A ARTE CONCENTRAD A DO CONTO:
LUIZ VILELA LANÇA VOCÊ VERÁ
LUIZ VILELA LANÇA VOCÊ VERÁ
Rauer Ribeiro Rodrigues
Ficcionista, professor,
crítico literário
Ficcionista, professor,
crítico literário
A
sétima coletânea de contos do ficcionista mineiro Luiz Vilela, Você Verá, que
acaba de sair pela Editora Record, mantém o vigor inaugural do criador inquieto
diante de um mundo duro, uma sociedade mesquinha e uma civilização em crise, de
pessoas solitárias que tardiamente descobrem a necessidade de compartilhar suas
dores.
Você Verá contém onze contos, alguns publicados antes em jornais ou revistas literárias,
impressos ou digitais. Temas marcantes em Luiz Vilela se fazem presentes, como
a infância, a incomunicabilidade, o amor, as relações interpessoais, a morte, a
política.
A
forma narrativa preferencial continua sendo a do diálogo, em que a maestria do
escritor mais uma vez se demonstra, estabelecendo variações ousadas, indo do monólogo à citação de falas passadas em falas do presente. Há, ainda, conto construído apenas com declarações isoladas de
personagens que não trocam palavras entre si. De modo que o escritor mantém as
características que o consagraram como o melhor criador de diálogos de toda a
história da literatura brasileira, e acrescenta novas maneiras de contar. Vamos aos contos.
Em
"Zoiuda", um professor algo misantropo se torna
amigo de uma lagartixa.
Em
"Era aqui", um casal dialoga, e o homem relembra episódio
marcante de sua infância.
Em
"O que cada um disse", um fato inesperado gera diversas reações,
colhidas por um narrador que se circunscreve a dispor os comentários para os leitores.
Em
"Céu estrelado", um homem de negócios retorna para casa na noite de
Ano Novo e, após receber diversos telefonemas (da mulher, do sócio, do filho),
entra em uma estrada secundária, desliga o carro e,
deixando de participar da festa, "encostou a cabeça no banco, fechou os olhos e ficou ali, na escuridão, esperando passar o tempo, esperando o Ano-Novo passar".
Em
"Todos os anjos", pai e filho pequeno conversam sobre... anjos.
Em
"O Bem", um advogado de sucesso narra episódios de um estranho amigo
cujo apelido é Bem.
Em
"Quando fiz sete anos", a narrativa trata de um presente inútil dado
por um avô ao neto, em evocação da personagem
criança pelo narrador agora adulto.
Em
"Corpos", explode a violência de um tempo em que as máquinas dominam
a vida humana, com a naturalização da morte como espetáculo.
Em
"Noite feliz", a personagem recebe parentes para o Natal, ou imagina
que os recebe, e para eles prepara surpresa que é questionamento feroz dos fundamentos
da civilização hebraico-cristã Ocidental.
Em
"Mataram o rapaz do posto", a violência que invade o cotidiano
brasileiro, mesmo nas pequenas cidades do interior, tem uma clave de humor
chistoso.
Em
"Você verá", a história do país é substrato
amargo que lateja em diálogo prosaico ocorrido quarenta anos antes do diálogo
ser narrado.
Os
onze contos reunidos por Luiz Vilela desde o lançamento, em 2002, de A
Cabeça, contêm força narrativa e qualidade
estética para repetirem o mesmo fato que constatamos quando daquele lançamento:
em algum momento, ao percorrermos as críticas publicadas, perceberemos que
conto algum do Você verá ficará sem
algum crítico o destacar como a obra-prima da coletânea.
Esta é a
principal força deste novo livro: os contos de Luiz Vilela são sempre leitura
indispensável.
Mesmo
se aqui ou ali houver um tema repisado, mesmo que aqui ou ali uma solução
narrativa seja revisitada, mesmo que eventualmente uma formulação estética seja
retomada, cada conto de Luiz Vilela traz em si toda a arte concentrada da
história do conto universal e do conto brasileiro, tornando-se modelar,
exemplar, inesquecível.
Vá ao
livro: Você Verá.
SERVIÇO
Lançamento do livro Você Verá
Dia 26 de novembro, 3a.-feira,
a partir das 19 horas:
LIVRARIA MINEIRIANA
Rua Paraíba, 1419 - Savassi
Belo Horizonte -MG
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