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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LUIZ VILELA E RUBEM BRAGA

                Rubem Braga, o “sabiá da crônica”, que nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, em 12 de janeiro de 1913, faria em 2013 cem anos. A data está sendo lembrada e comemorada pela imprensa de todo o país.
            Rubem Braga foi um dos autores fundamentais na formação literária de Luiz Vilela, conforme este, por mais de uma vez, declarou em suas entrevistas e depoimentos.
            Vilela começou a lê-lo ainda adolescente, em Ituiutaba, na Manchete, e depois no Diário de Notícias, do Rio. Mais tarde, em Belo Horizonte, comprou o seu livro 100 Crônicas Escolhidas, que tinha acabado de sair. O livro aparece numa das crônicas que Vilela, então com 15 anos, mandava regularmente da capital mineira para um jornal de sua cidade, a Folha de Ituiutaba.
            Oito anos depois, em 1963, quando Vilela, com 23 anos, tentava a publicação de seu primeiro livro, de contos, uma das editoras a que enviou os originais foi a Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino. Passado algum tempo, recebeu de volta os originais, acompanhados de uma carta explicando os motivos da recusa. A carta era assinada por Rubem Braga.
            Em 1968 Rubem Braga fez parte da comissão julgadora do I Concurso Nacional de Contos, do Paraná, concurso no qual Luiz Vilela, que já tinha, então, publicado seu primeiro livro, de contos, o Tremor de Terra, foi um dos premiados.
            Em 1979 foi realizada, em São Paulo, pela Secretaria Municipal de Cultura, a Semana do Escritor Brasileiro, e Luiz Vilela, com 36 anos, alguns livros publicados, e já bem conhecido do público e da crítica, foi convidado a participar. O mais novo da turma de escritores, ele falaria na mesma noite em que Rubem Braga, além de outros três escritores, falaria.
            Um imprevisto, porém, impediu que Vilela viajasse e ficasse conhecendo pessoalmente o escritor. Isto só veio a acontecer em 1985, no Congresso Brasileiro de Escritores, realizado também em São Paulo e do qual os dois faziam parte. Vilela viu Braga na saída de uma das sessões, no Teatro Sérgio Cardoso, mas não chegou a conversar com ele.
            A seguir, vão aqui reproduzidos a crônica de Luiz Vilela, a carta de Rubem Braga e o cartaz, frente e verso, da Semana do Escritor Brasileiro.




sábado, 17 de novembro de 2012

Batepapo com Luiz Vilela no "Cândido"


CÂNDIDO - Jornal da Biblioteca Pública do Paraná, nº 16, novembro 2012, p. 4-9.
http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=160 
Governo do Estado do Paraná - Secretaria da Cultura

Um Escritor na Biblioteca: Luiz Vilela


Luiz Vilela é um dos raros casos de escritor que já nasceu “pronto”. Desde sua estreia, aos 24 anos, com o livro de contos Tremor de terra, o escritor mineiro demonstrava um domínio literário pouco comum para estreantes. Desde então, o autor só fez apurar o domínio técnico demonstrado nos primeiros livros, tornando-se reconhecidamente um mestre do diálogo. Além da arrebatadora estreia com Tremor de terra, coletâneas de histórias curtas como No bar, O fim de tudo e A cabeça, fizeram de Vilela um dos maiores contistas da literatura contemporânea. Também romancista, o mineiro é autor do controverso O inferno é aqui mesmo, sobre sua experiência como repórter no Jornal da Tarde, em São Paulo. No batepapo, mediado pelo também escritor Miguel Sanches Neto, Vilela falou sobre suas primeiras tentativas de fazer ficção, sua estreia aos 14 anos como contista em um jornal de sua cidade natal, Ituiutaba (MG), e de suas principais influências — Dalton Trevisan e Ernest Hemingway.

Nascido em 1942, Vilela se formou em filosofia e integrou uma geração de escritores mineiros fantástica, que orbitava em torno da figura icônica de Murilo Rubião. Em Belo Horizonte, fundou a revista Estória. “Nessa época, foi criado o Suplemento Literário de Minas Gerais, que foi uma criação de Rubião. Frequentávamos sempre o Suplemento, convivíamos muito com escritores de gerações mais antigas”, disse o escritor, que também falou sobre o processo de escrita de seu mais recente romance, Perdição. “Comecei a escrever e fui me empolgando com o conto. E aí aquele conto foi crescendo. Então, comecei a estender, bem parecido com uma árvore: aquele galho virou aquela árvore frondosa de quase 400 páginas que é o livro.” Confira os melhores momentos do bate-papo.


Primeiras bibliotecas

Essa [primeira] biblioteca, para a minha felicidade, eu tive em casa, porque tanto meu pai como minha mãe gostavam muito de ler e, além disso, eu e meus irmãos, também gostávamos muito de ler. Todos tinham sua estante de livros. Minha vontade de ler era tanta, que aprendi a ler sozinho. Quando entrei na escola, já sabia ler. Então essa foi minha biblioteca. Bem variada, até mesmo porque cada uma dessas pessoas — mãe, pai, irmãos — tinha interesses particulares de leitura. Então, isso tudo para mim foi muito importante, porque desde de muito cedo tive contato com o mundo dos livros e com tudo que os livros significam, em tempo de formação, de prazer de ler. Mas, biblioteca no sentido de biblioteca fora de casa, só fui ter quando morei em Belo Horizonte. Lá, frequentava muito a Biblioteca Pública. Também havia uma biblioteca muito boa, da Universidade Federal de Minas Gerais [UFMG], que ficava fora da universidade. Mas, enfim, para resumir: onde houvesse livros, lá estava Luiz Vilela.


Escrita

Foi uma coisa espontânea. Essa pergunta sempre ocorre [como você começou a escrever]. Costumo dizer que, depois de ler tantas histórias, as mais variadas, já adolescente, um belo dia me deu vontade de escrever as minhas histórias. É aquela coisa que não tem uma explicação, muito lógica: se é tão gostoso ler, com será escrever? Claro que não me formulei essa pergunta, mas foi um pouco isso. Contaminado, digamos assim, por aquelas histórias, me deu vontade de escrever também. Isso aos 13 anos. Fiquei tão empolgado com aquilo, que continuei escrevendo, escrevendo e não parei nunca mais. Costumo dizer que não tirei férias da literatura dos 13 anos até agora, os 69 anos. Nunca parei de escrever.


Voz própria

E é claro que há todo um processo: você começa a escrever e comparar o que escreveu ao que leu. Se aquela história era tão boa, como será a minha? Dai você começa a perceber que não é tão boa, que falta isso, faltava aquilo, daí vem aquele aprendizado do escritor. É um processo que talvez ocorre com todo escritor, acho que talvez com todo artista. No começo, tenta-se imitar os autores preferidos, você começa a escrever mais como eles. Depois, com o tempo, vai-se descobrindo sua própria voz. Mas, claro, esse processo é demorado.


Primeiras histórias

Às vezes, penso comigo mesmo: por que comecei a escrever? Ligo isso também à questão da minha infância, porque eu brincava muito com uns bonequinhos. Acho que todo menino brincou com essas coisas. Mas, no meu caso, eu criava um mundo, fazia uma cidade, tentava reproduzir filmes que via no cinema da minha cidade. As histórias em quadrinho, lia pilhas de histórias em quadrinhos. Assim que a adolescência foi chegando, naturalmente fui deixando aqueles brinquedos, e a literatura foi, de certa forma, o substituto dessas brincadeiras. Costumo dizer ainda que a literatura é minha brincadeira de adulto.


Estreia

Comecei aos 14 anos, publicando contos nos jornais da minha cidade. Meus professores sempre elogiavam as minhas redações, que na verdade não eram redações, eram contos que eu escrevia na sala de aula. E com esse entusiasmo, fui percebendo que meus textos tinham uma resposta. Então, me aventurei a publicar no jornal da minha cidade. Curiosamente, levei um conto lá, com 14 anos. Na época, era o jornal melhor da cidade. O editor leu e publicou. Aí já me senti autor publicado. Então, como já disse, não parei mais de escrever.


Primeiras influências 

Quando publiquei meu primeiro livro, Tremor de terra, e ganhei, junto com o Dalton Trevisan, o Concurso Nacional de Contos, fizeram uma longa entrevista comigo em Belo Horizonte, e surgiu aquela clássica pergunta: quais foram suas influências? Aí, em respostas curtinhas, que eu costumo dar até hoje nas minhas entrevistas, eu disse: um autor brasileiro, Dalton Trevisan; um autor estrangeiro, Hemingway.


Belo Horizonte

Quando fui a BH, com 15 anos, passei a mandar semanalmente uma crônica para outro jornal da minha cidade. Depois, passei a publicar em jornal lá em BH. Daí comecei a conhecer os novos, outros jovens que também escreviam. Na falta de lugar para publicar, nos reunimos e criamos uma revista, tudo pago do nosso bolso, também uma coisa que ocorre muito na literatura. Daí fui nessa trajetória até nos meus 21, 22 anos. Quando veio a vontade de publicar meu livro, eu já tinha muitos contos escritos, alguns já publicados. Reuni-os em dois livros na época. Peguei o primeiro deles, que estava com mais vontade de publicar, e mandei para editora, que mandou uma carta de recusa. Tive várias recusas. Então resolvi que, enquanto meu livro corria entre as editoras, publicaria, por conta própria, o outro material que estava comigo. Na época, procurei a gráfica mais barata que havia em BH, porque trabalhava na época como secretário no departamento de filosofia, tinha recentemente me formado. Procurei uma gráfica que se chamava grafiquinha — com g minúsculo ainda. Publiquei e poucos dias antes do livro ficar pronto, fiquei sabendo de um concurso que ia ocorrer em Brasília. Fui lá e pedi para moça imprimir correndo cinco exemplares para enviar ao concurso. Ela imprimiu lá, mandei e ganhei o Prêmio Nacional de Ficção, que na época era o maior prêmio literário do Brasil.


Geração fantástica

Os anos 1960 e 1970 realmente foram uma época muito marcante. Agora, essas coisas têm certos fatores casuais, mas o fato é que, na época, pelo próprio tamanho da cidade, BH era ainda uma cidade menor, havia muito encontro entre escritores, nos botecos. Nessa época, foi criado o Suplemento Literário de Minas Gerais, que foi uma criação do Murilo Rubião. Frequentávamos sempre o Suplemento, convivíamos muito com escritores de gerações mais antigas. Diferente do que costuma acontecer, em que os mais jovens sempre tentam escorraçar a geração mais velha, com nós foi diferente. Tínhamos uma convivência muito boa com os mais velhos. Claro que tínhamos nossas briguinhas. Mas havia uma efervescência, várias revistas, além da nossa, que se chamava Estória. Para se ter uma ideia, essa revista que nós fizemos, chegou a ser considerada, por uma publicação americana, como a melhor revista do continente sul-americano. Então, isso pra nós foi sensacional.


Jornalismo

Como tantas coisas que nos acontecem na vida, o jornalismo não foi uma escolha. Na época, eu tinha acabado de me formar e, apesar de ter me formado no curso de filosofia, não tinha vontade de dar aula. Aí fui convidado para ser secretário do departamento de filosofia da antiga UMG, que agora é UFMG. Achei uma maravilha, não queria dar aula. Lembro que na época saiu a edição brasileira de Ulysses. Então, na minha mesa, de um lado estava Ulysses e do outro o "Estatuto do Magistério", que era um texto chatíssimo. Mas, quando não tinha ninguém, abria Ulysses e, quando chegava algum professor, eu fechava e abria o "Estatuto", que era discutido em várias reuniões. Fiquei três anos como secretário e acabei sendo demitido, por conta de contenção de despesas.


Jornal da Tarde

Na ocasião, surgiu o convite para eu ir para o Jornal da Tarde, em São Paulo — e, só para informar vocês, lá já estava assim de mineiros. Eles falavam que tinha o mineiro da semana. E eu fui por causa de alguns colegas que já estavam lá na redação. A justificativa para eu ser convidado — na época eu já tinha meu primeiro livro publicado —, é que meu texto era muito jornalistico. Fui, me dei bem, gostei muito.


Estados Unidos

Quando eu já era contratado do jornal, surgiu, então, um convite para eu ir aos Estados Unidos, em um programa que levava escritores do mundo inteiro e chamava International Writing Program. Claro, recebi o convite e não pensei duas vezes. Fui. Lá fiquei nove meses. Era um programa maravilhoso, aquela vida em que o escritor não tinha obrigação nenhuma, se quisesse escrever, podia escrever, mas também se não quisesse, não precisava escrever, nem bilhete. Poderia ficar dormindo o dia inteiro, enchendo a cara, se drogando. Muitos fizeram isso. Ou jogando sinuca, como eu. Foi uma experiência muito importante pra mim, foi a primeira vez que saí do país, estava com 25 anos. Como escritor, aproveitei muito, porque tinha tempo e retomei um romance que eu tinha começado em BH.


O inferno é aqui mesmo

Tempos depois, escrevi O Inferno é aqui mesmo, que é baseado na minha experiência no Jornal da Tarde e em São Paulo. Esse livro me deu muita dor de cabeça, repercussão. Teve gente que quis mover processo contra mim. Um crítico literário publicou um artigo de quase uma página, no Jornal da Tarde, cujo título era “Este não é um romance, é uma vingança pessoal cheia de chavões”. Na página inteira, para meter o pau no meu livro, ele falava em Marlon Brando, em Mozart, falava em Truman Capote, Henry James e por aí vai. Poxa, nunca vi um cara malhar tanto um livro meu com tantas boas figuras. Foi sensacional. Quase gostei do artigo dele. Mas o mais interessante de tudo era a ilustração que acompanhava o artigo. Era uma pessoa passando pelo rolo da máquina de escrever, como em desenho animado quando o pessoal passa em baixo da porta, achatado. Então, tinha o rolo da máquina achatando o cara, como se eu tivesse achatado todo mundo do jornal. E não foi assim. Eu explicava que não tinha sido isso, muito pelo contrário: tinha e tenho ótimas lembranças do jornal, convivia muito bem com todo mundo. Mas eu mostrei a realidade. Sabe-se que onde há um grupo de pessoas, há competição, não fica todo mundo fazendo gracinha e rezando, não, o negócio é bravo. E eu retratei isso.


Incompreensão

As pessoas achavam que o título se referia ao Jornal da Tarde. Não. O inferno é a cidade de São Paulo. Se a pessoa ler com atenção o livro, vai ver que o inferno a que me refiro, em quase termos simbólicos, é o inferno da condição humana, do relacionamento das pessoas, da solidão, da falta de amor, é tudo isso que está lá no livro. Mas a pessoa, com aquela leitura rápida, ou mesmo antes de ler, já tem uma opinião a respeito do livro. Isso aconteceu também com meu primeiro romance, Os novos, porque também retratei, como o Miguel Sanches Neto contou aí pra vocês, a minha geração, mas em termos ficcionais. Os novos também me deu muita dor de cabeça, porque essa geração não gostou de se ver como modelo do que estava no livro, dos personagens que estavam ali.


Críticas negativas

Desde o início, recebi poucas críticas negativas, mas recebi algumas pesadas, como essa que acabei de contar pra vocês. Mas quando recebi as primeiras críticas, alguém lá em BH me disse, fato que nunca pude comprovar, que o Guimarães Rosa tinha uma caderneta em que anotava as críticas. As negativas, ele colava de cabeça para baixo. Se é verdade, não sei. Mas fiquei tão entusiasmado com isso, que fiquei pensando em fazer algo semelhante, mas fui mais radical: pensei em comprar um rolo de papel higiênico, mas achei que não valia a pena e acabei usando o papel para outras coisas mesmo.


Voz própria

Isso, de voz própria, talvez seja uma coisa que os outros percebam, até porque eu, digamos, nunca parei para pensar sobre isso. Fui escrevendo, escrevendo, escrevendo e é isso. Acho que isso foi surgindo naturalmente, progressivamente. É claro que, no começo, tinha consciência de que ali estava a influência de tal autor e isso me incomodava. Hoje noto que os meus primeiros contos, realmente tinham influência mais forte, digamos assim, de determinados autores, porque influência nós temos, todos temos e não há mal nenhum que haja influência. Até porque, não existe nenhum escritor que seja totalmente original. Porque nós, quando nascemos, temos toda a literatura que existe à disposição e fatalmente somos influenciados. E não há mal nenhum que sejamos influenciados.


Linguagem realista

A minha resposta, talvez um pouco atrevida, é que eu realmente não fico pensando sobre meu trabalho como escritor. Não sei responder sua pergunta, porque eu trabalho de uma maneira quase intuitiva, quer dizer, não fico voltado para minha obra, pensando no que já fiz. As coisas que me despertam vontade de escrever, escrevo. Se vocês pegarem meus primeiros contos e comparar com um conto de hoje, ou um romance, vão ver que há uma mesma linha de narração, de palavras, de textos, de construção. Não quer dizer que eu não trabalhe o meu texto, que eu não leia, que não tenho consciência das coisas que estão acontecendo ou aconteceram na literatura, mas não fico refletindo sobre meu próprio trabalho. Há autores que às vezes escrevem livros inteiros sobre o seu trabalho. Tem um caso clássico do autor mineiro Autran Dourado [morto em 30 de setembro de 2012], que escreveu Gaiola 
aberta. Jamais escreveria um livro desse tipo. Não quero ficar pensando no meu trabalho, quero escrever aquilo que desejar, seja o que for.


Perdição

Escrevi este livro ao longo de dez anos. Quando digo isso, não quero dizer que fiquei dez anos seguidos escrevendo o livro, até porque nesse período eu publiquei um outro livro e alguns contos esparsos e tal. Mas o romance deu muito trabalho e, mais uma vez, não tive um propósito declarado: vou escrever um livro sobre tal coisa. Isso foi surgindo naturalmente. Por volta do ano 2000 recebi um convite, como às vezes acontece, de uma editora que queria fazer uma antologia de contos baseados nos 12 apóstolos. O editor me disse que eu era o primeiro convidado e que, por conta disso, poderia escolher o apóstolo que quisesse. Então, escolhi São Pedro. Combinei com ele um prazo e, realmente, me pus ao trabalho. Comecei a escrever e fui me empolgando com o conto. Depois que terminei, fui reescrever. Processo bastante demorado. E aí aquele conto foi crescendo, crescendo e de vez em quando o editor me ligava: “E aí, Vilela, o conto tá pronto? O prazo já passou”. E eu: “Não, tá quase, tá ficando bacana, você vai ver”. E aí pensei: “É, isso aqui vai dar uma novela, porque não é conto mais, não”. Parti e disse: é, vai ser uma novela mesmo, mas fiquei quietinho. Daí o editor ligou, bronquiando: “Pô, o conto não ficou pronto, como é que é?” Eu falei: “Olha, infelizmente eu acho que não vai dar, não, viu? Até hoje eu não acabei esse conto”. Bem, aí no dia de terminar o livro, escrevi debaixo Novela, como às vezes a gente faz. Mas fui reler, fazer novas correções, todo aquele trabalho infinito, como costumo dizer. A novela foi crescendo, aparecendo novos personagens que eu não tinha pensado antes, outras histórias surgindo, uma puxando a outra. Dai falei: “Poxa, isso vai ser um romance”. Então comecei a estender, bem parecido com uma árvore: aquela árvore magrinha, que foi crescendo, de repente um galho para cá, um galho para lá e virou aquela árvore frondosa de quase 400 páginas que é o livro. Esse foi o processo.


Leituras de formação

A partir dos 14 anos, li tudo que poderia ler. Shakespeare, Tolstói, Balzac. Queria ler tudo, queria conhecer tudo. Sem falar nos autores próprios da minha época, Julio Verne, Conan Doyle, Karl Meier. Lia o que eu encontrava. Além disso, lia livros sobre história geral, lia filosofia, lia religião, uma coisa assim, onde eu visse uma coisa para ler, pegava e lia. Uma época, li no jornal que meu pai assinava, na época de Semana Santa, um sermão do Padre Vieira. Nunca tinha lido Padre Antônio Vieira. Fiquei tão entusiasmado, fui até meu pai e disse que tinha vontade de ler os outros sermões. Papai então comprou. Comecei a ler, mas, confesso, não terminei todos os sermões até hoje. Mas já foi muitas vezes meu propósito: ler de ponta a ponta os sermões de Vieira. Até hoje concordo plenamente com o Fernando Pessoa, que chamou o Vieira de um imperador da língua portuguesa. Mas, enfim, eu lia tudo, por gosto mesmo de ler.


Dalton Trevisan

Quando comecei a escrever, já tentava fazer uma leitura dos autores com olhos críticos. Nessa época tive, já em BH, uma grande descoberta, um autor chamado Dalton Trevisan. Lembro que quando li o Trevisan nos suplementos do Rio que eu comprava, no Diário de Notícias, e no “Suplemento Literário”, do jornal O Estado de S.Paulo, lia e pensava: poxa, esse cara escreve diferente de todo mundo que eu li até agora. E me pegou assim pra valer; então, alguns contos meus, do começo, tem muita influência do Dalton.


Método de escrita

Sou anárquico, escrevo qualquer hora. Gosto do silêncio, não gosto de escrever com barulho, não. Então, por esse motivo, prefiro escrever à noite. À noite que eu digo é depois da meia-noite, porque até a meia-noite, na minha cidade, é um barulho infernal. Porque hoje, lá em Ituiutaba, como tantas outras cidades do Brasil, tem muitos carros, motos, etc. Fora os carros de propaganda. Então, é barulheira o dia inteiro — e eu moro num lugar bem central.


Leitura dos contemporâneos

A essa altura do campeonato, cheguei à conclusão que, ou eu leio os livros dos outros, ou escrevo os meus próprios livros. Porque não há tempo mais. Recebo muita coisa em casa. Publicação hoje no Brasil é uma coisa impressionante. Todo dia aparece um contista, aparece um poeta, aparece um romancista. Então, não há como acompanhar mais isso. É difícil passar uma semana sem que eu receba um livro. Mas dou uma olhada. Curiosidade natural, saber o que o cara tá fazendo, mas dificilmente leio o livro inteiro. Já não tenho tempo para escrever os meus próprios livros.


© Biblioteca Pública do Paraná - BPP
Cândido Lopes, 133 - Curitiba - PR

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Adaptação de conto de Vilela ganhou prêmio teatral

21/06/2011 8:41
http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/%E2%80%9Ca-rua-da-amargura%E2%80%9D-e-eleita-a-melhor-em-festival-de-curtas/


“A Rua da Amargura” é eleita a melhor em festival de curtas

Núbia Mota Repórter

“A Rua da Amargura” é uma adaptação do conto homônimo do escritor Luiz Vilela
“A Rua da Amargura” é uma adaptação do conto homônimo do escritor Luiz Vilela
“A Rua da Amargura”, do Grupo Meca de Ituiutaba, foi a cena vencedora do 4º Festival Cenas Curtas de Uberlândia, realizado no último fim de semana no Teatro da Escola Livre do Grupontapé de Teatro.  O trabalho foi escolhido entre dez selecionados para a mostra. É uma adaptação do conto homônimo, do escritor Luiz Vilela e faz parte do espetáculo “Meca encena Luiz Vilela”, sob direção de Júlio Maciel. O segundo lugar foi para “O Defunto”, do Grupo Galharufas, e o terceiro colocado foi “Entre águas e véus”, do ator Ernane Fernandez do Nascimento, ambos de Uberlândia.
As três cenas vencedoras receberam prêmios de R$ 1,5 mil, R$ 1 mil e R$ 500, respectivamente. O público que participou do festival pôde participar da escolha. Os presentes receberam uma cédula para votar nas três melhores cenas da noite. Os 10 selecionados, dos 15 inscritos, ainda passaram por um júri técnico. Quem não viu os trabalhos vencedores, pode  assisti-los no dia 26 deste mês, às 20h, no Teatro da Escola Livre do Grupontapé e outra vez em local, data e horário a serem definidos pela Diretoria de Cultura da UFU.
1º LUGAR
Rua da Amargura
Grupo: Meca – Ituiutaba _MG

O enredo mostra o conflito entre uma mulher, que cuida do pai doente e seus dois irmãos. Estes visitam a irmã com o objetivo de convencê-la a deixá-los tirar os dentes de ouro do pai, acamado e inconsciente, para vendê-los e pagar as dívidas. 
2º LUGAR
O Defunto
Grupo Galharufas – Uberlândia – MG

A cena mostra mulheres que vivem o encontro e desencontro da dor de não saberem mais quem são. “O Defunto” trata de mulheres que descobrem redes de relações ambíguas, confusas e difusas. Mulheres docemente loucas e loucamente reais.
3º LUGAR
Entre Águas e Véus
Ernane Fernandez do Nascimento

Inspirado no livro “Lavoura Arcaica”, do autor Raduan Nassar, “Entre Águas e Véus” mostra a luta entre a tradição e a liberdade, narrando a história de um jovem encarregado de revelar o avesso dos valores religiosos e familiares impostos pela família patriarcal.

sábado, 16 de junho de 2012

Vira-Latas adapta Luiz Vilela para o teatro

Dia 27 de junho, no IFTM - Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Câmpus de Ituiutaba, o Grupo de Teatro Vira-Latas apresenta Sete pecados, com a adaptação de textos de Luiz Vilela. O trabalho de criação e direção é coletivo. Confira, abaixo, o belo e criativo cartaz do espetáculo.



OBS. de 25 de junho: o espetáculo marcado para o dia 27 de junho foi adiado; assim que nova data for decidida, repassamos a informação em nova postagem.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Alunos participam da 4a. Semana Luiz Vilela

A Escola Estadual Governador Israel Pinheiro, de Ituiutaba, MG, registrou a participação dos seus alunos na 4a. Semana Luiz Vilela, que aconteceu na cidade natal do escritor de 9 a 13 de maio deste ano. A cicerone dos alunos foi a professora Lúcia Lopes. A primeira atividade dos estudantes foi assistir a Bóris & Dóris - o filme, adaptação - realizada por acadêmicos da UFMS - da novela homônima de Luiz Vilela.

Confira a notícia no blog da Escola:
http://www.eegipitba.com.br/2011/05/4-semana-luiz-vilela.html.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Registro da 4a. Semana Luiz Vilela no "Jornal do Pontal"

Disponível em: http://www.jornaldopontal.com.br/index.php?ac=news&id=4951.

CULTURA
Luiz Vilela participou do encerramento da 4ª Semana realizada em sua homenagem

Ituiutaba, Jornal do Pontal, 17 de Maio de 2011 - texto original de Hairton Dias, assessor de imprensa da Fundação Cultural de Ituiutaba - FCI (http://fundacaoituiutaba.com.br/)


Numa promoção da Fundação Cultural (FCI) em parceria com a Fundação Educacional de Ituiutaba (Feit), encerrou-se na última sexta-feira, 13, a 4ª Semana Luiz Vilela, quando o autor de vários livros e contos marcou presença, oportunidade em que brindou aos participantes do evento, lendo um conto inédito de sua autoria, intitulado “Bem”, no qual mostrou a sutileza e a facilidade com que escreve, o que lhe proporciona o reconhecimento nacional de ser um dos mais consagrados contistas do País.

A realização pela quarta vez da Semana que homenageou Luiz Vilela contou com a presença de vários escritores ituiutabanos, como Regina Marques, Lidiane Ribeiro, Edson Ângelo Muniz, Alciene Ribeiro Leite, Enio Eustáquio Ferreira, Leila Miguel, Rauer Ribeiro Rodrigues, e diretores, professores e estudantes de escolas de curso médio e superior de Ituiutaba e Mato Grosso do Sul, tais como Feit/UEMG, IFTM, UFMS, EMMA, Polivalente, Bias Fortes, Tonico Franco e João Pinheiro.

A realização contou ainda com as parcerias da Paranaíba Transportes, ALAMI, Líder Hotel, Restaurante Imperador e vários outros segmentos que apoiam o desenvolvimento da Cultura em Ituiutaba.

A abertura da semana contou com a apresentação do Coral Municipal Abrão Calil Neto, sob a regência da maestrina Mirza Maria Cury Diniz homenageando o autor. Tivemos a exibição de um filme, Bóris & Dóris, adaptado da obra de Luiz Vilela. Posteriormente à exibição do filme ocorreu debate mediado pelo escritor ituiutabano Rauer Ribeiro Rodrigues, diretor do filme e que trouxe para o evento estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS - que fazem mestrado baseado na obra do escritor.

A 4ª Semana Luiz Vilela prosseguiu no dia 10 com o tema “O inferno é aqui mesmo? Escritores jornalistas desvendam os bastidores das redações”, palestra de Cristiane Costa, jornalista e doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, autora do livro Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil, 1904-2004, seguida de debate com o público.

Houve também a exibição de um vídeo com entrevista dada por Luiz Vilela em 2007, em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil, no projeto “Laboratório do Escritor”.

No dia 12, seria proferida a palestra “O politicamente incorreto nas entrevistas de Luiz Vilela”, pelo professor José Carlos Zamboni, escritor e doutor em Letras que atua na Universidade Estadual Paulista – UNESP, mas o encontro foi cancelado devido o palestrante estar com uma forte virose. A palestra do escritor José Carlos Zamboni ficou para ser proferida em data a ser marcada.

Em substituição, sob a coordenação do escritor e professor Rauer Ribeiro Rodrigues, e contando com a participação das estudantes mestrandas da UFMS, foram apresentados vários trabalhos pelas estudantes que pesquisam Luiz Vilela, cada uma enfocando um tema baseado na obra do escritor. São elas: Fabrina Martinez de Souza, Janaina Paula Malvezzi Torraca da Silva, Laura Eliane de Magalhães  Alvarez Delgado,  Raquel Celita Penhalves dos Reis,  Rosana da Silva Araújo e Pauliane Amaral.

No dia 13 ocorreu o encerramento da Semana, quando o escritor Luiz Vilela fez a leitura do conto inédito “Bem”. Em seguida aconteceu um debate e o escritor respondeu perguntas do público presente. Posteriormente ocorreu uma sessão de autógrafos.

O presidente da Fundação Cultural, professor Francisco Roberto Rangel, esteve presente no encerramento da Semana e disse que sem dúvida o evento foi um sucesso: "estamos aqui encerrando a 4ª Semana Luiz Vilela onde foi mostrada a sua obra. Tivemos a participação de vários palestrantes, destaque para Cristiane Costa, jornalista e doutora em comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estudiosa da obra de Vilela, inclusive o doutorado que ele fez foi baseado em um dos livros do autor. Sua presença enriqueceu a realização desse evento”, afirmou.

Afirmou ainda: “Luiz Vilela, prata da casa, é um dos grandes escritores brasileiros e um dos maiores contista do país. Seus contos são discutidos em várias faculdades do Brasil, inclusive tivemos um professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da cidade de Corumbá, Rauer Ribeiro Rodrigues, que trouxe as suas alunas mestrandas para participarem dessa semana que se encerra hoje”, disse Rangel.

O escritor e professor Rauer Ribeiro Rodrigues destacou a importância do encontro, afirmando que Luiz Vilela é referência como escritor, um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos, reconhecido internacionalmente. Disse que foi uma honra participar da 4ª Semana que homenageia o escritor, representando a Universidade Federal de Matogrosso do Sul, UFMS, especialmente por que está acompanhado de seis estudantes, suas orientandas, que fazem mestrado com pesquisas sobre a obra de Luiz Vilela.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

4ª SEMANA LUIZ VILELA


Prof. Rauer, Fabrina, Laura, Raquel, Luiz 
Vilela, Rosana, Janaína e Pauliane

Entre os dias 09 e 13 de maio, integrantes do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela (GPLV) se reuniram em Ituiutaba (MG) para a 4º Semana Luiz Vilela. Durante os cinco dias de evento foram abordados inúmeros aspectos da obra do escritor mineiro.

Nesse período, foi realizada a primeira reunião com os integrantes do GPLV e definidas ações futuras, entre elas, a criação deste blog. Além de divulgar estudos acadêmicos sobre a obra de Luiz Vilela, o blog também visa reunir informações disponíveis sobre Vilela, em qualquer formato (impresso, online, áudio, vídeo etc).

Em caso de dúvidas, sugestões ou colaborações, por favor envie e-mail para gpluizvilela@gmail.com. O grupo é formado por mestrandas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, dos campi de Três Lagoas e de Campo Grande. A coordenação do GPLV é de responsabilidade do prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues.

Para ler mais sobre a semana, a reunião e quem esteve presente em Ituiutaba, acesse o blog da Rosana Araújo (http://rosanahistoria.blogspot.com/), uma das integrantes do GPLV.

Até mais!