sábado, 30 de abril de 2016

Episódio Orlando Sabino inspirou conto “O monstro”, de Luiz Vilela

       Entre março e abril de 1972, há 44 anos, uma série de assassinatos na região do Triângulo Mineiro ganhou as manchetes do país. Eis uma síntese do que ocorreu:

A imprensa de todo o país noticiou com destaques diários durante os meses de março a abril de 1972 sobre a existência de um criminoso sanguinário, que percorria a região do pontal do triângulo mineiro.
As vítimas eram abatidas com requintes de crueldade, através de armas de fogo ou de foice. Com a mesma violência o "Monstro do Triângulo" sacrificava igualmente animais das fazendas da região, difundindo o terror no seio das populações rurais. Os trabalhadores abandonaram suas lavouras, acarretando graves prejuízos de ordem social e econômica, ameaçando a própria sagra do período 71/72.
Após Exaustiva campanha militar que movimentou centenas de policiais de elite, especialmente formados em técnicas de guerrilha, auxiliados por cães amestrados e equipamentos modernos de intercomunicação, foi apresentado pela polícia, como o "monstro" um jovem de 25 anos, de cor negra, estatura baixa, compleição franzina, com sintomas de debilidade mental, identificado como Orlando Sabino. (In: http://scarparoclaudio.br.tripod.com/id22.html).

Orlando Sabino, preso
O episódio inspirou diversos escritores, entre eles Luiz Vilela, que escreveu um conto “O monstro”, inserido na coletânea O Fim de Tudo, lançada em 1973 (Prêmio Jabuti 1974), cuja 2ª. edição acaba de ser lançada pela Editora Record. O conto foi analisado em artigo de Pauliane Amaral e Rauer Ribeiro Rodrigues, do GPLV, disponível em < http://www.gelco2014.ueg.br/anais_gelco_2011.pdf > (p. 159-165). Os estudiosos tratam também de outros textos que abordam o tema, como a novela Drácula Tupiniquim, de Alciene Ribeiro Leite, e livros-reportagem sobre o episódio.

      Orlando Sabino foi um andarilho com problemas mentais, negro, sem familiares, sem trabalho, que viveu no Pontal do Triângulo Mineiro. Sua história é hoje reconhecida como um dos mais notáveis casos de mascaramento da recente e nada glamorosa história do país. Há fortes indícios de que Orlando Sabino foi preso pelos militares e acusado de ser o “monstro de Capinópolis” para ocultar uma operação anti-guerrilha na região, versão construída quando devido os vários assassinatos ocorridos em um curto espaço de tempo em sete cidades de Minas Gerais e Goiás e que espalharam pânico pela região.

Orlando Sabino, entre policiais que o prenderam
Para justificar a presença massiva de militares na região, que tinham o verdadeiro intuito de exterminar o exército guerrilheiro comandado por Carlos Marighella, espalhou-se a notícia de que haveria um “monstro” à solta na região do Pontal do Triângulo Mineiro cometendo esses crimes. Hoje, exames de perícia provam que algumas das supostas vítimas de Sabino foram assassinadas com armas de uso exclusivo dos militares. Depois de preso, Orlando Sabino ficou trinta e sete anos internado em uma instituição psiquiátrica judiciária em Barbacena (MG), sendo solto em 2011. Sabino faleceu em 2013, após sofrer um infarto, quando vivia em uma casa de repouso para deficientes mentais na mesma cidade.

A história do Monstro de Capinópolis serviu, além de inspiração para narrativas ficcionais de Luiz Vilela e Alciene Ribeiro Leite, de tema de livros e músicas, além de diversas reportagens. Destacam-se, nesta seara, as reflexões de Operação anti-guerrilha (1979), de Joaquim Borges, e o livro-reportagem O Monstro de Capinópolis (2011), de Pedro Popó. Em 2014 foi ao ar uma vídeo-reportagem produzida pelo canal SBT contando a história do “monstro de Capinópolis”. Entre as ficções que se inspiraram livremente na história de Orlando Sabino, temos Dinastia das Sombras (2006), de Carlos Alberto Luppi.

De maneira geral, podemos dizer que essas narrativas colocam em evidência os fatos que envolveram a prisão de Orlando Sabino, destacando diferentes elementos e produzindo diversos efeitos de sentido. Por exemplo, na novela de Alciene Ribeiro Leite ganha destaque a fissura que “o monstro” tinha por doces. Essa peculiaridade aproxima a personagem ficcional de seu modelo de carne e osso, pois, como ressaltada na reportagem do canal SBT, o vício pelos doces também era uma das características de Orlando Sabino.

Já a forma como a personagem do conto de Luiz Vilela é construída nos permite inferir que o suposto “monstro” possui deficiência mental, pois, quando capturado, não consegue elaborar respostas objetivas às perguntas feitas pelos policiais e repórteres que o interrogam. Essa limitação psíquica deixa evidente que o preso não possuía condições de se defender de quaisquer acusações. Vale ainda destacar que a narrativa de Luiz Vilela, além de evidenciar a atitude tendenciosa dos policiais, traz outra denúncia: a negligência da mídia que cobriu a prisão do criminoso e que endossa o discurso dos militares, tornando-se ao fim o “monstro” que dá título ao conto.

Abaixo, o Abstract do artigo de Pauliane e Rauer, com as referências, e links para mais informações sobre Orlando Sabino.


POINT OF VIEW AND FOCUS IN “O
MONSTRO”, BY LUIZ VILELA

ABSTRACT:
From the observation of autobiography aspect in Luiz Vilela’s works, our article investigates the transposition history/ficcion in the short story “O Monstro” (“The monster”, in free translation), from O fim de tudo (1973). This short story reworks a historical episode happened in 1972 during the military dictatorship. Then, were attributed to Orlando Sabino, a disturbed mental man, various crimes happened in place called Pontal from Triângulo Mineiro. In short story, Vilela recreates the moment that journalists e citizens wait to see the newly captured. The scenario of this short story is the police station where the accused is submitted to a press conference. The history from Sabino was examined in books like the non-ficcional Operação Anti-guerrilha (1979), by Joaquim Borges, O monstro de Capinópolis (2011), by Pedro Popó, the fiction Dinastia das Sombras, by Carlos Alberto Luppi, beyond the juveniles fiction Drácula Tupiniquim (1989), by Alciene Ribeiro Leite. Having this works like historical supports, the short story by Luiz Vilela and coming the study about the point of view and focus in the narrative, let’s compare to narrative from Alciene Ribeiro Leite, Drácula Tupiniquim, to expose the sense effects Vilela builds that recreate history in a fiction.

KEYWORDS: Autobiography. Fiction/history. Narrator.


REFERÊNCIAS:

AMARAL, Pauline; RODRIGUES, Rauer Ribeiro. Ponto de vista e focalização em "O monstro", de Luiz Vilela. II Encontro Regional do GELCO, agosto de 2011. Disponível em < http://www.gelco2014.ueg.br/anais_gelco_2011.pdf > (p. 159-165), acesso em 12 abr. 2016.

BORGES, J. Gabrielão Solé e outras histórias. Belo Horizonte: Inéditos, 1979.

BORGES, J. Operação Anti-guerrilha. Curitiba: Juruna, 1979, 90 p.

FRIEDMAN, N. “O ponto de vista na ficção – desenvolvimento de um conceito crítico”. Revista USP, São Paulo, n. 53, p. 166-182, mar.-maio 2002.

LEITE, L. C. M. O foco narrativo (ou A polêmica em torno da ilusão). São Paulo: Ática, 1985. 96 p. Série Princípios.

LEITE, A. R. Drácula Tupiniquim. Belo Horizonte: RHJ, 1989. 32 p.

LUPPI, C. A. Dinastia das sombras, O homem que matou Jesus Cristo. Rio de janeiro: Record, 2006. 359 p.

MACIEL, S. D; WIDER, M. R. de O. A questão autobiográfica em sala de aula: investigação em torno da obra de Luiz Vilela. In: GRÁCIA-RODRIGUES, K.; BELON, A. R.; RAUER [Rauer Ribeiro Rodrigues] (Orgs.). O universal & o regional. Campo Grande: UFMS, 2009. p. 163-176.

MAJADAS, W. de S. O Diálogo da Compaixão na obra de Luiz Vilela. 2. ed. Goiânia: Ed. PUCGO / Kelps, 2011.

MOISÉS, M. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 2004. 526 p.

POPÓ, P. O monstro de Capinópolis. Uberlândia, MG: Edição do autor, 2011. 100 p.

RAUER [Rauer Ribeiro Rodrigues]. Faces do conto de Luiz Vilela. Araraquara, SP, 2006. 2 volumes. Tese (Doutorado - Estudos Literários) - FCL-Ar, UNESP. Orientador: Luiz Gonzaga Marchezan.

REIS, C.; LOPES, A. C. M. Dicionário de teoria narrativa. São Paulo: Ática, 1988. 327 p.

REIS, C. O conhecimento da literatura. Introdução aos estudos literários. Coimbra: Almedina, 1999.

VILELA, L. O monstro. In: ______. O Fim de Tudo. Belo Horizonte: Liberdade, 1973. p. 91- 101. Conto. 2. ed., Rio de Janeiro: Record, 2016.



Sobre Orlando Sabino:






quarta-feira, 20 de abril de 2016

EM 20 DE ABRIL DE 1967 ERA LANÇADO O "TREMOR DE TERRA"

       Em 20 de abril de 1967 Luiz Vilela, aos 24 anos, lançava em Belo Horizonte, na Livraria do Estudante, seu primeiro livro, de contos, Tremor de Terra. Publicado à custa do autor, pela "grafiquinha", em modesta edição de apenas mil exemplares, o livro trazia capa de Márcio Sampaio e apresentação de Laís Corrêa de Araújo. Enviado a um concurso literário em Brasília, Tremor ganhou então o Prêmio Nacional de Ficção, o maior prêmio literário da época, tornando Luiz Vilela conhecido em todo o Brasil. Atualmente esgotado e só podendo ser encontrado em sebos, Tremor de Terra  terá em 2017, quando completa 50 anos, uma nova edição, a 10ª, publicada pela Editora Record.
Veja mais informações sobre o lançamento aqui.

sábado, 9 de abril de 2016

LUIZ VILELA: 60 ANOS DE LITERATURA

           No dia 9 de abril de 1956, Luiz Vilela, então com 13 anos, publicava pela primeira vez. Era o início de uma carreira literária, que, de forma ininterrupta, chega hoje aos 60 anos.
           "A boa leitura", um pequeno artigo, saiu no jornal A Voz dos Estudantes, que Vilela ajudou a criar, em Ituiutaba. O jornal trazia também, dele, ao lado do título, uma quadra patriótica, e dentro uma coluna sobre filatelia, hobby que ele então cultivava, saindo mais duas colunas nos dois números seguintes e últimos do jornal.
           Em 1957, aos 14 anos, Vilela publicou pela primeira vez um conto, "Escola de roça", num dos jornais da cidade, o Correio do Pontal, e pouco depois, no mesmo jornal, um artigo, "Reformar e revigorar a nossa política". Ele publicou ainda, no jornal de um centro cultural de jovens, O Comando, outro conto, "O mendigo".
          Em 1958, aos 15 anos, estudando em Belo Horizonte, Vilela passou a mandar semanalmente para o jornal Folha de Ituiutaba uma crônica, colaboração que se estendeu até o ano seguinte, num total de onze crônicas.
         Em 1959, aos 16 anos, também na Folha de Ituiutaba, ele publicou dois contos, "Um caso sem importância" e "Chofer de lotação", e em outro jornal, oCorreio do Triângulo, um poema, "Negro Cristóvão".
        Foram essas três as suas últimas publicações em jornais de Ituiutaba.
        Reproduzimos a seguir o artigo "A boa leitura", relevando seus erros de português, decorrentes de uma precária revisão, e destacando uma frase que, lida hoje, soa profética: "Felizes os que amam a leitura, pois serão eles os escritores de amanhã."
        Completando a matéria, reproduzimos também uma foto de Luiz Vilela aos 13 anos, tirada na fazenda de seu pai.


terça-feira, 5 de abril de 2016

ESTREIA DE PEÇA BASEADA EM CONTOS DE LUIZ VILELA


No dia 07 de abril, o grupo Tábula Rasa estreará Chuva de Luiz Vilela, peça teatral constituída de cinco esquetes adaptados de contos do escritor mineiro.
A primeira temporada acontecerá no Teatro Cândido Mendes, Ipanema-RJ, de 07 de abril a 26 de maio, às quartas e quintas.



Mais informações pelo site:

Ou Facebook:

domingo, 3 de abril de 2016

ATA DA REUNIÃO DO GPLV


 Ata da Reunião do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela, GPLV, em 02 de abril de 2016, na UFMS, Câmpus de Três Lagoas. A co-coordenadora do GPLV, professora Eunice Prudenciano de Souza, abriu a reunião, às 8:00h, agradecendo aos presentes e informando que Angela Nubiato Lopes justificou a ausência. Na sequência, foram compartilhadas as informações sobre a organização do 6º Seminário do Grupo de Pesquisa Luiz Vilela e 1º Seminário de Linguística que ocorrerão juntos, de modo simultâneo, na UFMS/CPAQ, nos dias 18 e 19 de abril do presente ano. Também se falou sobre as defesas de TCC’s, que acontecerão no dia 20 de abril no Câmpus do Pantanal, das quais alguns membros do GPLV farão parte da Banca.  Posteriormente, houve a discussão de "Pai contra mãe” (1906), de Machado de Assis, A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, e Te amo sobre todas as coisas (1994), de Luiz Vilela. Como aporte teórico, foram utilizados A personagem do romance, de Antonio Cândido & outros e “O ponto de vista”, de Norman Friedman, entre demais estudos no âmbito do narrador e autoria. Nada havendo mais a tratar, os presentes assinaram a Ata. Eunice Prudenciano de Souza. Igor Iuri Dimitri Nakamura. Luciene Lemos de Campos. Maria do Socorro Pereira Soares. Natália Tano Portela. Rauer Ribeiro Rodrigues. Rodrigo Pereira Andrade.  

Abaixo, alguns momentos da reunião: