LUIZ VILELA E CLARICE LISPECTOR
No dia 10 de dezembro último,
Clarice Lispector, que morreu há 35 anos, faria 93 anos. A data foi lembrada e
a escritora homenageada nas principais cidades do país com palestras, amostras
e publicações promovidas por várias instituições, dentro da programação Hora de
Clarice, que aconteceu pelo segundo ano consecutivo.
Em 1973, Luiz Vilela, que não chegou
a conhecer pessoalmente a escritora, dela recebeu o telegrama que estampamos
abaixo. Numa entrevista a Giovanni Ricciardi, em 2007, “Eu escrevo porque gosto
de escrever”, Vilela conta como isso aconteceu:
“Em 72, quando saiu a 3.ª edição do Tremor
de Terra, eu tinha à disposição alguns exemplares, e como não havia mais
necessidade de enviá-los à crítica, resolvi enviá-los a alguns dos ilustres
nomes de nossas letras. Era uma espécie de teste: eu queria ver quem me
responderia e quem não responderia. Só um escritor respondeu: Clarice
Lispector. Só Clarice, com toda a sua fama de fechada, de estranha, de
distante, teve esse gesto de delicadeza. Ela o fez por meio de um telegrama,
que guardo com carinho e que na ocasião me deixou muito feliz: ‘Obrigada livro
ótimo. Peço escrever-me.’ Aí veio para mim o segundo capítulo da história:
‘Escrever?’, pensei, ‘escrever a Clarice Lispector? Mas o que eu vou dizer a
ela?’ Eu tinha, e continuo a ter, pela escritora uma grande admiração, mas era
aí mesmo que estava o problema: o que eu ia dizer a uma pessoa que eu admirava
tanto e com a qual nunca tivera, até então, nenhum contato? Fiquei nessa
indecisão por muitos dias, e acabei não escrevendo. O tempo passou, os anos se
passaram, e um dia, ao abrir o jornal, dou com a notícia da morte dela,
prematura. Então me lembrei do telegrama e da minha indecisão, e pensei: ‘Eu
devia ter escrito...’ Assim somos nós...”
Na rara palestra que, a convite,
Clarice deu em um congresso na Universidade do Texas, em 1963, intitulada
“Literatura de vanguarda no Brasil” — palestra que ela daria também, depois,
com alguns acréscimos, em cidades brasileiras e que foi incluída no seu livro
póstumo Outros Escritos (Rocco, 2005) —, ela diz que “a vanguarda de
1922 continuou frutificando” e cita a seguir, como exemplo, alguns autores,
entre os quais Luiz Vilela.
Em 1967, quando Vilela publicou o Tremor
de Terra e com ele ganhou, em Brasília, o Prêmio Nacional de Ficção, o Diário
de Minas, de 22 de abril, dando a notícia, dizia sobre o autor: “Atualmente
é secretário do Departamento de Filosofia, da Faculdade de Filosofia da UFMG, e
está inscrito no curso de doutorado da mesma faculdade, preparando tese sobre a
escritora Clarice Lispector.”
A segunda
informação é só em parte verdadeira: é que para a efetivação no cargo que
passou a ocupar depois de formado no Curso de Filosofia, Luiz Vilela teve de se
inscrever no “Doutoramento”, o que implicava na realização de exames iniciais e
na futura apresentação de um trabalho acadêmico equivalente a uma tese, quando
ele então escolheu como tema a obra de Clarice Lispector. No início de 1968, sob a alegação de
“contenção de verbas”, um grupo de professores da Faculdade foi demitido. Ainda
que não desse aulas, Vilela estava entre eles. E, assim, o projeto sobre
Clarice foi abandonado, sem ter sido sequer começado.
Logo depois da demissão, convidado para trabalhar no Jornal
da Tarde, Luiz Vilela mudou-se para São Paulo.
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