Seção : Arte e Livros - 17/06/2012 08:37
Amigos, escritores e editor lembram histórias de Roberto Drummond
A importância da obra do romancista e contista para a modernização da literatura brasileira
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“Além de ser um grande escritor, Roberto era muito empolgado e acreditava na literatura que fazia. Isso era algo fantástico em sua personalidade. Ele fazia questão de promover seus livros; não tinha vergonha de se mostrar. Quando lançava, saía caminhando com os livros debaixo do braço, mostrando para todo mundo. Quando saiu O cheiro de Deus, o Roberto dormiu com o livro debaixo do travesseiro, tamanho o orgulho”, lembra o jornalista e escritor Carlos Herculano Lopes, que foi seu colega no Estado de Minas. Em 2005, Herculano organizou um livro reunindo as melhores crônicas de Roberto Drummond e conta que o autor de A morte de DJ em Paris sempre o incentivou a escrever e uma de suas principais características era a generosidade. “O Roberto sempre me deu força e me apresentou a vários escritores. Quando podia, ajudava a divulgar quem estava começando e tinha um coração muito aberto. Ficamos muito próximos ao longo da vida e nos tornamos confidentes. A gente saía quase todos os dias, tomava um chope na Savassi ou no Maletta. O Roberto se tornou uma espécie de guru para mim”, frisa Carlos Herculano. O publisher, jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, que detém os diretos de boa parte da obra de Roberto – a Objetiva é a responsável por três títulos (O cheiro de Deus, Os mortos não dançam valsa e A morte de DJ em Paris) –, também ressalta o fato de que o autor era um divulgador cuidadoso do próprio trabalho e mesmo não tendo saído de Minas Gerais, como boa parte dos colegas conterrâneos, como Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Rubem Fonseca e Carlos Drummond de Andrade, conseguiu se sobressair. “Ele sabia se vender. E mesmo ficando fora do eixo Rio-São Paulo, porque não queria sair de Minas, encontrou um jeito de sua obra se destacar e inventou moda”, pontua. Emediato o conheceu, em 1971, quando os dois venceram o maior prêmio literário brasileiro da época, o Concurso de Contos do Paraná, sendo que Roberto ganhou na categoria principal e Emediato na de revelação. O editor conta que os dois mantinham uma relação de amizade, às vezes meio conflitante, já que Roberto Drummond não acatava muito bem as críticas, mas que no fim o mineiro acabou sendo um dos principais autores de sua recém-criada editora. “Ele inventou uma literatura pop, que na verdade era uma literatura de boa qualidade. Roberto era um bom marqueteiro de si mesmo e conquistou mais o mercado do que a crítica. Ele demorou a ter uma aceitação da crítica. Hilda Furacão o projetou nacionalmente, dando muita popularidade, e foi traduzido para vários idiomas, assim como outras obras suas. Certa vez, escrevi críticas pouco elogiosas sobre seus livros e ele não aceitou muito bem, ainda mais vindo de um amigo. O fato de eu não ter compreendido a genialidade dos seus livros pode ter sido uma deficiência minha, mas depois voltamos às boas e ele preteriu uma importante editora para fechar comigo na Geração Editorial, que estava começando”, recorda. Moderno Amigo de longa data e contemporâneo de geração, o escritor paulista Ignácio de Loyola Brandão acredita que Roberto Drummond modernizou a literatura trazendo uma linguagem mais atualizada e urbana e distanciada de tudo que era regionalista. “Para alguns é a chamada literatura pop, mas não gosto dessa expressão. Ele foi um dos primeiros que conseguiram se aproximar do leitor mais jovem. Roberto era megalomaníaco e vivia essa megalomania com muito prazer. Costumava dizer que sempre tinha milhares de exemplares vendidos, contratos fabulosos. Ele flutuava dentro desse sonho e eu achava isso de uma pureza e de uma ingenuidade muito bonita. Era um cara muito inteligente, evoluído, mas tinha essa coisa provinciana dentro dele, assim como eu, que ainda carrego muita coisa da minha Araraquara”, confessa Ignácio. Outro que privou por muito tempo da intimidade do escritor é o colega Luiz Vilela, a quem Roberto homenageou em uma crônica intitulada “A quem devo Hilda Furacão”, relatando os percalços e riscos que se passa na hora de escrever um “romance de fôlego”. O texto dizia: “Sou um devedor de meu amigo e excelente escritor Luiz Vilela. Porque, se não fosse ele, lá de seu refúgio em Ituiutaba, num telefonema providencial, eu teria simplesmente destruído, ou condenado ao esquecimento, a versão de Hilda Furacão, que vem agradando gente tão competente…”. “ Roberto era um grande amigo e um colega de literatura. Nessa crônica está presente a nossa amizade e esse caso interessante em que ele acatou a minha sugestão de continuar a escrever o livro, mesmo com as dificuldades”, recorda Vilela. Memórias de Bela B Casada com Roberto Drummond por mais de 40 anos, a viúva Beatriz pretende mandar celebrar uma missa em intenção do marido, que ela conheceu ainda menina, quando viviam em Santana dos Ferros, hoje Ferros, Região Central de Minas. “A cidade era muito pequena e todo mundo se conhecia. Eu tinha 13 anos e fui atrás dele em um campinho de futebol onde ele assistia a um jogo, para pedi-lo em namoro. O Roberto achou ótimo e aceitou”, lembra Tiz, como era carinhosamente chamada pelo marido. Os dois se casaram em fevereiro de 1960, em Belo Horizonte, e tiveram uma filha, Ana Beatriz. A viúva conta que foi uma das principais incentivadoras da literatura de Roberto, apesar de suas famílias torcerem o nariz. Ela elege Hilda Furacão, em que é inclusive personagem, como a obra preferida dentre as publicações do marido. “No livro, ele me chama de Bela B, mas ele nunca me chamou assim. Eu era realmente uma moça muito linda, maravilhosa, igual na minissérie mesmo. Passei um aperto quando ela foi exibida na TV, porque todo mundo queria saber sobre a Hilda Furacão, se ela realmente existiu, onde morava. Dizia que sim. Parece que era aquilo mesmo”, desconversa rindo Beatriz. Ela revela que Roberto Drummond nunca permitiu que a família lesse seus escritos antes de serem publicados, mas quando os lançava era uma festa. “Ele gostava muito do que fazia. Sinto falta da companhia dele, das nossas viagens, dos passeios. Não participava muito dessas saídas pelos bares com os amigos, apesar de eu gostar de beber. Até hoje tomo uma latinha de cerveja todo dia para relaxar. Mas era muito companheiro e a gente sempre caminhava aqui pelas livrarias, pela Savassi, que é um lugar que o Roberto sempre amou”, acrescenta. Em 2003, foi inaugurada uma estátua de bronze de Roberto Drummond, de autoria do artista plástico Léo Santana, na Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi. Documentário No fim do ano, o cineasta mineiro Breno Milagres vai lançar o documentário RD manda lembranças, painel da obra e da vida de Roberto Drummond. Além de depoimentos do próprio homenageado, de amigos, escritores, jornalistas e jogadores de futebol, haverá atores interpretando as crônicas e os contos de Roberto, além de textos de autores amigos e imagens cedidas pela família. “A gente era muito amigo, quase vizinho. O mais importante deste trabalho foi o carinho que todo mundo demonstra pelo Roberto. É impressionante. Ele escrevia de um jeito que era dele e sempre terá lugar de destaque na literatura mineira e brasileira”, enfatiza Breno, que chegou a levar para as telas e para a TV outras obras de Roberto, como Quando fui morto em Cuba, O estripador da Rua G e o conto “O demônio do meio-dia”. |
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