quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O Filho de Machado de Assis - 19


PUBLICADO EM 10.09.2016 - 10:42

Meu ídolo Luiz Vilela bate nas idolatrias

Chama-se Luiz Vilela um dos escritores brasileiros que deveriam ser obrigatórios em escolas de todo o país – talvez até deixando de lado, por uns tempos, nomes gloriosos como Machado de Assis ou José de Alencar. Não é uma heresia. É uma armadilha para que novas gerações tomem gosto pela leitura e, um dia, cheguem aos mestres veteranos. Vilela é contemporâneo sem ser moderninho, se é que você me entende. Não gasta palavras à toa, não perde tempo mostrando como é inteligente e nem quer fazer a cabeça de ninguém. Quer apenas contar uma história, o que ele faz como poucos. Não é à toa que está completando 60 anos de atividades literárias em plena produção.
Prova disso, mais uma vez, está em “O filho de Machado de Assis”, que acaba de sair. Coisa curta, não consome mais que uma hora de leitura. Mas é daquelas novelas que vão ficando na cabeça, e você sai pela rua ruminando a historinha.
Trata do professor Simão, já aposentado, ranheta, nem um pouco politicamente correto, feliz da vida ao descobrir que Machado de Assis teve, sim, um filho – ao contrário do que diz sua biografia. Teria sido uma criança gerada no seu primeiro casamento, antes de unir-se à amada Carolina. É um segredo de Estado, afinal, que pode contrariar interesses de inúmeros editores, acadêmicos, escritores, o diabo a quatro.
Cercado de cuidados para evitar represálias, Simão compartilha a conversa com seu ex-aluno Mac, 22 anos, amigo para todas as horas. Os diálogos, que sempre foram o ponto alto da prosa do Luiz Vilela, continuam afiados.
Mac é o narrador e levanta a bola para a mensagem do professor. Que não perdoa ninguém, nem mesmo nosso heroico Machadão, e eis aí uma boa mensagem que podemos tirar do livro:
“Será que já não é tempo de pararmos com essa machadolatria?”, sugere Simão.
Será que, por extensão, não seria hora de pararmos com tantas idolatrias? Sem dúvida, está na hora de recontar a história. E Luiz Vilela (um dos meus ídolos) sabe disso.
A propósito, recontar (ou repensar) a história oficial dos nossos ídolos literários – a começar por Machado de Assis – é também a ótima sugestão de Martim Vasques da Cunha em “A poeira da glória”, que já comentei por aqui. Aí já se trata de um livro mais cascudo, sério e pesado, mas merece o registro novamente. Mostra que é necessária essa releitura (ou revisionismo). Até porque, a gente sabe, a história oficial nem sempre é honesta, preferindo puxar a sardinha para o lado vencedor (que muito frequentemente tem seus podres). Não poderia ser diferente no meio literário. Aliás, voltando ao Luiz Vilela, é como diz o professor Simão:
“A cultura às vezes até refina e amplia o que há de pior na cabeça de uma pessoa”.
Mas essa seria (quase) outra história.

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