Com exclusividade, damos abaixo, na íntegra, a entrevista que Luiz
Vilela concedeu ao repórter Carlos Andrei Siquara, do jornal O Tempo, de Belo
Horizonte, em 28 de maio, quando de sua participação no Ofício da Palavra, do Museu
de Artes e Ofícios, na capital mineira. Damos também, a seguir, uma foto batida
durante o evento, em que aparece o escritor conversando com o público. Veja
ainda, a respeito, neste blog, as matérias jornalísticas aqui postadas
anteriormente.
"A LITERATURA É O MEU BRINQUEDO DE ADULTO"
Vilela, seu livro mais recente, o Perdição, publicado no final de 2011 e
que ganhou o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil de 2012, é um
romance. O que o fez retornar ao gênero, depois da publicação, em 1989, do
romance Graça?
Retornar não seria a
palavra, pois eu nunca me afastei do romance. O romance sempre fez parte dos
meus projetos como escritor, desde o começo. Quando meu primeiro livro foi
publicado, o Tremor de Terra, de
contos, eu já tinha escrito várias páginas do que viria a ser o meu primeiro
romance, Os Novos, e, acrescente-se,
escrito também uma novela, que eu não cheguei a publicar. Assim, e
diferentemente do que muitos pensam, eu, além de contos, sempre escrevi
romances e novelas. Depois de Os Novos
vieram, com intervalos de anos, os romances O
Inferno É Aqui Mesmo, Entre Amigos
e, então, o Graça. E, depois da
novela que eu não publiquei, foram publicadas três novelas minhas: O Choro no Travesseiro, Te Amo Sobre Todas as Coisas e Bóris e Dóris. Para concluir, informo
que, além do meu novo livro de contos, que está para sair, eu tenho pronta uma
nova novela e quase pronto um novo romance.
Entre o Perdição
e os seus outros romances existe alguma relação?
Se relação existe, e
ela certamente existe, é pelo fato de os cinco romances terem sido escritos
pelo mesmo autor. Não é uma coisa intencional. Quando eu começo um novo
romance, eu procuro esquecer os que eu já escrevi e pensar somente nele e em
escrevê-lo da melhor maneira que eu puder. Desse modo, cada um dos romances
foi, a seu turno e a seu tempo, o melhor romance que eu pude escrever. Se os
leitores gostaram ou não, já é outra história. Mas acredito que eles gostaram,
uma vez que os romances, alguns deles com mais de uma edição, estão esgotados e
só podem ser encontrados atualmente em sebos. Todos eles serão dentro de pouco
tempo reeditados.
O que o leva a escrever?
Os motivos são vários
e variam ao longo do tempo, de livro para livro. Lembremo-nos que comecei a
escrever aos 13 anos, e, como já estou com 70, é mais de meio século de
estrada, ou, como gosto de dizer, mais de meio século esfolando a bunda na
cadeira. Basicamente, porém, eu diria que o que me leva a escrever é o desejo
de contar histórias, de criar personagens. Quando menino, por influência do cinema
e das revistas em quadrinhos, eu estava sempre inventando histórias com os meus
bonequinhos, histórias de cowboys, de piratas, de soldados... Começando a
escrever na adolescência, foi como se a literatura tivesse vindo para
substituir os brinquedos da infância. E como eu nunca mais parei de escrever e
continuo escrevendo até hoje, costumo dizer que a literatura é o meu brinquedo
de adulto.
Você Verá é seu novo
livro de contos, que será lançado este ano pela Editora Record, na Bienal do
Livro do Rio. Os contos são recentes ou mais antigos?
Meu livro de contos
anterior é A Cabeça, de 2002. Você Verá, minha sétima coletânea de
contos, reúne os contos que eu escrevi de lá para cá, ao longo destes dez anos.
São 11 contos. Alguns já foram publicados em jornais e revistas. Outros são
absolutamente inéditos. O conto menor tem duas páginas, o maior mais de 20. Os
tipos dos contos também variam: há contos em forma de monólogo, contos em forma
de diálogo, que é a minha característica mais comentada pela crítica, e outros
ainda em outras formas. Há contos trágicos, contos líricos e contos cômicos, e
ainda contos em que a tragédia, o lirismo e a comédia se misturam de maneira
inextrincável, como, aliás, acontece tantas vezes na vida.
E qual é o conto que você vai ler hoje à noite no
Ofício da Palavra?
O conto que eu vou ler
é o “Zoiuda”. É um conto pequeno, que abre o meu novo livro. Zoiuda é o nome
que o personagem, um rapaz solitário, numa cidade grande, dá a uma lagartixa
que aparece em seu apartamento e pela qual ele toma afeição. O conto saiu
primeiro no Mais!, da Folha de S. Paulo. Depois,
sucessivamente, ele foi incluído em quatro antologias, publicadas por
diferentes editoras: uma comum, com outros autores, outra didática, outra
paradidática e, por fim, uma só de contos meus. Ele circula também na internet.
Em 2004, na Flip, eu o li para o público e, modéstia à parte, fui muito
aplaudido. Espero que o mesmo aconteça hoje à noite, no Ofício da Palavra. Se
acontecer, ficaremos muito felizes: eu, o rapaz do conto, e, é claro, a
Zoiuda...
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