sexta-feira, 13 de setembro de 2013

LUIZ VILELA - A BUSCA DA PERFEIÇÃO

“A BUSCA DA PERFEIÇÃO”

         Em seu número 90, de agosto do corrente ano, o suplemento cultural Pernambuco publicou, na coluna Bastidores, um depoimento de Luiz Vilela sobre o seu trabalho de escritor. O título original do depoimento, “A busca da perfeição”, foi, à revelia do autor, mudado para “O melhor conselheiro do autor: a gaveta”, título extraído de uma das frases do texto.
         A pedido de Luiz Vilela, este blog publica a seguir, novamente, o depoimento, com o seu título original.

A BUSCA DA PERFEIÇÃO
                                                               Luiz Vilela

            Naquela tarde, que longe vai no tempo, o adolescente de 13 anos, depois de anotar no seu diário que escrevera uma redação e um pequeno conto, acrescentou: “Agradeço a Deus por estar tão inspirado.” Sua inspiração, pelo visto, continuou, pois ele, começando então a publicar, em jornais estudantis, aos 14 publicava, pela primeira vez, um conto num dos jornais da cidade, e aos 15 passou a colaborar com o principal jornal, nele publicando crônicas e contos.
            Mas, por experiência própria e depois de ter lido alguns dos maiores autores da literatura mundial, além de suas biografias, cartas e diários, o jovem escritor já então sabia que para ser um dia um grande escritor a inspiração somente não bastava, era preciso outra coisa tão importante quanto ela, ou até mais: a transpiração. Foi nessa ocasião que leu, em algum lugar, o dito de que o gênio era um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração.
            O escritor ficou moço, publicou seu primeiro livro, depois outros mais, foi premiado, traduzido, adaptado e chegou aos 70 anos. Se a inspiração continua com ele, não posso garantir, mas a transpiração, esta sim, continua. Hoje como ontem, e como sempre ao longo desse percurso de mais de meio século, as páginas, escritas primeiro à mão, ao serem relidas, cobrem-se de rabiscos. São alterações, cortes, acréscimos — tantos rabiscos, que o próprio autor, que os fez, tem as vezes, depois, dificuldade em entendê-los.
            O texto é então datilografado. (Sim, você leu certo, é datilografado mesmo; ainda uso, e gosto de usar, essa coisa antiga chamada máquina de escrever.) E aí, nova leitura, com novas alterações, cortes e acréscimos, que, em certos momentos, parecem que nunca terão fim, que a obra, seja ela um conto de uma página ou um romance de trezentas, jamais estará terminada.
            Nesse processo, quando começo a recuperar hoje o que ontem risquei, e a novamente riscá-lo amanhã, e a não saber, depois de amanhã, se o mantenho ou não, é hora de afastar-me do texto e entregá-lo ao que chamo de o melhor conselheiro de um escritor: a gaveta. É pôr o texto na gaveta e lá deixá-lo por semanas, meses e às vezes até anos.
            Com o texto de novo na mesa de trabalho, depois que as novas alterações são feitas, eu o mando a um digitador. Quando ele volta, começa o teste da leitura em voz alta. Leio o texto de ponta a ponta em voz alta — não para outra pessoa, mas para mim mesmo. Aliás, a simples proximidade de outra pessoa tornaria a leitura inviável. O teste é infalível. Não há frase mal-escrita que a ele resista.
            Segue-se então o que é o último teste: a leitura de pé, sentado e deitado. Dele falei uma vez em público; a informação circulou no meio literário e virou folclore a meu respeito. Mas é verdade, eu faço mesmo isso. É que em cada uma das três posições a visão que se tem do texto é diferente, o que só pode ajudar a melhorá-lo.
            Pois, meus amigos, não contente com o meu método, e prosseguindo na minha incansável busca da perfeição, pretendo ir mais longe ainda: ler o texto de cabeça para baixo. Não, não é o texto que ficaria de cabeça para baixo: é o autor mesmo. É o autor que ficaria, como nós, mineiros, dizemos, plantando bananeira. Não será fácil,  eu sei, mas... Enfim, tudo pela arte!
            E assim, por fim, o texto vai para o jornal, a revista, ou a editora, definitivamente pronto. Definitivamente? Bom, não exageremos, pois, quando há uma republicação ou, no caso de um livro, quando vêm as provas — benditas provas —, a gente acaba dando com algo que nos havia escapado. O que pode acontecer ainda numa 2.ª edição. Talvez numa 3.ª. Numa 4.ª. Numa... Ufa!
            Depois de tudo isso, vejam vocês, depois de tudo isso vem um cidadão que havia lido pela primeira vez um livro meu e, impressionado com a fluência, a clareza e a simplicidade do texto — para resumir os comentários dele feitos na hora —, candidamente me pergunta: “Você senta e tudo aquilo vai saindo?”
 Sentar e tudo aquilo ir saindo, eu sabia era de outra coisa, não de escrever...
Pois é...


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Contos de Luiz Vilela trabalhados em Sala de Aula, por Luciene Lemos de Campos


CONTOS DE VILELA EM SALA DE AULA

Professora: Luciene Lemos de Campos
Instituição: EE Afonso Pena - Três Lagoas, MS
Projeto desenvolvido em 2012
Colaboradoras:
Juliana Serafim Barbosa Oliveira dos Santos (Técnica STE)
Thaís Cristina Pascoal Rodrigues (Coord. de Língua Portuguesa)

Montagem com a capa do livro de Luiz Vilela
pela aluna Thaís Viana dos Reis

Relato da atividade, pela profa. Luciene:

Ao trabalhar com leitura e literatura, tenho sempre em vista ao menos estes dois princípios pedagógicos:
1.  Quando os estudantes dispõem da companhia de colegas de classe, pais e professores que têm o hábito ou são instigados a ler, conseguimos a adesão mais facilmente até mesmo dos tímidos e arredios para tentar ler e escrever autonomamente; 
2.  Desse modo, os alunos passam a confiar no grupo e compartilhar informações, registros de leitura e também a trocar entre si livros e demais textos.
Com o conto “A cabeça”, de Luiz Vilela, foi assim que ocorreu: o livro estava entre as obras disponibilizadas no “Carrinho de Leitura”, que circula às sextas-feiras no pavilhão do Ensino Fundamental. Uma aluna o escolheu e disse que achara “o título e a capa diferentes”.

Na semana seguinte, ela comentou com uma colega sobre o conto com o qual trabalharia e passou o livro a esta. Outra aluna (surda), na semana seguinte, comunicou que também havia escolhido o mesmo conto do Vilela. Isso, de certo modo, instigou a intérprete de Libras a lê-lo também. Assim, o conto foi “ganhando a garotada” e os alunos entraram em contato, pela primeira vez, com parte da obra desse contista mineiro.

Nesse projeto, além do conto que deu origem às adaptações, produzimos textos de diferentes gêneros, a partir de outras duas narrativas de Luiz Vilela, igualmente escolhidas pelos alunos: “Lembrança” e “Ninguém”.

Montagem e escolha de personagens do conto
“A cabeça”, em sala de aula

Concluídas as etapas previstas, os alunos tiveram a oportunidade de contar como fizeram as tarefas individuais propostas, falaram sobre as dificuldades encontradas quanto à escrita e organização dos próprios textos e os motivos que os levaram a compartilhar as leituras.
Algumas dessas ponderações foram: “porque achei engraçado e triste”; “porque entendi o que ele quis dizer de verdade nessa história”; “porque conta uma coisa atual”; “porque tá bem escrito”; “...é legal, só isso!”.
Para registro, fotografamos alguns dos momentos realizados em sala; a coordenadora de área, outras vezes, fotografou a turma durante etapas do projeto em que usaram recursos tecnológicos.

PROJETO:
Leitura de contos e adaptação em HQ
Luciene Lemos de Campos
Professora da SED / MS

Essa atividade desenvolve a escrita, o sentido de coerência pela associação da imagem (cena) com o diálogo, a coordenação, a criatividade, o gosto pela leitura e pela produção textual, além da integração entre professor-aluno e aluno-aluno.

Sequência didática:

Objetivos
1.   criar espaço interdisciplinar para discussão e reflexão sobre a leitura, interpretação e produção de HQ; 
2.   incentivar a produção individual e o relato de experiências entre os participantes; 
3.    estimular formação de grupos de leitura e utilização dos recursos tecnológicos para leitura e correção de textos; 
4.   suprir deficiências quanto à leitura, interpretação e produção textuais. 
5.   comparar diferentes versões de um conto, relacionando os diversos sentidos produzidos pelos recursos de linguagem.

Conteúdos:
·         Leitura
·         Produção de texto
·         Ano: 7º
·         Tempo estimado: 18 aulas

·         Material necessário:
1.   Livros diversos de contos e/ou contos avulsos;
2.   Revistas em quadrinhos diversas;
3.   Folhas em branco;
4.   Lápis e canetas de diversas cores.

Desenvolvimento:

1 º Momento: Ao longo do bimestre, explore com os alunos contos diversos, para que eles conheçam características e recursos desse gênero; faça revisão (6º ano) sobre HQ e os principais fundamentos para a criação dessas histórias, detalhando o emprego conjunto de diferentes linguagens nesses textos.

Seleção de livros no Carrinho de Leitura em sala de aula

2º Momento: Distribua cópias de contos de autores diversos (ou contos de um único autor) para cada estudante. Realize uma leitura compartilhada de uma das narrativas e ajude a turma a identificar os recursos utilizados pelo autor que faz cada conto diferente das outras narrativas lidas.

3º Momento: Convide os alunos a escrever suas próprias versões para o conto, alterando o que desejarem. Pode ser a forma de organizar a história, por exemplo.

 
Luciene, à direita, com Thaís e Juliana, colaboradoras no projeto


4º Momento: Peça que os estudantes apresentem aos colegas as alterações realizadas no conto lido. Este é o momento oportuno para lhes explicar a importância das marcas de autoria no texto.

5º Momento: Escolhida a tipologia, agrupe-os por afinidade quanto ao tipo de texto escolhido. Sugira a consulta de textos de referência e busque com os discentes os indicativos de apresentação de personagens. É possível, por exemplo, montar a história em quadrinhos em que os estudantes não criarão diálogos, mas deverão escolher ao longo do conto lido falas compatíveis com o desenho ou imagem das personagens a serem contempladas no texto deles.

6º Momento: É hora da revisão. Oriente os grupos e observe como cada um deles trabalha com a apresentação das personagens do conto apresentado para a atividade.

7º Momento: Recolha os textos e analise cada uma das produções, observando suas especificidades. Em uma folha à parte, anote aspectos que precisam ser revistos pelo aluno.

8º Momento: Devolva o material aos alunos e solicite que façam a revisão. Para ajudar, escolha uma produção para ser discutida coletivamente. Use os recursos tecnológicos, data-show e computadores, a fim de que todos possam opinar quanto ao que deverá ser ajustado. Nas situações conflitantes, proponha a consulta ao conto de referência, para que percebam como o autor utilizou os recursos.


Avaliação:
Observe os avanços nos procedimentos de leitura, comparação de informações, estabelecimento de relações, síntese de ideias, articulação dos acontecimentos da narrativa em uma sequência temporal, expressões, recursos, imagens, desenhos e recursos gráficos (como a pontuação), utilizados na versão apresentada pelo aluno.


Resultados:

Parte dos resultados obtidos quanto às narrativas de Luiz Vilela estão no relato que antecede a exposição do Projeto. Para mais detalhes sobre o projeto, contatar a professora Luciene Lemos de Campos na Escola Estadual Afonso Pena ou na Escola Estadual Dom Aquino, em Três Lagoas – MS, ou pelo e-mail: lucienelemos10@yahoo.com.br.

Informação bibliográfica no item "Projetos" da aba Sala de Aula;
para baixar o projeto, clique aqui.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A defesa de Raquel Celita Penhalves dos Reis

Raquel Celita Penhalves dos Reis, integrante do GPLV, defendeu sua dissertação de mestrado na última quinta-feira, dia 29 de agosto. O trabalho O antropófago mineiro: um estudo sobre a ficção de Luiz Vilela foi orientado pelo prof. Rauer Ribeiro Rodrigues, que presidiu a banca, formada pelos arguidores professores doutores Luiz Gonzaga Marchezan (UNESP / Araraquara) e José Batista de Sales (UFMS / Três Lagoas).
Sob a metodologia da literatura comparada e valendo-se do conceito de intertextualidade, o trabalho explora a noção de antropofagia, proposta por Oswald de Andrade, em especial a partir dos estudos de Benedito Nunes em Oswald canibal. O corpus foi definido a partir de contos de Luiz Vilela que dialogam com algumas obras de alguns autores de língua inglesa (Mark Twain, Edgar Allan Poe, Ernest Hemingway, Katherine Mansfield e James Joyce, com pitadas de Virginia Woolf e Vladimir Nabokov).
Os objetivos do trabalho surgiram da reiterada afirmação de Luiz Vilela de que leu muito desde a infância, tendo nomeado entre os autores que lia alguns daqueles, de língua inglesa, investigados em paralelo com a obra do escritor mineiro, e também considerando a dissertação de Célia Mitie Tamura (UNICAMP), que afirma que Luiz Vilela se apropria (no sentido de plágio) da obra de alguns desses autores de língua inglesa.
Valendo-se, para empreender a comparação entre narrativas de Luiz Vilela e narrativas de autores de língua inglesa, de categorias da narrativa (narrador, personagem, enredo), de conceitos do âmbito da teoria do conto (epifania, iceberg) e da análise de aspectos da linguagem, o trabalho de Raquel Celita Penhalves dos Reis conclui que o procedimento de Luiz Vilela se insere melhor no âmbito do conceito de antropofagia.
Veja abaixo algumas fotos da defesa.
             Raquel, no início da Banca, apresenta sua pesquisa à Plateia que lotou a Sala de Defesa

          Raquel, com familiares e colegas, aguarda a deliberação da Banca
               Professores Marchezan, Rauer e Sales, no momento da leitura da Ata Final da Sessão, com o anúncio
                        de que Raquel Celita Penhalves dos Reis faz jus ao título de Mestre em Letras pela UFMS

domingo, 1 de setembro de 2013

Um registro do 2º Concurso de Contos Luiz Vilela

Reproduzimos abaixo notícia publicada em 14 de dezembro de 1984, no Jornal Cidade de Ituiutaba, que — sob o título “Lucacildo, Eurípedes e Najay, os premiados do Concurso de Contos Luiz Vilela” — traz informações sobre a realização do 2º Concurso de Contos Luiz Vilela, referindo-se ainda ao 1º CCLV, realizado no ano anterior.

Desde então, o Concurso de Contos Luiz Vilela foi realizado de modo ininterrupto até a 21ª edição, sendo descontinuado em 2012, conforme registros aqui, aquiaqui e aqui.