quarta-feira, 28 de outubro de 2015

LUIZ VILELA AOS 22 ANOS: RESPOSTAS A UM QUESTIONÁRIO

      Em 1965, há 50 anos, portanto, os alunos do Curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas Gerais (U.M.G.), atual Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), elaboraram um questionário sobre literatura, que foi enviado a alguns nomes de relevo no universo cultural de Belo Horizonte, em especial os ligados à área acadêmica, nesta incluída a própria faculdade.
     Primeiro da lista, Luiz Vilela, então com 22 anos, era também o mais novo dela. Formado em Filosofia no ano anterior pela mesma faculdade, ele nela trabalhava como secretário do Departamento de Filosofia. A dois anos de publicar seu primeiro livro, o Tremor de Terra, que ganharia em Brasília o Prêmio Nacional de Ficção e o tornaria conhecido em todo o Brasil, Vilela já era relativamente conhecido nos meios literários da capital por haver publicado alguns contos em jornais.
       Com algumas pequenas correções por ele feitas em suas respostas, aqui encaixadas nas perguntas (a última pergunta não foi respondida), o questionário, que nunca passara do âmbito acadêmico, é agora, nesta Revista Digital Luiz Vilela, pela primeira vez publicado.
       Para os estudiosos da obra de Vilela ou simples leitores, esse questionário se reveste de extraordinária importância por revelar os conhecimentos que o jovem escritor tinha então da literatura brasileira e da literatura estrangeira, bem como os seus pontos de vista sobre a literatura em geral.
       Informamos que o questionário fará parte de um livro, a ser futuramente publicado, livro que reunirá todas as entrevistas e depoimentos dados por Luiz Vilela ao longo de sua trajetória.      
    Antes de passarmos às perguntas e respostas, reproduzimos abaixo, em fac-símile, os originais do questionário e também uma foto do escritor, do mesmo ano.





1. Quais são, a seu ver, as mais marcantes características estilísticas da prosa de ficção brasileira contemporânea?
A prosa de ficção brasileira contemporânea se caracteriza principalmente pelo artesanato  -  a criação estudada e trabalhada de um estilo, em oposição à simples espontaneidade, ao narrar despreocupado. Desse ponto de vista ela é, portanto, uma literatura problemática, uma literatura que coloca em questão os seus instrumentos. Fala-se aqui da ficção mais avançada: Clarice Lispector, Guimarães Rosa e outros.

2. E quais são as mais fortes influências estilísticas estrangeiras que se fazem sentir atualmente nesse setor?
A nossa ficção, que, depois do impulso modernista de 22, ganhou uma feição nacional mais firme e nítida, chegou, em nossos dias, a uma sólida autonomia com relação a influências estrangeiras, de tal modo que se torna difícil apontar essa ou aquela influência. Podemos dizer que as influências são as mesmas  que se encontram diluídas por toda a literatura ocidental contemporânea: Kafka, Proust, Joyce, Sartre, Camus, Hemingway, Faulkner, Dos Passos, Thomas Mann, Virginia Woolf, D. H. Lawrence, Henry Miller. E, mais modernamente, o nouveau roman e a literatura norte-americana da geração posterior à lost generation: Truman Capote, J. D. Salinger, Norman Mailer, Carson McCullers.

3. Até que ponto a prosa brasileira de ficção é hoje caracteristicamente nacional, do ponto de vista estilístico?
Ela é caracteristicamente nacional no sentido de que conseguiu elaborar um estilo expressivo do sentir e do pensar nacionais, estilo que é uma síntese da linguagem cotidiana e da linguagem culta.

4. De modo geral, como definiria você a orientação ideológica (política, filosófica) da prosa de ficção brasileira?
A ficção brasileira hoje ou é, continuando a tradição do romance realista, o "retrato da sociedade", ou então, nos vanguardistas, uma experimentação com linguagem  -  palavras e sintaxe. Claro que se trata aqui de ênfase, pois nem o problema da linguagem deixa de estar presente nos primeiros, nem o "retrato" nos segundos. Nuns e noutros, contudo, é difícil apontar um aspecto ideológico  - político, filosófico  -  dominante. Digamos que a nossa ficção limita-se a expressar e a colocar em questão a sociedade em que ela nasceu e vive, sem tomar uma posição ideológica definida. Mas não é essa, e sempre foi, a característica da grande arte, que se alimenta mais de questões que de respostas?

5. Conhece alguma contracorrente ideológica de importância?

6. Quais são as mais fortes influências externas que se fazem sentir atualmente, desse ponto de vista?

Perguntas 5 e 6 implicitamente respondidas na resposta à pergunta 4.

7. Acha que a prosa de ficção tem influído decisivamente na formação ideológica do povo?
Qualquer tipo de literatura, de qualquer qualidade, tem influência decisiva na formação ideológica de um povo. Definir essa influência, explicá-la, julgá-la, cabe ao sociólogo, ao historiador; o artista, se é verdadeiro artista, está bastante ocupado com realizar sua obra.

8. Existe algum aspecto importante do assunto que tenha sido omitido e que você deseja registrar?



 


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