Faltava um estudo alentado sobre o caráter autobiográfico da ficção de Luiz Vilela, aspecto entre os mais evocados pela fortuna crítica do escritor. Não falta mais. A partir da concepção de que há, nos romances do escritor mineiro uma "linha direta homem-autor-narrador", Pauliane Amaral defendeu, no dia 4 de abril, a tese O romance autobiográfico de Luiz Vilela.
Eis o resumo que consta na tese:
O objetivo principal deste trabalho é o estudo dos aspectos autobiográficos da obra de Luiz Vilela tendo por objeto os cinco romances publicados pelo autor até o momento, nos quais localizamos possíveis alter-egos que se identificam quanto a sua visão de mundo e apresentam trajetória que encontra correspondência no percurso biográfico do próprio autor. Para isso, nos valemos das contribuições teóricas de estudiosos que refletem sobre os limites entre a experiência de vida e a ficção, a exemplo de Philippe Lejeune, Paul DeMan, Georges Gusdorf e Michel Foucault, sempre tendo em nosso horizonte a distinção entre autor real e autor implícito apresentada por Wayne C. Booth e as reflexões sobre o autor e o herói feitas por Mikhail Bakhtin. Nossa tese é de que o romance autobiográfico de Luiz Vilela, indo na contramão da tendência contemporânea do gênero, aponta para uma leitura disfórica e distópica do mundo. A gênese dessa visão distópica e disfórica do autor-criador encontra-se no perfil dos alter-egos Nei, Edgar, Ezequiel/Marcos, Epifânio e Ramon, homens brancos, doutos, filhos da classe média, que veem o mundo com um distanciamento crítico e niilista.Verificamos, ainda, que o iluminismo dos alter-egos não alcança o autor-criador e que a visão de mundo das obras desbordam misoginia e patriarcalismo.Palavras-chave: Literatura Brasileira Contemporânea; Ficção Autobiográfica; Alter-Ego; Autor-Criador; Autor Implícito.
Pauliane Amaral integra o Grupo de Pesquisa Literatura e Vida desde sua fundação, em 2011, e defendeu, em 2013, a dissertação A função-autor no roman à clef: um estudo sobre personagem e narrador em O inferno é aqui mesmo, de Luiz Vilela. Ambos os trabalhos tiveram por orientador o líder do GPLV, Prof. Rauer Ribeiro Rodrigues.
A tese é dividida em duas grandes partes: uma teórica, que estuda detida e profundamente as teorias que abordam as questões da autobiografia nas mais diversas tendências e nomenclaturas, e outra que faz escrutínio detalhado e acurado dos cinco romances de Luiz Vilela publicados até o momento. Para Pauliane, "o pessimismo não só marca a visão de mundo do autor-criador Luiz Vilela, mas também o distingue de grande parte da literatura autobiográfica contemporânea, que aponta para a superação do trauma e a crença em dias melhores".
Com tal proposição, tendo por metodologia a "análise dos alter-egos presentes nessas narrativas", a tese define "uma imagem do autor-criador Luiz Vilela" e conclui que a "disforia distópica", nos cinco primeiros romances do escritor, "se une a cosmovisão patriarcal e misógina".
A banca que aprovou o trabalho, formada pelos Profs. Drs. Alfredo Ricardo Silva Lopes, Edwaldo Costa, Marlene Durigan, Paulo Bungart e Rauer Ribeiro Rodrigues (presidente), recomendou a publicação em livro da tese, detalhando que o estudo contém dois trabalhos: um com a apresentação das teorias do autobiográfico e outro com o estudo do romancista Luiz Vilela. Pauliane informou que pretende ampliar o quadro teórico da primeira parte e incluir a análise de contos e novelas na segunda parte, publicando os dois livros nos próximos anos.
A tese O romance autobiográfico de Luiz Vilela está disponível para baixar aqui. Boa leitura!