quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Faces do conto de Luiz Vilela - baixe com um clique

"A experiência humana é irredutível a fórmulas, não pode ser constrangida à unicidade – a trajetória do homem na terra somente pode ser descrita pela palavra poética, polissêmica, da arte". Rauer, "Faces do conto de Luiz Vilela", Tese de Doutorado, UNESP, 2006, p. 300.

RESUMO: Este trabalho compara dois momentos da contística de Luiz Vilela. Para depreender um conceito de literariedade, expõe a fortuna crítica do ficcionista. De depoimentos e entrevistas do escritor, configura a sua ars poetica. Apresenta e desenvolve os conceitos de narrador-ausente e autor-explícito. Essas formulações decorrem da descoberta de que certa voz extradiegética se faz presente na trama ficcional dos contos. O trabalho mostra de que forma tal voz se entremeia ao discurso narrativo, e o significado dessa opção estética, em particular nos contos de enunciador não figurativizado, o narrador-ausente. Para mostrar a emersão do autor, o trabalho estuda o riso literário, estabelecendo uma semiose que deriva das gradações discursivas entre riso de acolhida e riso de exclusão, e, tendo por referencial a semiótica greimasiana, analisa procedimentos textuais e mecanismos enunciativos. O corpus é composto por doze contos. A hipótese que norteia a pesquisa é de que a fratura que presentifica o autor-explícito constrói a literariedade e o sentido ideológico da ficção de Luiz Vilela.

PALAVRAS-CHAVE: Comparativismo; Intertextualidade; Narrador-ausente / Autor-explícito; Recepção / Literariedade; Riso; Semiótica.

ACESSE AQUI:

A tese completa também está disponível para visualizar, e/ou baixar, nos seguintes endereços:

Domínio Público: 


Blog do GPLV - Grupo de Pesquisa Literatura e Vida: 
<http://gpluizvilela.blogspot.com/>, na aba Fortuna Crítica;


ABSTRACT: This work compares two moments of the short stories written by Luiz Vilela. In order to understand a concept of literarity, it exposes the critique of this fiction writer. Based on the writer’s speech and interviews, it configures his ars poetica. It presents and develops the concepts of absent-narrator and explicit-author. These formulations come from the discovering that a certain extradiegetic voice is present in the fictional plot of the short stories. The work shows in what way this voice is inserted in the narrative discourse, and the meaning of this aesthetic option, particularly in the short stories of a non-figurative enunciator, the absent-narrator. With the purpose of showing the author’s emersion, the work studies the literary laugh, establishing a semiosis that is originated from the discoursive gradations between welcoming laugh and exclusion laugh, and, having as a reference the Greimasian Semiotics, it analyses the textual procedures and the enunciative mechanisms. The corpus is composed of twelve short stories. The hypothesis that guides the research is that the fracture which denotes the explicit-author constructs the literarity and the ideological meaning of the fiction by Luiz Vilela.

KEYWORDS: Comparativism; Intertextuality; Absent-narrator / Explicit-author; Reception / Literarity; Laugh; Semiotics.

domingo, 23 de dezembro de 2018

PRÓXIMA EDIÇÃO DA FLIMA HOMENAGEARÁ LUIZ VILELA


Em 2019, terá homenagem para o escritor Luiz Vilela. Considerado um dos mais importantes contistas brasileiros do século XX, o escritor mineiro será homenageado na segunda edição da Festa Literária da Mantiqueira (Flima), que será realizada de 16 a 19 de maio, em Santo Antônio do Pinhal.
Entre os futuros projetos de Luiz Vilela está o livro inédito 50 Contos, que será lançado durante a segunda edição da Flima, pela SESI-SP Editora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo, para saber mais:
https://cultura.estadao.com.br

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Hoje tem qualificação sobre "Os novos"

Hoje,

Banca de exame de qualificação de mestrado de 

Mateus Antenor Gomes

com estudo do romance Os novos, de Luiz Vilela, sob a perspectiva das categorias da narrativa. 

Banca
Profa. Dra. Eunice Prudenciano de Souza 
Prof. Dr. José Batista de Sales
Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues 

14h - Unidade II - Bloco da Administração, Ciências Contábeis e Matemática.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Luiz Vilela reflete acerca de seu processo criativo em entrevista a Super Libris


         Luiz Vilela discorre acerca de seu processo criativo em entrevista exibida pela série Super Libris, do SescTV, programa que aborda o universo da leitura e da literatura por meio de entrevistas com autores brasileiros e profissionais da área. A conversa com o escritor pode ser conferida no episódio Duelos Verbaiso bang–bang das palavras, dirigido pelo escritor, cineasta e jornalista José Roberto Torero.

A produção com o escritor, que faz parte da segunda temporada da série Super Libris, está disponível pelo SescTV. Entre outras questões, Luiz Vilela fala sobre seu modo de criação do diálogo e recomenda a leitura da obra de Ernest Hemingway.

Você pode aferir mais detalhes da entrevista Duelos Verbais, o bang-bang das palavras pelo link:




 https://sesctv.org.br/programas-e-series/superlibris/?mediaId=fd9fa762d85860b5451fb01825aaa4c6

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Programa do 10º Seminário do GPLV - etapa de Corumbá



Eis a programação completa:

10º SEMINÁRIO DO GPLV
LITERATURA ::: INTERFACES
CPAN / UFMS

O 10º Seminário do GPLV acontecerá em duas etapas: a primeira, de 7 a 10 de novembro, em Três Lagoas, MS, e a segunda, de 12 a 14 de novembro, em Corumbá, MS.
Nas duas etapas teremos conferências, comunicações, debate de projetos e de pesquisas em andamento, mesas-redondas, palestras e minicursos.
Eis a programação de Corumbá.

Dia 12/11 – 7h00 – Sala H-108
Coordenador: Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues

7h – Conferência de Abertura:
Literatura e Filosofia: o caso de Fernando Pessoa, pela Profa. Dra. Carina Marques Duarte (CPAN / UFMS)

8h10 - Debate de pesquisas e de projetos em andamento:
1.     Letramento literário: processo de seleção dos livros literários e didáticos do Ensino Fundamental, projeto para pleitear ingresso no Mestrado, deMariana da Silva Santos – Debatedora: Profa. Dra. Márcia Sambugari;
2.     Asco e desejo em  um conto  de Alciene Ribeiro, TCC de Gislene Rocha – Debatedora: Profa. Doutoranda Maisa Barbosa da Silva Cordeiro;
3.     Análise e possibilidades para contação de histórias em dois contos de Ricardo Azevedo (Do ler ao contar – dois projetos do Grupo Boca'berta), por Chrislayne Gonçalves de Paula e Suellen A. Mendoza – Debatedora: Profa. Dra. Márcia Sambugari;
4.     Intertextualidade erótica na poesia feminina: os “Cânticos de Salomão” nos “Salmos Amorosos” de Regine Limaverde, TCC de Elisangela Cerqueira Mota - Debatedora: Profa. Doutoranda Maisa Barbosa da Silva Cordeiro;
5.     A geografia em um romance de Alciene Ribeiro, TFC de especialização do Curso de Especialização Interdisciplinar do CPAN por Cibele Prado– Debatedor: Doutorando Osmar Casagrande;
6.     O erotismo de Via sacra do amor, poema de Regine Limaverde, TCC de Paulo Giovani Moreira de Jesus - Debatedora: Doutoranda Maisa Barbosa da Silva Cordeiro.
Cada projeto ou pesquisa: De 5 a 10 minutos para o autor apresentar o trabalho; de 25 a 30 minutos para o debatedor fazer suas considerações; de 5 a 10 minutos para debate, aberto à participação do público.
Carga horária: 5 horas


Dia 12/11 – 13h30 – Sala H-108
Minicurso: Erotismo na literatura de autoria feminina contemporânea: leituras feministas
Ministrante: Profa. Doutoranda Maisa Barbosa da Silva Cordeiro
Carga horária: 4 horas


Dia 13/11 – Sala H-108 - Palestras
Mesa 1 – Coordenação: Maisa Barbosa da Silva Cordeiro
13h00 – Luciene Lemos dos SantosLiteratura e Pedagogia de Projetos: A importância da literatura em sala de aula;
14h00 – Osmar CasagrandeLiteratura e Escrita Feminina: A bússola afetiva em “Quintais”, de Adriana Lisboa.

15h00 – Debate e em seguida intervalo

Mesa 2 – Coordenação: Osmar Casagrande
15h20 – Felipe Dartangan MaropoLiteratura e Migração: Escritoras brasileiras do final do século XX.
16h20 –Mariana da Silva Santos Rauer Ribeiro RodriguesLiteratura e Multimodalidade: uma leitura do poema “Escrínio”, de Manoel de Barros.
17h10 – Debate.
Carga horária: 4,5 horas


Dia 13/11 – Sala H-108 – Debate de projetos de doutorado:
Coordenador: Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues

18h30 – A escrita feminina no exílio, de Felipe Dartangan Maropo, Projeto de Pesquisa de Doutorado - Debatedor: Profa. Me. Luciene Lemos de Campos;

19h20 - Pré-banca de Qualificação do relatório de pesquisa de doutorado de Maisa Barbosa da Silva Cordeiro, com a Tese Mulheres Protagonistas na Literatura Juvenil Brasileira dos Anos 1980 – Debatedores: Prof. Dr. Alfredo Ricardo Silva Lopes e Profa. Dra. Carina Marques Duarte;

21h10 – Formas espaciais nos romances de Adriana Lisboa, de Osmar Casagrande, Relato de Pesquisa de Doutorado - Debatedor: Profa. Dra. Nathalia Monsseff Junqueira.

22h20 – Considerações finais pelo Coordenador da Mesa.
Carga horária: 4 horas


Dia 14/11 – Sala H-108 – Palestras
Mesa 3 – Coordenação: Osmar Casagrande
13h00 – Wellington Furtado RamosLiteratura e Psicanálise: Pulsão de morte e a estilística da repetição na literatura brasileira contemporânea;
14h00 – Maisa Barbosa da Silva CordeiroLiteratura e Gênero: Violência simbólica na literatura juvenil: uma análise de O mágico de olho verde, de Alciene Ribeiro;
15h00 – Debate

15h30 - Intervalo

Mesa 4 – Coordenação: Maisa Barbosa da Silva Cordeiro
15h40 - Alfredo Ricardo Silva LopesLiteratura e História: Contos Históricos em sala de aula.

16h40 – Jéssica Silva Rauer Ribeiro RodriguesLiteratura e Memória: A representação do espaço urbano nas Memórias Inventadas de Manoel de Barros.

17h00 - Nathalia Soares FontesLiteratura e Ensino: O ensino de Literatura na BNCC - uma análise sobre o lugar dos clássicos.

17h20 – Debate.
17h30 – Encerramento do evento, pelo líder do GPLV.

Carga horária: 4,5 horas

Carga horária total do evento: 23 horas.

Mais informações estão disponíveis aqui

sábado, 20 de outubro de 2018

Resiliência. Persistência. Constância.

https://10seminariodogplv.blogspot.com/


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
      "José", Drummond, 1942
O 10º Seminário do Grupo de Pesquisa Literatura e Vida configura resiliência, persistência e empenhos raros em um país, o Brasil, no qual o efêmero, a descontinuidade e o catastrofismo são matéria cotidiana que entranha na alma das coisas e das pessoas.
Ocorre o evento, cuja primeira dezena ensejaria os maiores festejos, no entanto, em quadra de mudança que tem preocupado a universidade. De há muito os recursos minguam e o noticiário avança que novos cortes orçamentários virão. Tal perspectiva tinge o horizonte de angústia, a angústia de que o futuro de um país só se constrói com investimento na educação e na pesquisa  e mais uma vez parece que jogamos não só mais uma década fora, mas descartamos o bebê e ficamos com a água suja do banho.
Em 1942, com o Estado Novo e com a Guerra Mundial, Carlos Drummond de Andrade questionava: “E agora, José?”
Para o poeta, o tempo era de fim da utopia, de mofo, de portas fechadas, de riso que não veio, era tempo de febre, gula e jejum, de mar que secou, de desejo de morte, de ausência de rumos, de falta de perspectivas, de impossibilidades, de homens partidos, de mãos que não se davam, de fezes, de tédio, de nojo, de ódio, de náusea.
Mas é também o tempo em que uma flor fura o asfalto: embora feia, desbotada, contrapondo-se na sua fragilidade à autoridade policialesca, é, na sua insegurança, uma forma que se avoluma e vence o seu sombrio contexto.
Assim fazemos esse 10º Seminário do GPLV, pois é do estrume que nasce a rosa, é no lodo que floresce o lírio  e é na adversidade que emergem os grandes, vencendo choro e ranger de dentes, superando a corrida de obstáculos dos 400 metros multiplicados pelos 42 quilômetros de uma maratona.
E o fazemos desdobrado em três frentes: no PPG-Letras da UFMS, no Câmpus de Três Lagoas, em parceria com o PROFLETRAS, também do CPTL, na Escola Estadual JOMAP, também em Três Lagoas, e no Câmpus do Pantanal, em Corumbá. Desse modo, articulamos a pesquisa, o ensino e a extensão, com a participação de professores da rede pública, de alunos da graduação, de formandos debatendo seus TCCs, de mestrandos e de doutorandos apresentando seus projetos e suas pesquisas, assim como professores convidados debatendo projetos e pesquisas, ministrando minicursos e proferindo palestras.
A programação completa pode ser conferida na aba específica acima.
Nesse tempo de angústia e náusea, em que nos perguntamos “E agora, José?”, vale a resiliência, a persistência, a constância, o desejo de realizar sempre, cada vez mais, cada vez de modo melhor. É com esse espírito que já deixamos o convite para que  após participar deste evento  se prepare para estar conosco no 11º Seminário do GPLV: mantendo uma tradição dos eventos do Grupo, de ser itinerante em parceria com outras instituições, nosso 11º Seminário será nos dias 2 e 3 de maio de 2019 na UFF – Universidade Federal Fluminense, em Niterói.
Em breve, mais detalhes serão divulgados em nossos blogs (veja links nesta página).
Por agora, com nossos agradecimentos por sua participação, vamos ao 10º Seminário!!!
Cordial abraço.
                                          Prof. Rauer             
                                           Líder do GPLV

sábado, 18 de agosto de 2018

GRUPO DE PESQUISA LITERATURA E VIDA REALIZA DUAS BANCAS EM AGOSTO

Duas bancas de componentes do GPLV, duas qualificações de doutorado, ambas com estudos sobre Luiz Vilela, acontecem no dia 31 de agosto, no PPG-Letras no Câmpus I da UFMS de Três Lagoas:

1. LUIZ VILELA: DA FACE PÚBLICA À ARS POETICA, de Rodrigo Andade Pereira, compondo a banca os Profs. Drs. Amaya Prado, Eunice Prudenciano de Souza, Alfredo Ricardo Silva Lopes e Rauer Ribeiro Rodrigues, na Sala 1001, às 9h.

2. LUIZ VILELA PROFANO: RELIGIÃO, EROTISMO E ESTÉTICA NO ROMANCE PERDIÇÃO, de Elcione Ferreira Silva, compondo a banca os Profs. Drs. Marlene Durigan, Eunice Prudenciano de Souza, Alfredo Ricardo Silva Lopes e Rauer  Ribeiro Rodrigues, na Sala 1001, às 14h.

Eis os resumos das pesquisas:

RODRIGO:
Ezra Pound classifica os escritores em seis categorias: Inventores, Mestres, Diluidores, Bons escritores, Beletristas e Lançadores de moda. Ao confrontarmos a Ars Poetica e a “Face Pública” do escritor mineiro Luiz Vilela, acreditamos deslindar o escritor enquadrado em algumas dessas categorias. É o “mestre do conto”, como afirma sua fortuna crítica, justamente porque combinou um certo número de procedimentos, como os contos de enredo e de atmosfera, de Poe e Tchekhov, o diálogo de Hemingway, a fluidez do texto de Flaubert e a filosofia, e o fez tão bem ou melhor que alguns dos inventores do conto. Nas novelas e romances, é um “Belle Lettre”, pois se especializou em algumas particularidades da arte de escrever, sem realmente inventar nada. Essa "ponte” entre a Ars Poetica e sua “face pública” possui caráter profundamente “heterodiscursivo” e “dialógico”, em que o “autobiográfico” expressado em entrevistas, pode-se comprovar através de um exame cuidadoso e direto da matéria ficcional e contínua comparação entre seus textos, contos, novelas e romances. Para comprovarmos nossa tese, investigamos a face pública do escritor Luiz Vilela em situações de interação, por meio de análises de entrevistas significativas em sua carreira, com a análise de um aspecto de sua ars poética: a problemática do narrador e das instâncias narrativas preconizadas por teóricos da narrativa que investigaram a questão do autor-implícito e do arquinarrador, que, a nosso ver, fazem transparecer essa “face” pública, por vezes ficcionalizada. Como metodologia, utilizamos o método indiciário, proposto por Carlo Ginzburg. Por intermédio de pistas, sinais e indícios, estudados minuciosamente a partir da análise pormenorizada das entrevistas e dos textos ficcionais, traçamos um panorama entre a face pública e a ars poética de Luiz Vilela.
Palavras-chave: Acervo Literário; Arquinarrador; Entrevistas; Método indiciário; Narrador; Pound.

ELCIONE:
Nesta tese, discutimos as interfaces da religião com o erotismo e a estética no romance Perdição (2011), de Luiz Vilela. Para isso, temos com pressupostos teórico os estudos de Mircea Eliade (1992) em torno do Sagrado e do Profano. Adentramos analiticamente na narrativa, com suporte nos estudos sobre o espaço de Osman Lins e do Ponto de Vista de Norman Friedman. Para observar a trajetória dessacralizadora do narrador, estudamos os pressupostos estéticos intradiegéticos propostos pelo narrador, Ramon, que se configura como um alter ego do autor Luiz Vilela.
Palavras-chave: religião, dessacralização, erotismo, estética.

As bancas do GPLV, mesmo as de qualificação, são abertas ao público.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Wander Piroli, o Hemingway esquecido das Minas Gerais

Literatura                     
                        por André de Oliveira, em El País

Símbolo da geração de contistas dos anos 1970, escritor ganha biografia doze anos depois de sua morte

  Piroli na Redação do Última Hora, em meados dos anos 1960.
      

                           ACERVO CONCEITO EDITORIAL
                 

Wander Piroli é mais um nome na extensa lista de escritores que o Brasil se esmerou em esquecer. Um dos símbolos do que ficou conhecido como 
boom dos contistas nos anos 1970, Piroli era, em tudo, um simples — não confundir com simplista. Mestre em criar diálogos secos, diretos e cheios de sensibilidade, dizia preferir a vida à literatura, mas escreveu sem parar. Gostava de cachaça Claudionor, cigarro de palha, pescaria e amizade. Agora, doze anos depois de sua morte, o livro Wander Piroli - Uma Manada de Búfalos Dentro do Peito, do jornalista, poeta e escritor Fabrício Marques, vem tentar reparar esse esquecimento.

Mineiro até o último fio de cabelo, Piroli nasceu em 1931, em Belo Horizonte, cenário principal de tudo o que produziu em crônicas, reportagens, contos, poesia e romance ao longo da vida. Costumava dizer que o bairro operário em que cresceu até os 27 anos, Lagoinha, vizinho indesejado do centro rico da capital mineira, estava em tudo. “A minha visão de mundo é a visão da Lagoinha”, escreveu uma vez. “Uma visão primária, substantiva da coisa. Uma visão operária e marginal”. Seus textos eram tomados por personagens vivendo vidas ordinárias, comuns. Eram os trabalhadores de sol a sol, os malandros, as prostitutas e os “náufragos da noite”, como caracterizava os tipos com que conviveu na infância e juventude.

Na curta biografia assinada por Marques, também mineiro, o escritor Joca Terron avalia a importância de Piroli para a literatura brasileira: pouca ou nenhuma em termos oficiais, mas incalculável em termos de qualidade. “Mas no Brasil, país aculturado e sem vergonha, o que interessa é a cultura não oficial, e Wander Piroli está no centro dela (que é margem)”, diz Terron. Outro admirador do autor mineiro é Marçal Aquino: “Seus contos eram relatos diretos e contundentes sobre gente de carne e osso, tinham sempre uma carga humana, sem nunca esquecer de olhar ao redor”.

Da biografia, publicada pela Conceito Editorial como parte da série Beagá Perfis, que trata de personagens belo-horizontinos, fica a imagem de um incansável jornalista e ótimo escritor que caiu num anonimato injusto. Ao lado dele, na geração de 1970, estavam nomes como Sérgio Sant’Anna, Antônio Torres e Ignácio de Loyola Brandão, bem conhecidos hoje em dia, mas também de outros que, com o tempo, ficaram mais esquecidos, como Manoel Lobato, Luiz Vilela e João Antônio. Cada caso é um caso, mas confluem coisas semelhantes entre a maioria deles para o relativo esquecimento. Por exemplo, a visão de mercado de que o conto seria um gênero menor, e a necessidade dos autores de dividir a escrita com outras funções, como o jornalismo.


                                                        Capa da biografia recém-lançada

Para Piroli, Marques conta na biografia, o trabalho em redações jornalísticas apareceu como uma forma de sustentar a família, mas se tornou uma das partes principais de sua vida. Trabalhou em dezenas de publicações mineiras entre jornais alternativos e da grande imprensa, como Estado de MinasSuplemento LiterárioÚltima HoraO Sol e Binômio. No meio da lida do jornal e da criação de quatro filhos, publicou seu primeiro livro A Mãe e o Filho da Mãe, em 1966. Começou escrevendo quase que por interesse econômico: ainda na casa dos 20 anos, inscrevia contos em concursos públicos e sempre acabava levando um prêmio para casa. Muito dessa produção, ainda na década de 1950, integraria seu livro de estreia, talvez o mais importante de sua carreira.

Só quase dez anos depois, o escritor publicaria O Menino e o Pinto do Menino, em 1975 e Os Rios Morrem de Sede, em 1976. Talvez seus trabalhos mais conhecidos, ambos infanto-juvenis, viraram sucesso de público ao propor, pela primeira vez, uma espécie de realismo para crianças. Piroli abriu mão das bruxas e duendes para falar às crianças da vida como ela é. “O [escritor] Otto Lara Resende, em uma crônica na TV Globo durante o programa Fantástico, falou sobre O Menino e o Pinto do Menino e aí as vendas estouraram”, conta Marques. Em 2001, os dois livros estavam na 32ª edição com 150.000 exemplares vendidos. Em vida, Wander ainda publicou cerca de sete títulos, entre infantis, de crônica e contos, como A Máquina de Fazer Amor e Minha Bela Putana.

“Qual a importância da obra de Piroli para a literatura brasileira?”, pergunta Marques ao crítico literário Antônio Hohlfeldt: “Acho que no conto foi algo de circunstância, embora sobreviva: esta linguagem jornalística, dura como um soco, mas, ao mesmo tempo, a intensa humanidade dos personagens. Na literatura infantil, maior: quebrar os velhos cânones de uma literatura bem-comportada e capaz de servir modelos bem-comportados. Wander introduziu no texto para crianças um modo de narrar até então absolutamente inexistente”. Quando morreu, descobriu-se que Piroli tinha mais 18 livros inéditos. Hoje, os direitos autorais são todos da editora Sesi-SP, que já reeditou alguns títulos, como O Menino e o Pinto do Menino e A Mãe e o Filho da Mãe.

Na biografia, por trás do retrato do escritor está também a história de um país que lutava contra a ditadura militar com as armas que dispunha, e que vivia, no pouco profissionalismo editorial —seja nos jornais, seja em editoras—, um momento de criatividade mais descontraída. Piroli, segundo os entrevistados por Marques, queria aproximar a produção intelectual da vida comum, levando tudo com um despojamento único. Nas redações em que foi editor, não faltava um garrafão de pinga debaixo de sua mesa e, em uma delas, até um pato circulava livremente entre as máquinas de escrever. Como chefe, aconselhava que se esquecesse os padrões jornalísticos: queria ler textos que contassem como as coisas realmente tinham acontecido, sem leads ou subleads. Era inimigo da objetividade e compunha títulos malucos e saborosos, como “Cada brasileiro nasce devendo sete salários mínimos”.

Ao escritor, que tinha uma relação descompromissada com a literatura —“Pescar é mais importante que escrever. Escrever faz mal para a saúde. Não conheço uma só pessoa que se tenha tornado melhor com a literatura; geralmente, piora. Há poetas, porém, que dizem que fazer poesia ‘é minha vida, é o ar que respiro’. Respiram mal e têm uma péssima vida”—, Marques acredita que também faltou sorte: “a editora Cosac Naify, por exemplo, tinha comprado todos os direitos dele, mas, logo em seguida, acabou”. Um tipo meio tímido, mas alegre, vivendo sem chamar atenção, corpulento, camisa sempre aberta no peito peludo, Piroli foi visto por seus contemporâneos como um Hemingway brasileiro, seja pelo modo de viver, seja pelo estilo seco dos textos. Exagero? Faz-se necessário ler antes de dizer.

Confira pelo link: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/20/cultura/1532115699_984086.html