônimos de uma pequena cidade, Flor do Campo. O narrador é o jornalista Ramon, formado em Letras, espírito racional e humanista. Uma mistura de Voltaire com Diderot. Satírico, se manifesta de modo claro no convívio com as muitas personagens humildes do romance. O mote da narrativa é a trajetória do pescador Leonardo, conhecido como Leo.
Convidado para ser pastor de uma nova igreja, Leo vai para o Rio de Janeiro, torna-se o Pastor Pedro, passa a viver com luxo e, devido ao seu novo status, ao carro, ao terno e à gravata, impressiona a todos quando visita Flor do Campo. Depois de uma cena patética com a filha, percebe que sua vida é uma farsa, mergulha nas drogas e termina de modo trágico. Não há, felizmente, juízo moral dessa trajetória.
Talvez pudesse o romance, em vez de trinta e três capítulos em quatrocentas páginas, ter quarenta e quatro capítulos em seiscentas páginas. Talvez algumas personagens, como o excêntrico e interessante Barroso, pudessem aparecer em mais capítulos. Talvez a procura pelo protagonista perdendo-se no Rio de Janeiro merecesse o relato de alguém à sua procura, sem encontrá-lo, como em uma descida aos infernos.
Isso, sem o romance perder suas sombras e seus silêncios, sem que esse mais —mantendo a sobriedade e as ambiguidades da narrativa — signifique menos. Teríamos outras nuances em temas como o da viagem, o do filho que sai de casa, o da queda inexorável, o da vida que se faz ruínas, o do retorno trágico em trajes do século XXI, aprofundando o indecidível sobre o qual o romance se afirma.
Talvez, também, pudesse Perdição conter outros gêneros textuais ou estratégias narrativas, em vez do idioleto de Vilela, fixado com predominância do diálogo. Tal variação, quando surge, dá força e vigor ao discurso romanesco, na maior parte esgarçado pela reiteração do diálogo, ainda que naturais e verossímeis. Exemplo disso é o clímax do romance, encenado pela voz interposta de uma reportagem de televisão.
Parece haver, assim considerando, insistência em um único modo de conduzir a narrativa, por cenas dialogadas em que o dito tem menor importância do que o silenciado, em sintonia com a obra anterior de Vilela, ainda que agora a fábula seja nova. Talvez tenha faltado o assombro do abismo, o mergulho no incerto, a reinvenção de procedimentos, a virgindade desbravada, a conquista de um novo modo de dizer.
“Às vezes”, diz o protagonista, “o que ficou para trás é o que está pela frente. [...] o que está pela frente é o que ficou para trás. [...] o que está embaixo é o que está em cima; e o que está em cima, o que está embaixo. [...] Às vezes o começo é o fim, e o fim, o começo” (Vilela, Perdição, p. 247-248). Talvez não tenha sido mimetizada na trama textual tal cambiante instabilidade do enredo, em que nada se firma como certo.
O narrador entremeia à trajetória do protagonista uma miríade de acontecimentos banais da cidade. Iluminista, seu olhar desesperançado desvela as personagens por suas falas, no mais desimportantes. Cético, sem compartilhar das crendices dos conterrâneos, o narrador, para nos valermos de uma metáfora, eviscera e desnuda as emoções das demais personagens, ainda que as motivações do protagonista permaneçam em sombras.
Vilela afirmou que Perdição é um épico de inspiração bíblica. Como pode ser épico, no retrato de pessoas simples, na tragédia de vidas secundárias, no enredo de miudezas, nas histórias sem glória que se sucedem? Uma leitura apressada diria ser epopeia do banal, elogio da mediocridade ou aglomerado de crendices rodeando entrecho previsível. Tal parecer se origina de profundo engano.
Se a vida encenada é medíocre, vulgar, previsível, sensaborona, agarrada a patuás, o romance de Vilela — sem escapismos — desvela a irrelevância do nosso modo de viver. A arte do escritor é, com tal argamassa, manter o pique por quatrocentas páginas que prendem até o dolorido final, mesmo sem que o leitor tenha motivo para se apaixonar por personagens tão comuns, tão próximas, tão gente como a gente.
A construção do romance — em sua linguagem coloquial, simples, e suas personagens triviais — é presidida por engenho e arte: técnica, conhecimento, talento, experiência, estudo. A simetria da divisão da narrativa, com onze capítulos em cada uma de suas três partes, não revela, por si só, a cuidadosa sequência de fatos, ainda mais que alguns parecem — embora não sejam — alheios ao relato da vida de Leo.
O que significam as remissões intertextuais (e não só à Bíblia), a tragédia do protagonista e, implícitas a cada passo, as tragédias cotidianas? Discernir tais questões deve ser o primeiro passo para cavar as profundezas. Decifrar o mediano de previsível banalidade, o segundo. E o terceiro, determinar o significado dos eventos sem (aparente) ligação direta com o núcleo central da narrativa.
Na verdade, Perdição é um épico que revela o Brasil do início do terceiro milênio, o Brasil profundo, sangrado por uma elite gananciosa, por políticos corruptos, por falta de ação geral das personagens e pelo desengajado modo de ser dos intelectuais. A obra de Luiz Vilela é um retrato do qual nenhum dos retratados deve se orgulhar, pois revela a alienação em que todos vivem: uns, por inconsciência; outros, por comodismo.
Em Perdição, Vilela constrói o portentoso edifício de uma epopeia que nos revela em nossa insignificância humana, em nossa brasilidade ridícula, em nossa civilização decadente e em nossa mediocridade pessoal. Tudo compõe um painel do descompasso de um país que não sabe o que fazer com a própria grandeza. Tudo reflete o ocaso de uma civilização sem vislumbre quanto ao seu futuro, se é que há algum futuro.
A tragédia de Leo, a mesquinharia de sua esposa, a ganância de Mister Jones e seus pastores, a ignorância dos feirantes, a crendice da dona da pensão, a cultura inútil do dono do jornal, o iluminismo, satírico e sem consequências, do jornalista narrador: nada resta — no desencanto com que o olhar épico vê a cidade de Flor do Campo, metonímia do Brasil — a não ser o laivo amargo da Perdição.


*  Rauer Ribeiro Rodrigues
Doutor em Estudos Literários pela UNESP de Araraquara, faz estágio pós-doutoral na UERJ, sob supervisão do prof. Roberto Acízelo de Souza, com pesquisa sobre o conto de Machado de Assis; professor de literatura brasileira e teoria da literatura no Câmpus de Corumbá da UFMS, coordena o Grupo de Pesquisa Luiz Vilela (acesse o blog do GPLV em http://gpluizvilela.blogspot.com/) e atua no Mestrado em Letras, no Câmpus de Três Lagoas, e no Mestrado em Estudos de Linguagens, no Câmpus de Campo Grande; escritor, tem sete livros de ficção publicados, e outros sete prontos por publicar; rauer.rauer@uol.com.br.

















       PERDIÇÃO
       Luiz Vilela
         Ed. Record, 2011
       R$ 39,90
         400 p.




Trecho do romance

Ele ficou um instante rememorando.
“Não sei”, disse; “não estou me lembrando muito bem do que eu disse aquele dia... Minha memória não anda muito boa, Ramon; não sei o que é...”
“Bom, mas isso também não tem importância”, eu disse. “Isso já ficou para trás.”
“Às vezes o que ficou para trás é o que está pela frente”, ele disse. “E às vezes o que está pela frente é o que ficou para trás.”
“É...”, eu concordei, sem entender o que ele queria dizer com aquilo.
“Às vezes também”, ele prosseguiu, “às vezes o que está embaixo é o que está em cima; e o que está em cima, o que está embaixo.”
Eu balancei a cabeça.
“Às vezes o começo é o fim, e o fim, o começo.”

 (Luiz Vilela, Perdição, p. 247-248)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

"Bóris e Dores" e outras notas, por J.C.Zamboni

12 de novembro de 2008.  
Disse o contista Luiz Vilela, em entrevista, que não via no escritor um papel messiânico, mas um papel higiênico. Faz sentido, sobretudo como complemento da função purgativa da literatura. (http://www.jczamboni.com.br/NOTAS40.htm).




28 de outubro de 2005.  
Depois de aula sobre gêneros literários, um aluno pergunta do qual mais gosto. O escritor Luiz Vilela, perguntado em entrevista sobre suas preferências em narrativa — conto, novela, romance —, disse ficar com os três: a loira, a ruiva e a morena... Além de conto, novela, romance, gosto também de poesia, ensaio, teatro, memórias, carta, diário. São as fases da lua, mas a lua é uma coisa só. (http://www.jczamboni.com.br/NOTAS2.htm).




3 de fevereiro de 2007. 
BÓRIS E DORES

José Carlos Zamboni

Luiz Vilela de livro novo, Bóris e Dóris (Record, 2006, 94 páginas). Li em duas horas, enquanto esperava a fila do Bradesco.
Conto longo ou novela? Nossa tradição editorial, sem a permissão dos professores de teoria literária, conseguiu rebatizar de novela o que, na verdade, seria um conto longo, quando editado sozinho e esticado pelas artes da diagramação. A universidade chia, mas engole a espúria nomenclatura.
Particularmente, gosto desses contos longos alargados pela editoração, com as páginas menos pesadas de texto, lembrando livros de poesia. É uma diagramação que ressalta a arte dos bons escritores. Dizem que as edições de Machado na velha Jackson — W. M. Jackson INC., pra ser mais exato — não são muito confiáveis, mas era com grande prazer que eu lia aquelas páginas com poucas linhas, quase apalpando palavra por palavra, numa espécie de braile mental.
O novo livro do Vilela lembra um pouco a novela anterior do escritor, Te amo sobre todas as coisas: quase a mesma extensão, longo diálogo de casal encrencado, estilo seco e perfeito. Os namorados do Te amo agora estão casados, o que faz de Bóris e Dóris, de algum modo, uma continuação da novela anterior. 
O enredo é tchekhovianamente discreto. Boris, sessenta anos, é empresário, está em viagem para convenção da empresa e levou Dóris, trinta e sete anos, esposa carente e depressiva. Quase toda a história se passa no hotel Campestre, durante o café da manhã: é a conversa de marido e mulher, enquanto ele espera o motorista que o levará à reunião que, presumivelmente, o consagrará como presidente do grupo empresarial.
Falam sobre tudo: os negócios, a vida, a morte, a solidão, o casamento já operando em vermelho. Por trás do humor, a sugestão do que vai acontecer em breve com a esposa, que já começa a ensaiar os primeiros passos do adultério e sobretudo da culpa. Termina com desfecho inesperado.
O livro não tem sexo explícito, nus frontais ou traseiros, sodomizações, como costumava haver em algumas obras do Vilela. Nem uma única trepadinha, pois nosso Boris deixava sua balzaquiana exposta a uma seca danada. E Dóris ainda não era mulher de se jogar fora: depois de uma caminhada pelo entornos bucólicos do hotel, vestia camiseta decotada e short curto, que bem ressaltava o belo bumbum arrebitado que Deus lhe deu. Era como estava vestida naquele café-da-manhã, pronta para um ataque que não acontecia, pois as baterias do nosso capitão de indústrias estavam voltadas para outros horizontes e arrebites.
O efeito dessa escamoteação sexual é deliciosamente machadiano: a história, com as dores da mulher desprezada, fica imensamente mais sacana do que se tudo estivesse à mostra. Algum maldoso diria que Vilela está na menopausa literária. Prefiro dizer que Bóris e Dóris é a obra mais erótica e mais madura do contista de Ituiutaba.
Há várias boas sacadas de estilo. Como isto não é artigo de revista acadêmica, posso citar só uma: em exatas duas linhas e meia, na página trinta e nove, Vilela mostra uma alucinação de Dóris: “De repente, as montanhas mexeram-se, ondularam-se e abriram-se, formando uma boca — uma boca obscena, uma boca...” É tudo. Quantas páginas não gastaria Clarice Lispector, genial quando conseguia controlar a verborréia, para obter efeito parecido?
03/02/2007
http://www.jczamboni.com.br/boris.htm

sábado, 29 de setembro de 2012

Literartes republica resenha sobre "Perdição"

Literartes 

Porque literatura tem fronteiras, não limites


O blog LITERARTES (http://www.literartes.com/), de Ana Cristina Vilela, republicou - no dia 20 de setembro - a resenha "A Divina Perdição", do professor Rauer Ribeiro Rodrigues, coordenador do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela - GPLV. A resenha, sobre o romance Perdição, de Luiz Vilela, lançado em dezembro de 2011 pela Editora Record, foi publicada inicialmente, em 4 de dezembro de 2011, em: 



Ana Cristina Vilela (foto) nasceu em Prata, no Triângulo Mineiro, e é formada em jornalismo. No momento, faz Mestrado em Literatura na UnB, com pesquisa sobre a obra A menina morta, de Cornélio Penna.
. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Vídeo sobre "Perdição"


A organização do Prêmio Portugal Telecom produziu vídeos das obras finalistas. Perdição, de Luiz Vilela, teve seu trailer produzido por alunos da "Oi Kabum!", de Belo Horizonte, com a seguinte equipe: Realizadores - Debora Arau e João Pedro Schneider; Supervisão de texto - Flávia Péret; Supervisão de animação, áudio e vídeo - Binho Barreto e Denis Leroy; Coordenação geral: Roberto Almeida. O vídeo está disponível em:

terça-feira, 18 de setembro de 2012

PERDIÇÃO: Resenha - 17

Luiz Vilela no encerramento da 4ª  Semana Luiz Vilela, em Ituiutaba (MG),
                                                          maio/2011. Foto de Pauliane Amaral, pertencente ao Arquivo do GPLV

O SONHADOR E O SOLITÁRIO

Rosana da Silva Araujo 
mestranda em Letras na UFMS de Três Lagoas;
 integra o GPLV – Grupo de Pesquisa Luiz Vilela; 

Perdição
Luiz Vilela
Romance, 2011
400 páginas
Ed. Record
R$ 39,90

O ficcionista mineiro Luiz Vilela lançou, em dezembro último, Perdição, seu quinto romance. Em Perdição, o leitor visualiza vários temas característicos da obra de Luiz Vilela, como o amor, o erotismo e a religião. O enredo, centrado na história de Leo, é narrado por Ramon, um jornalista que trabalha em um jornal de uma pequena cidade fictícia de Minas Gerais — Flor do Campo. Leo, pescador e amigo de infância do narrador, diante da crise com a pesca aceita o convite de um grupo de pastores para entrar na igreja liderada, no Rio de Janeiro, por Mister Jones.
O enredo — construído a partir da ascensão e queda de Leo, em sua empreitada religiosa — é marcado por longos e intensos diálogos, marca registrada de Vilela. Tais diálogos revelam a realidade dos moradores da cidadezinha como um espelho da sociedade brasileira na transição do segundo para o terceiro milênio: entre outros temas, sobressaem a ambição, a angústia, o consumismo, a religião, a política e o individualismo.
Ramon, mesmo se pondo como o melhor amigo do protagonista, narra a história de Leo com pouca ou quase nenhuma proximidade, já que quase tudo chega a ele de maneira indireta, através das especulações e conversas com outros moradores; entre esses estão Mosquito, vendedor de pimentas na feira, e dona Nenzinha, proprietária da pensão na qual Leo se hospeda, após retornar do Rio de Janeiro.
Os diálogos constroem pelo menos duas histórias centrais simultâneas: a do solitário Ramon e a do sonhador Leo. Ramon, ao narrar à história de Leo, entremostra sua própria vida, seus pensamentos, sua relação com a sociedade, com os amigos e com as mulheres. Leo, de pouco estudo formal, é inquieto, inteligente, questionador. É um sonhador, que corre atrás de seus objetivos, mesmo diante das adversidades.
Ramon, ao buscar notícias de Leo, deixa evidente sua solidão. Já no inicio da narrativa destaca não desejar se casar ou ter filhos. São poucos os seus amigos — e entre o narrador e eles há um fosso quanto à visão de mundo que professam. As diversas visões de mundo, que assim surgem, geram entrechoque do qual nenhuma versão sobrevive. A personagem revela outra característica da escrita de Vilela: o humor irônico. Ramon é iconoclasta, sempre com uma piadinha ácida sobre todas as coisas, com o que provoca o riso das demais personagens.
Perdição é livro indispensável para todos os leitores, do estudioso da literatura ao leigo, pela diversidade de temas, pela leveza da escrita e pela tensão dos diálogos.

Trecho: 
Conversa entre Leo e Ramon, 
durante uma pescaria.
“Às vezes eu fico lá, no meio dessa água toda e dessas matas, fico lá pensando essas coisas...”
Eu balancei a cabeça.
“De vez em quando um pássaro passa, atravessando o lago, e eu tenho vontade de perguntar: ‘Aonde vais, pássaro? Aonde vais, tão certo, tão seguro assim de teu destino?’”.
“O quê, hem, rapaz?..., eu disse, admirado.
Ele riu.
“Está virando poeta?”
“De vez em quando me vêm umas inspirações...”, ele disse, meio envergonhado.
“Muito bem...”
Poís é... Mas”, ele prosseguiu, “eu fico vendo esses pássaros, e ai eu penso: eu também queria estar assim, lá em cima, voando, livre, em direção a alguma coisa...”
                                                              (VILELA, 2011, p.17-18)