quinta-feira, 2 de junho de 2016

"O FIM DE TUDO", DE LUIZ VILELA

             Lançada pela Editora Record, a 2ª edição de O Fim de Tudo esgotou-se em pouco mais de um mês, fato raro na literatura brasileira atual. Uma nova edição, a 3ª , já está a caminho na editora.
            O livro, que ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de contos de 1973, está bombando na internet, entre os jovens. Reproduzimos abaixo os comentários de alguns deles em blogs e também um vlog.
            Reproduzimos ainda, a seguir, uma resenha de Marcos Losnak, publicada no jornal, on-line, Folha de Londrina.

          "Quase li o livro todo de uma assentada. Se por um lado eu não queria parar de ler, por outro, eu não queria que o livro acabasse." (Ademar Júnior, Cooltural). 

         "Você lê e não encontra um conto do qual não goste." (Pedro Silva, De Cara nas Letras). 

         "Lê-se com leveza e [o livro] o arrasta para uma maré de indagações sobre nossa existência." (Pedro Fernandes, In.Verso e Re.Verso). 

         "Sem dúvida,  uma obra riquíssima para quem aprecia o gênero, e um prato cheio para análises modernas." (Adriana Costa, Crônica Sem Eira).





13/04/2016

LEITURA - Um dia simples de um mundo complexo

Obra emblemática da literatura brasileira da década de 1970, "O Fim de Tudo", de Luiz Vilela, ganha segunda edição

Pauline Amaral/GPLV/Reprodução
Um dos maiores contistas brasileiros, escritor mineiro teve várias de suas histórias transformadas em filmes
Reprodução

Dois garotos na beira do rio. Um deles sabe nadar. O outro, mais novo, não. Deseja aprender, mas tem medo.
O mais velho decide colocar em prática o mesmo método que utilizou para aprender a nadar. A receita é quase mágica. Basta engolir uma piabinha viva e imediatamente pular na água batendo braços e pernas.
Os dois garotos vasculham a beira do rio em busca do peixinho e nada. Quando estão quase desistindo, conseguem apanhar uma piabinha. Rapidamente o menino coloca o peixinho vivo na boca. Engasga, mas consegue engolir. Rapidamente pula no rio. Bate pernas e braços e é levado pelas águas.
Esse enredo emblemático está em "Piabinha", conto do escritor mineiro Luiz Vilela que integra o livro "O Fim de Tudo". Publicada originalmente em 1973, a obra recebeu o Prêmio Jabuti de 1974. Semana passada a editora Record lançou a segunda edição da obra, que há muito tempo não era encontrada nem nos sebos.
A editora Record, a partir de 2014, deu início ao projeto de republicação das obras de Luiz Vilela. Já foram relançados os romances "Perdição" e "Bóris e Dóris", e lançado o inédito "Você Verá" (contos).
Há um bom tempo se tornou impossível falar do gênero conto na literatura brasileira sem falar de Luiz Vilela. É quase uma unanimidade considerá-lo um dos maiores contistas brasileiros. Há montanhas de teses acadêmicas sobre sua obra. Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, há até o Grupo de Pesquisa Luiz Vilela, dedicado exclusivamente ao estudo de sua literatura em mestrados e doutorados.
O poeta Carlos Drummond de Andrade considerava o conto "A Volta do Campeão", que integra "O Fim de Tudo", uma obra-prima da literatura brasileira. A narrativa retrata a trajetória de um velhinho que, após problemas de saúde, é empurrado para a aposentadoria. Vagando pelas praças do bairro onde reside, leva uma vida triste e sem nenhuma perspectiva. Até o dia em que encontra um grupo de meninos jogando bilocas (denominação mineira para bolinhas de gude). Assistindo ao jogo dos meninos entra em êxtase e também começa a jogar, lembrando-se dos velhos tempos de garoto, quando era um campeão de biloca.
Aos poucos uma batalha de biloca se instaura entra a molecada, com o velhinho se transformando num herói do jogo. Esse acontecimento altera sua disposição diante da vida, que passa a ter um novo sentido. O problema é que a família começa achar que o velhinho está batendo os pinos, fazendo papel de ridículo jogando biloca com a molecada. E fatalmente a família acaba destruindo sua nova disposição diante da vida.
A literatura de Luiz Vilela está pautada pela oralidade como reprodução da realidade. A estrutura narrativa sempre caminha pela limpidez e concisão, sem adjetivos ou firulas. Muitos o consideram um autêntico "mestre do diálogo", pela sua capacidade de criar diálogos exatos e sugestivos. Sua arte está em não explicar a história que narra, mas revelar as implicações que ela abarca e dimensiona.
Luiz Vilela nasceu em 1942, em Ituiutaba, interior de Minas Gerais. Formado em filosofia, publicou seu primeiro livro, "Tremor da Terra", com 24 anos de idade. Atuando como jornalista, viveu em várias capitais brasileiras e do exterior. Na década de 1990 voltou a residir em sua cidade natal, onde permanece até os dias de hoje. Autor de dezenas de livros, várias de suas histórias foram transformadas em filmes (longas e curtas). A adaptação mais conhecida é "Brava Gente", minissérie realiza pela TV Globo em 2001, baseada do conto "Tarde da Noite".
As histórias que integram "O Fim de Tudo" possuem a capacidade de encarar com simplicidade as complexidades do mundo. Já no inicio da década de 1970, Luiz Vilela abordava temas que seriam recorrentes décadas mais tarde. Engolir um peixe para nadar, apostar que um mendigo não consegue andar, perceber que a velhice pode se transformar num fardo, constatar que a poluição vai acabar com tudo, encarar a vida como uma profissão obsoleta, amar mais do que a hipocrisia consegue imaginar e outras coisas. Tudo isso num dia extremamente simples num mundo estranhamente complexo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário