A SIMPLICIDADE E A PROFUNDIDADE EM PERDIÇÃO,
DE LUIZ VILELA
Janaína Paula Malvezzi Torraca da Silva
Mestranda em Letras, UFMS – Campus Três Lagoas
Perdição
Luiz Vilela
Ed. Record, 2011
400 p.
Quando
publicamos um dos capítulos de Perdição no blog do Grupo de Pesquisa Luiz
Vilela, fiquei pensando em como ele se encaixaria dentro do romance, em seu
todo. Confesso que fiquei ansiosa, esperando. O capítulo falava sobre cowboys,
cavalos, orações. Esperei. Valeu a pena.
Toda
a obra de Luiz Vilela é recheada de pontos constantes: a religião, o erotismo,
a pequenez e a grandiosidade humana; os pequenos e dificultosos problemas que o
homem enfrenta no dia a dia. Perdição não é diferente. E é isso
que faz esse romance inusitado: Vilela, escritor que ficou conhecido
primeiramente por seus contos, em seu último romance impressiona por conduzir uma
história longa, aparentemente banal, porém cheia de detalhes.
Leo, ou
Leonardo, pescador que vive em pequena cidade do interior mineiro, parte para o
Rio de Janeiro. Lá, desenvolve um dom: o de enganar as pessoas, e,
consequentemente, a si mesmo. Acaba com sua família, decepcionando esposa e
filha. Voltando à sua cidade natal, não consegue ajustar-se novamente à vida
local.
No
romance, tudo parece simples, banal, sem graça. Mas à medida que as pequenas
vidas, na infinita grandeza de cada personagem, vão se enroscando, o leitor
vive com sofreguidão e calmaria cada palavra, cada sonho realizado ou não, cada
desilusão.
Já o
erotismo aparece sutilmente, porém poderoso. Com seres mitológicos que remontam
ao imaginário popular, Vilela faz com que busquemos as vontades e medos da
nossa infância, da rua onde morávamos, daqueles que nos amedrontavam e nos
instigavam. Mas são apenas alusões. O episódio da tentativa de sedução de Ramon
tentado pela esposa de Leo é uma das passagens mais quentes da narrativa.
Anote-se que Ramon, o narrador, é o melhor amigo de Leo, o protagonista. O subentendido
basta para deixar o cheiro de sexo impregnado nas personagens, nas histórias
contadas e naquelas que são escamoteadas.
Falas
simples e curtas, problemas comuns e passíveis de serem encontrados em qualquer
lugar. O diálogo e a simplicidade aparentes são marcas que engrandecem a obra de
Luiz Vilela. Sem cair na banalidade, prendem o leitor, como se este mesmo
estivesse conversando com as personagens. Os assuntos corriqueiros, o que leva
quem os lê a pensar sobre a insignificância da vida e de si mesmo.
É
como se o próprio Vilela, com voz calma e suave, contasse a história de um
conhecido, uma história que prende do começo ao fim por ser profunda e densa. Mostrou
a que veio: rasgar a veia da vida, que poreja de cada palavra deste poderoso
romance.
Nenhum comentário:
Postar um comentário