Luiz Vilela explica a influência do cotidiano em seu novo livro, ‘Você Verá’ | 10. 03. 2014 |
Luiz Vilela
Por Zaqueu Fogaça
Quando publicou sua primeira coletânea de contos, em 1967, intitulada Tremor de Terra, Luiz Vilela sacudiu a literatura brasileira ao arrematar, aos 24 anos, o Prêmio Nacional de Ficção, superando autores consagrados como Osman Lins e Mário Palmério.
Desde então, foram 30 obras publicadas, entre contos, novelas e romances. Nessa longa e prolífica trajetória dedicada à literatura, reconhecida por muitos prêmios e honrarias, o autor mineiro encontrou na simplicidade do vocabulário a matéria para cristalizar sua prosa.
Em Você Verá (Record), seu mais recente apanhado de contos, as 11 narrativas se alimentam de encontros cotidianos e inesperados para mostrar o quanto a vida humana é maleável e nada é tão sólido a ponto de permanecer estático e imutável. Tal como um modelo de barro, ela está sempre pronta para ganhar novas formas e sentidos.
No conto “Era Aqui”, um jovem retorna à sua cidade natal e relata à namorada as alegrias das antigas peladas num campinho improvisado, que fora destruído pelo prefeito da cidade para uma obra que jamais se concretizou. Num misto de alegria e angústia, o rapaz cultiva as memórias de um tempo que julga melhor e que não voltará mais.
Já no conto “Mataram o Rapaz do Posto”, uma narrativa que se insinua trágica ganha rumos inesperados. Após ouvir um disparo na rua, um senhor sai ao portão para conferir o que se passa e encontra o vizinho Tião, que lhe relata às pressas o crime que acabara de ocorrer. Mas os diálogos desencontrados acabam criando uma situação cômica, resultado da incomunicabilidade entre suas falas.
Nesta entrevista cedida ao SaraivaConteúdo, Luiz Vilela comenta sua relação com os diferentes gêneros e explica a influência do espaço-tempo em suas narrativas.
O escritor Luiz Vilela
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A coletânea Você Verá reúne contos sobre os mais variados assuntos e situações. Todos foram escritos na mesma época?
Luiz Vilela. Em Você Verá estão os contos que eu escrevi logo depois de A Cabeça, publicado em 2002. Foram escritos em diferentes ocasiões e ao longo dos últimos dez anos, período em que também escrevi e publiquei a novela Bóris e Dóris e o romance Perdição.
No decorrer de sua longa trajetória literária, iniciada na juventude, o senhor experimentou os mais variados gêneros: conto, novela e romance. O gênero já nasce pronto?
Luiz Vilela. O gênero é sempre definido no início do trabalho e geralmente se mantém até a publicação. Mas há casos em que ele muda, e um dos exemplos mais expressivos disso é o que me aconteceu com Perdição, que começou como um conto, que me foi encomendado por uma editora para uma antologia. Depois que escrevi, achei que ele precisava de alguns acréscimos. Fui fazê-los, e o conto se transformou numa novela. Mas aí, ao reler a novela, foram surgindo novas cenas e novos personagens, e ela acabou, então, se transformando num romance de 400 páginas.
A maioria dos contos que integram a coletânea é marcada por rompimentos abruptos, o que cria situações inesperadas e cômicas. De que maneira você procura trabalhar o curso da narrativa?
Luiz Vilela. Eu começo com uma ideia. Sem ela, não há, naturalmente, como começar. No caminho, outras ideias vão surgindo, juntando-se a ela, às vezes modificando-a e às vezes até anulando-a. É algo totalmente imprevisível.
Os diálogos nas narrativas trazem uma proximidade muito intensa com a oralidade, como num encontro entre vizinhos ao pé do portão. De que maneira essa verossimilhança é obtida nos diálogos?
Luiz Vilela. A oralidade nos diálogos é obtida, de início, pela observação da realidade, mas, depois, há todo um trabalho de depuração, de recriação e de lapidação.
Outro elemento que se faz crucial em suas narrativas é o confronto inevitável entre o presente e o passado...
Luiz Vilela. O mundo está sempre em movimento, o que provoca mudanças na vida das pessoas, com várias consequências. O tema figura em grande parte da minha obra e, curiosamente, já aparece no primeiro conto que publiquei, aos 14 anos, num jornal da minha cidade. Nele, uma “escola de roça”, título de conto, é fechada, por ordem do governo, para dar lugar à construção de uma fábrica de laticínios. O acontecimento deixa os alunos tristes e, de desgosto, causa a morte do velho professor.
O senhor está escrevendo um novo livro ou algum trabalho inédito a ser lançado nos próximos meses?
Luiz Vilela. Eu estou com uma novela pronta, que, espero, será publicada ainda este ano, pela minha editora, a Record. Além da novela (e dentro do projeto de reedição de toda a minha obra), deve ser publicada a 3ª edição do meu primeiro romance, Os Novos.
http://saraivaconteudo.com.br/Entrevistas/Post/55620
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